No passado domingo, a WWE apresentou, na forma do Backlash, um evento sólido e consistente que superou as minhas expetativas pessoais. Apesar de não contar com todos os seus melhores elementos, a equipa B da WWE exibiu a sua energia, dedicação e trabalho. O evento foi, acima de tudo, marcado pela imagem acima.
AJ Styles como campeão da WWE era algo com o qual tinha simplesmente deixado de sonhar no momento em que ouvi fãs mais experientes a compará-lo a Sting na sua relutância de tentar a sua sorte na WWE. Isto deu-se em 2009. Desde então, muita coisa mudou. A WWE tornou-se mais recetiva à contratação de estrelas que não tinham a imagem considerada ideal e AJ passou dois anos a dar que falar no circuito independente como membro dos Bullet Club e a protagonizar combates fantásticos por onde passava.
Este voltou a provar que conseguia ser fenomenal em qualquer lado e, desta vez, a WWE prestou atenção. O sonho de o ver com o título da WWE tornou-se, portanto, realidade há poucos dias dando força ao famoso ditado que a indústria frequentemente emprega: The cream rises to the top.
No Backlash, a WWE conseguiu tomar a decisão certa no momento certo, algo que costuma falhar com frequência. Por vezes vemos a companhia a demorar investir numa certa estrela que se tornou popular, o que acaba por prejudicá-la, ou vemos uma decisão de tornar alguém herói/vilão ser tomada cedo ou tarde demais. O timing é um aspeto fundamental do booking e algo que não é fácil de compreender ou controlar. No Backlash, a WWE tomou a decisão certa no momento ideal.
De um lado tínhamos AJ Styles, um dos candidatos mais fortes ao Slammy de estrela do ano. Styles entrou na WWE pela porta grande, tornando-se num dos principais tópicos de conversa durante o primeiro mês do ano. Os meses que se seguiram foram um pouco mais tremidos, mas sempre pautados com excelentes combates com os mais variados adversários. Apesar de nunca ter deixado de deslumbrar como lutador, AJ começou a brilhar mais depois da WrestleMania nos combates com Roman Reigns, onde fez trinta por uma linha para que Reigns brilhasse.
Essa é uma das características principais de Styles como lutador – este brilha ao fazer os outros brilhar. Sim, AJ perdeu os dois combates, mas não saiu mal na fotografia e a sua prestação apenas o ajudou. Disse na altura e repito – as duas derrotas contra Roman Reigns em combates fantásticos fizeram mais por AJ Styles do que andar a ter vitórias à vez com Chris Jericho.
Isto veio provar mais uma vez que a fórmula a que a WWE se agarrou para manter todos ao mesmo nível, não só não faz qualquer sentido como é um completo fracasso quando aplicada em demasia. Por isso, é raro vê-la beneficiar um talento nos dias de hoje.
Foi através de combates de grande qualidade que Styles alimentou a sua popularidade junto dos fãs da WWE. A sua popularidade é de tal forma notória que nos força a questionar a decisão da WWE de o tornar num vilão. Por um lado, como vilão Styles pode ser o número 1 do SmackDown, enquanto como herói ficaria sempre atrás de John Cena e, possivelmente, Randy Orton. Mas por outro, não deixa de ser contraintuitivo ver alguém tão popular e com o potencial de se tornar ainda mais tornar-se num vilão. Embora existam motivos plausíveis para o fazer e embora este consiga fazê-lo com sucesso, os fãs estão tão habituados a ver a WWE a fazer exatamente o oposto do que parece natural que, a certa altuta, mais parece perseguição. A situação de Styles é apenas mais lenha para essa particular fogueira.
O ano de Styles continuou com a tão esperada rivalidade com John Cena que resultou em mais dois combates candidatos ao mérito de combate do ano. O segundo confronto ocorreu com toda a pompa e circunstância no SummerSlam e Styles venceu de forma limpa, algo que apesar de estar a acontecer com mais frequência ainda é especial.
E para continuar a ser especial, tal precisa de ser seguido de forma inteligente. No ano passado, Kevin Owens venceu John Cena de forma limpa, mas tal glória só durou duas semanas. Duas semanas foi o tempo que a WWE aguentou até dar a John Cena a sua vitória e empatar o resultado. A desforra chegou a ser anunciada no mesmo evento que a vitória de Owens, deixando bem claro aos fãs que a celebração tinha data para terminar. No mês seguinte John Cena derrotou Owens e, no SummerSlam, os dois já estavam em rivalidades diferentes.
O que aconteceu com Owens é exemplo do que não se deve fazer depois de uma vitória tão importante. O que aconteceu com AJ Styles foi exatamente o oposto. Este venceu John Cena duas vezes, uma delas limpa, e conquistou o título da WWE logo de seguida, consolidando a sua posição como estrela principal do SmackDown. Era o que tinha de acontecer depois de monumental vitória e, desta vez, a WWE não fraquejou.
E, caso este não se lesione ou surja alternativa melhor, Styles deveria ser campeão até à WrestleMania, sempre protagonizando combates espetaculares pelo caminho. No grande evento, Styles deveria perder para uma estrela em ascensão ou John Cena, a alternativa mais provável. Se o seu reinado for forte, não deverá prejudicar Styles perder para John Cena na WrestleMania e assim, o líder da Cenation pode celebrar a sua décima-sexta vitória por um título principal no grande evento.
Não nos podemos iludir, no entanto. É bastante óbvio que a carreira de Styles apenas está a seguir esta trajetória porque este está no SmackDown e o mesmo não é prioritário. Acredito que a situação fosse diferente no Raw se, em vez de Ambrose, Styles estivesse a lutar por atenção com Roman Reigns ou Seth Rollins. E a verdade é que, com trinta e nove anos, nem se pode dizer que era no Raw que Styles deveria estar. Não digo que, se estivesse no Raw, não venceria o título, mas certamente não seria tão rápido. Esta é uma das consequências da divisão do plantel. Como o Raw é a equipa A, onde tudo o que é prioritário se encontra, o mesmo se aplica aos títulos.
O que Styles tem nos ombros é um mero prémio de consolação. Um prémio que irá tentar usar para criar rivalidades e combates fantásticos, mas ainda assim um prémio de consolação. Mesmo assim, uma vitória limpa contra Cena já Styles conquistou e isso costuma ser mais complicado de obter que um título, seja ele de consolação ou não.
Ora, mas não foi apenas Styles a beneficiar do resultado. A verdade é que Dean Ambrose precisava tanto de perder quanto AJ Styles precisava de vencer. É irónico, porque os dois seguiram caminhos completamente diferentes este ano. Enquanto AJ teve uns primeiros meses mas tremidos, onde parecia que estava condenado à mesma fórmula básica e destrutiva de sempre, Dean Ambrose esteve no topo do mundo.
Durante os primeiros meses de 2016, Dean Ambrose foi o herói principal da companhia, não só porque os fãs o preferiam, mas porque a companhia o posicionou dessa forma. A WWE fez isto por duas razões: primeiro, Reigns ausentou-se durante várias semanas devido a uma operação ao nariz e, segundo, porque a companhia acreditava que os fãs iriam apoiar Reigns se este vingasse as derrotas sofridas pelo amigo.
O problema é que os fãs mostraram em várias ocasiões que não queriam ver Ambrose como ator secundário e sim como principal, algo que a companhia prontamente ignorou porque o seu interesse residia no moreno alto e musculado de cabelos compridos que tinha um primo conhecido.
Ao longo dos últimos dois anos, a WWE teve várias amostras do apoio fervoroso a Dean Ambrose. Quando este, inicialmente, rivalizou com Seth Rollins, quando este roubou o título a Rollins um ano mais tarde e durante toda a época de WrestleMania 32, antes da derrota para Triple H, são apenas alguns exemplos. A popularidade de Ambrose nesses momentos foi óbvia e o potencial que este tinha como heroi principal era ilimitado, mas a recusa da WWE em apostar em alguém que não fosse a versão errada de Roman Reigns foi a sua ruína.
A derrota desnecessária para Triple H seguida tão de perto pela derrota simples e rápida contra Brock Lesnar na WrestleMania foram os últimos pregos no caixão de Dean Ambrose como herói. No espaço de poucos meses, Ambrose desafiou dois monstros da indústria enquanto estes se riam na sua cara e os fãs davam o seu apoio, apenas para perder, sem sequer conquistar o respeito deles. Não havia credibilidade que sobrevivesse a golpes tão duros.
Como se isso não bastasse, Ambrose rivalizou de seguida com Jericho por causa de uma planta e os dois protagonizaram um combate terrivelmente longo e aborrecido. Ambrose tinha uma hipótese de sobreviver a tanto disparate se andasse a produzir ou envolvido em combates de qualidade. Como tal não foi o caso, era apenas uma questão de tempo até os fãs se virarem contra ele.
Ambrose tornou-se campeão na pior fase da sua carreira na WWE. Este venceu Roman Reigns e Seth Rollins para o conseguir. Vitórias que deveriam ter significado tudo, mas que foram um puro desperdício. A ovação da sua vitória nem se comparou a ovações que este recebeu no passado, incluindo o momento em que roubou o título a Rollins no ano anterior. Uma falsa vitória, um ano antes, foi mais celebrada que uma verdadeira vitória este ano. Se isso não deixa bem clara a queda Dean Ambrose em desgraça, então não sei o que deixará.
Ambrose nunca pareceu ser um campeão a sério, mesmo com o título em ombros. As piadas baratas que há um ano ou dois o tornavam o mais porreiro da WWE, agora prejudicam-no, porque este ainda não mostrou, por incapacidade sua, da WWE ou de ambos, ser capaz de mais. A escolha para seu primeiro adversário (Dolph Ziggler) não ajudou e o combate que os dois tiveram no SummerSlam muito menos.
A verdade é que era preciso muito trabalho e uma boa dose de milagres para contrariar todos os disparates que tinham sido cometidos com Dean Ambrose. As rivalidades com Chris Jericho e Dolph Zigglee, assim como a qualidade dos respetivos combates, foram gotas que apenas vieram transbordar um copo que há muito estava cheio.
Era preciso muito para este se tornar naquilo que várias vezes mostrou ter potencial para ser. Esse muito não apareceu e o inevitável aconteceu. Quando enfrentou AJ Styles, Dean Ambrose foi apupado pelos fãs. Os fãs não iriam aceitar outro resultado que não uma vitória de Styles, algo que se deverá repetir no No Mercy. E apesar de Styles ser o suposto vilão, não há como culpar os fãs pela sua atitude.
Ao mudar de campeão, a WWE preservou o ímpeto que a vitória contra Cena tinha dado a Styles e protegeu Ambrose de ser ainda mais vaiado pelos fãs. Foi uma decisão oportuna que beneficiou os dois.
Relativamente ao futuro, não me restam muitas dúvidas. AJ deverá continuar como campeão, somando vitórias e combates impressionantes até surgir a altura certa do derrotar. Já Ambrose, tal como o seu amigo Roman Reigns, precisa desesperadamente de se tornar vilão e tentar ser o melhor vilão que pode ser. Sem truques, manhas ou tentativas de ser um vilão porreiro.
Está na hora de Ambrose, por outras palavras, partir a loiça toda. Isto para reter uma mísera hipótese de ainda ser um main eventer, porque atualmente este não passa mesmo do midcard.
Enfim, desejo uma excelente semana a todos e até à próxima edição!
7 Comentários
Bem José, fico com muita pena porque este era talvez o meu espaço preferido do site e que me lembro de acompanhar há muito tempo.
Desejo te a melhor sorte em tudo e que consigas desfrutar melhor este bom momento da WWE.
Por fim obrigado pelos bons debates que sempre tive contigo e pelos teus artigos que eram sempre fantásticos.
Um abraço.
Erraste no post.
Bem, vamos lá apimentar um pouco o debate.
” Isto para reter uma mísera hipótese de ainda ser um main eventer, porque atualmente este não passa mesmo do midcard.” O resto do texto tem partes que concordo, outras nem tanto, mas esta frase final, na minha opinião, é um tremendo exagero e passo a (tentar) explicar o porquê.
Deixemos de lado as percepções, e muitas vezes as ovações são uma questão de percepção, e analisemos os factos. Em 2016, o Ambrose ficou no top 2 do Royal Rumble Match, no FastLane lutou no main event, e na WM enfrentou a maior estrela da atualidade (embora o combate tenha sido uma porcaria). Dizes, e bem, que nestes meses o Ambrose foi o principal herói da companhia. De acordo, mas será que o seu posicionamento no card alterou nos meses seguintes?
No Extreme Rules e no Payback, venceu o Jericho. Olho para o card de ambos os PPV’s e, sinceramente, diria que, em termos de star power, o Ambrose esteve no segundo combate mais importante da noite. Ok, não é main event, mas acho justo afirmar-se que foi uma rivalidade acima do mid card.
Depois tens o MITB, onde ele venceu a mala e tornou-se campeão. Foi, obviamente, a figura da noite. Nos 3 PPV’s seguintes, esteve envolvido nos combates pelo Título. Ou seja, nos primeiros meses de 2016, não lutava pelo Título mas, segundo a tua opinião, era o “principal herói”. Nos meses seguintes, mesmo tendo sido menos apoiado pelo público, esteve constantemente envolvido em combates pelo Título e, segundo essa mesma visão, desceu ao mid card.
Pá, eu também acho que o Dean já foi mais interessante, embora não esteja tão mal como leio, mas daí a dizer-se que ele está no mid card vai uma distância MUITO grande. Ainda assim, um bom artigo com muito “sumo” para se discutir. Parabéns! 🙂
Discordo em alguns aspetos:
Virar Aj Styles heel foi a melhor coisa que a wwe fez com ele. Como face era apenas aquele gajo sem assunto nenhum que parte a loiça toda dentro do ringue. Como heel ele está sobervo e mudou completamente a minha opiniao sobre ele. Como face ele só era apoiado por ter uma musica porreira e por tudo o que havia feito fora da wwe nao pelo personagem que estava a desempenhar na empresa. Agora ele é um lutador extremamente completo com uma das melhores gimmicks da atualidade. Um sucesso. E na geraçao atual nao significa nada ser vilao ou heroi quer se goste ou nao. O publico apoia viloes e vaia herois se assim o achar e nada poderá mudar isso.
Em relação a Dean Ambrose muito sinceramente a wwe nunca me transmitiu a sensação de que ele era realmente um main-eventer. Em primeiro lugar nem Seth Rollins nem Roman Reigns foram apresentados de forma tao pouco credivel em toda a sua carreira como ambrose foi durante mais de um ano. Seth Rollins e Reigns estiverem quase sempre associados ao topo, a grandes vitorias e conquistas e andaram nas bocas do mundo. Ambrose nao. Sempre andou perdido no midcard a bater naqueles em quem todos batem e a perder para nomes mais crediveis que ele. Como se isto nao bastasse a wwe continuou a insistir em roman reigns que nao resultava quando toda a gente queria Dean Ambrose. Tarde se aperceberam e decidiram apostar nele quando a credibilidade para o fazer ja nao era mais a mesma o que resultou num apoio menor mais da parte dos fanaticos de ambrose do que propriamente do universo da wwe em geral. As vitorias sobre reigns e rollins em ppvs menos importantes nada significam comparadas com vitorias no combate royal rumble ou com cash ins em pleno main-event da wrestlemania. Alem disso Ambrose nao foi minimamente protegido quando perdeu para HHH (num combate que nem deveria ter acontecido!) e Brock Lesnar. Como podemos levar a serio um wrestler apresentado desta forma como campeao mundial? E a situação piora quando o mandam assumidamente para a equipa B para ser o seu campeao. A imagem que passaram pelo menos para mim foi a do descartavel, daquele que nao interessa tanto nem é prioridade do secundario que está ali porque não é um real projeto da empresa para o que realmente importa. Coloca-lo a vencer chris jericho pouco valor tem aliás quantos outros o fizeram no passado e nao chegaram a lado nenhum? Sei que a situação do smackdown é muito mais complexa que dean ambrose e que os problemas da brand azul sao muito superiores a isso e penso que apenas mudanças a esse nivel poderiam melhorar um pouco mais a situação dos seus atletas e eleva-los ao nivel da brand vermelha. No entanto em termos de qualidade pelo menos para mim a smackdown é melhor ate porque dos dois é o unico show que vejo em direto e semanalmente no entanto está muito longe de ser o mais popular e o mais importante para os diretivos da wwe.
Excelente artigo. Realmente foi um grande acerto AJ como campeão e espero que tenha um longo reinado
Foi um grande acerto Aj campeão, e torná-lo heel foi um acerto maior ainda. Smackdown Live está sendo bem mais legal de assistir graças a seu personagem, ele é a graça da divisão masculina, Dean está sendo ofuscado por ele.
Por mim ele só perderia esse título para o Samoa Joe (caso vá para o Smackdown Live, oque eu espero muito que aconteça), e quem sabe não veremos um face turn nos próximos meses (ou no próximo ano) para essa rivalidade acontecer?
Salgado, volto a dizer aquilo que ja disse no ultimo artigo do José.
Devias responder aqui aos comentarios do pessoal. Ha aqui pessoal que se esforca para fazer criticas construtivas e para continuar o debate de um tema.