Mais um ano começou e, na WWE, isso significa que estamos a aproximar-nos a passos largos do maior evento do ano. Como tem sido cada vez mais frequente ao longo dos últimos anos, o início de um novo ano marca também o regresso de várias estrelas e o main event da WWE é reconfigurado de forma a que todas façam parte do grande evento, o que leva a que muitas das estrelas que tiveram muito destaque ao longo dos últimos meses passem para segundo plano ao longo dos nos próximos meses. Ora, ao longo dos últimos meses, as histórias principais do Raw tiveram como protagonistas o campeão principal, Kevin Owens, o campeão de Estados Unidos, Roman Reigns, Seth Rollins e Chris Jericho. Os quatro têm sido o grande destaque do programa desde o momento em que Finn Bálor teve de renunciar o título devido a lesão.

A lesão de Bálor levou a WWE a voltar atrás na sua decisão de manter Seth Rollins como vilão e, por isso, iniciou uma rivalidade entre este e Triple H. No entanto, como qualquer lutador a part-time que se preze, Triple H não iria lutar, a não ser que fosse num grande evento e o mais próximo seria a WrestleMania (ou o Royal Rumble, mas estou mais inclinada a apostar que irá acontecer na WrestleMania). Por isso, temos passado os úlimos meses a ver Seth Rollins a tentar manter esta rivalidade viva, embora o membro mais importante da mesma tenha desaparecido de forma muito conveniente. Em edições anteriores defendi que um dos maiores problemas atuais do Raw – mais grave ainda do que a sua longa duração – é a ausência de um herói que seja, ao mesmo tempo, um favorito da audiência.

Em 2013, a exaustiva duração do Raw não era tão notória porque Daniel Bryan estava ao leme do navio e era universalmente adorados. Os seus combates de fantástica qualidade com os membros de The Shield, Cesaro, entre outros, também ajudaram imenso. A verdade é muito simples – os fãs precisam que o programa tenham uma personagem principal e precisam de gostar dela. Precisam de simpatizar com a sua história, com os obstáculos que enfrenta. Precisam de se relacionar com ela. Nem Seth Rollins, nem Roman Reigns se encaixam neste perfil.

Opinião Feminina #318 – The Core

A transição de Seth Rollins para herói tem sido extremamente forçada e confusa. Tem momentos em que parece que este apenas está amuado porque os vilões que faziam falcatruas por ele estão agora a fazer falcatruas por outras pessoas e que, dada a oportunidade, voltaria para os braços da Autoridade e ficava tudo como anteriormente. Tem outras em que já parece um herói enfurecido à procura de justificação e vingação. Mas não é consistente e, certamente, não é natural. Este ainda não me pareceu arrependido por ter atraiçoado Dean Ambrose e Roman Reigns, os seus irmãos, e por tudo o que lhes fez desde então. No entanto, já assistimos a várias reuniões do grupo e, por várias vezes, Reigns e Rollins lutaram juntos e pareceram chegar a umas tréguas.

Ora, todos estes momentos envolvendo o grupo – reuniões, combates entre eles – têm o potencial de ser grandes sucessos e deixar bem claro que o presente também tem estrelas, no entanto são desperdiçados em histórias forçadas e mal desenvolvidas e em eventos secundários que ninguém irá relembrar dentro de alguns anos.

Não é normal que, por vezes, Chris Jericho e Kevin Owens, uma dupla que gosta de apregoar que são os melhores amigos), mostrem mais tensão entre eles do que Rollins e Reigns que têm imensa história em comum. Como consequência destas falhas criativas, prevejo que a tendência para existir cada vez menos excitação em torno de uma reunião do grupo irá continuar a decrescer.

Também não é particularmente fácil para os fãs – falo por mim, como é óbvio – relacionar-nos com as dificuldades de Rollins e a traição de Triple H quando, seja vilão ou herói, Rollins tem repetidas oportunidades para lutar pelo título. Rollins lutou em vários eventos da WWE consecutivos pelo título principal do Raw, mesmo quando perdia no evento anterior e não fazia sentido continuar na corrida.

Já fiz esta comparação no passado e, em termos de posicionamento apenas e não talento ou potencial, volto a fazê-la – se a WWE quer que Roman Reigns seja o John Cena desta geração, então Seth Rollins é o Triple H. Desde o fim do grupo que, embora não tenha sido posicionado como a cara da companhia, a figura principal, Rollins sempre teve em lugar de proeminência e tal não vai acabar em breve. Ora, não é fácil ter pena de alguém que está constantemente a ter oportunidades.

Seth Rollins vai ter sempre algum tipo de popularidade. Este foi frequentemente apoiado ao longo dos últimos meses, apesar da sua personagem não ter qualquer tipo de consistência ou traço apelativo. Este é um lutador formidável, com manobras no arsenal capazes de suscitar grandes ovações. No entanto, enquanto, criativamente, os detalhes não entrarem na linha e Rollins começar a mostrar traços genuínos de caráter, os fãs irão continuar a ter enormes dificuldades em se investirem na sua história e torcerem emocionalmente pelas suas vitórias. A WWE saltou muitos passos no que toca ao desenvolvimento da personagem de Rollins ao longo dos últimos meses e o interesse nele reflete isso.

Ele tinha toda a pompa e circunstância do seu lado quando voltou. Os fãs receberam-no como um herói por todo o trabalho feito ao longo dos últimos anos. Infelizmente, ele voltou como vilão para enfrentar outro suposto herói cuja arrogância e absolutamente horrenda interferência criativa impedem que se relacione com os fãs. Por isso, Rollins perdeu-se e agora é uma personagem sem sentido que, se não tivesse todo o seu talento em ringue, não obteria qualquer reação dos fãs.

Os fracassos de Seth Rollins como o Raw é um dos problemas principais do Raw, mas infelizmente, o o lado do mal também já viu melhores dias.

Opinião Feminina #318 – The Core

Sim, Chris Jericho é hilariante. Sim, Kevin Owens também é hilariante. Aliás, Kevin Owens é a única razão pela qual, durante meses e meses, assistia às entrevistas nos bastidores que eram feitas exclusivamente para a conta oficial de youtube da companhia. Kevin Owens é esperto, é rápido e tem sempre resposta para tudo. Raramente se atrapalha, a resposta está sempre pronta na ponta da língua e, na maioria das vezes, é hilariante. Kevin Owens é definitivamente alguém com quem não gostaria de estar envolvida numa troca de provocações.

A questão é que esta sua vertente sarcástica e interessante é a entrada, não o prato principal. Este tem potencial para muito mais. O potencial de Owens, devido ao seu talento em ringue e especialmente ao microfone, não tem limites. Owens parecia mais um main eventer no NXT, a torturar o Sami Zayn, e durante a sua rivalidade com John Cena, do que agora que é campeão. Isso não é aceitável.

Colocando tudo em perspetiva –a veia sarcástica de Owens é o truque de cartas que um mágico faz no início da atuação, como forma de apresentação, não é a parte em que ele tira duas assistentes e um tigre dentro de uma bola gigante e deixa toda a gente boquiaberta sem saber como ele o fez. O problema é que nós já o vimos a fazer aparecer o tigre na WWE. Isto não tem nada a ver com os seus feitos no circuito independente. Kevin Owens já mostrou o seu valor como cabeça de cartaz na WWE. É absolutamente ridículo que não o esteja a fazer quando é campeão principal do Raw.

Este é mais um dos problemas do Raw. Para além de não haver ninguém por quem torcer ardentemente, não há ninguém para odiar ardentemente. É tudo extremamente tépido. Sim, Owens é um vilão, mas este é mais carismático que muitos dos heróis, cujas piadas são quase sempre forçadas e infantis, portanto é complicado odiá-lo.

Como se os problemas criativos não fossem suficientes, Kevin Owens não é muito credível como campeão. Este foi selecionado para o papel de vilão anedota, que toda a gente sabe que só tem o título por ajuda e que não tem qualquer valor sozinho. O papel em si não é mau, a história do Wrestling está recheada de lutadores que fizeram o papel funcionar, mas não sei se é o melhor para Owens. E, especialmente, não é um papel que funcione bem quando entra em choque com Roman Reigns da forma que a WWE o tem estado a fazer.

Opinião Feminina #318 – The Core

Roman Reigns devia, claramente, ser retratado de forma semelhante à de Brock Lesnar. Este tem um físico impressionante e a altura da sua carreira em que foi mais adorado foi quando fazia as grandes manobras e dominava a toda gente. Além disso, não só os fãs não gostam dele o suficiente para sofrer por ele, como não é credível vê-lo a portar-se como um coitadinho que tem qualquer desvantagem em relação ao adversário.

E quando estes dois tipos de personagens chocam, temos problemas. Owens é uma anedota de vilão cujo reinado continua por acidente, no entanto temos o grande e poderoso Roman Reigns a comportar-se como um desfavorecido e a ser dominado. O que é que isso diz de Roman Reigns? Apesar disso tudo, a WWE deixa bem claro que o merecedor campeão é Reigns repetidas vezes, através de interferências, mas mesmo assim, a vantagem que Owens tem sobre Reigns durante momentos não faz sentido dadas as suas personagens. Sinto que foram os dois escolhidos para os papéis errados – Reigns mais do que Owens, mas isso já todos sabemos há muito tempo.

No Raw, não temos heróis que nos façam sonhar, não temos vilões que nos façam odiar e não temos prémios que nos façam fantasiar. O título Universal é uma anedota ainda maior que o campeão e passou grande parte dos últimos meses a ser secundário à lista de Chris Jericho. A WWE passou meses em 2015 a fingir que se importava com o significado do título de Estados Unidos ao colocá-lo em jogo várias vezes e a torná-lo num ponto focal do programa porque estava à cintura de John Cena, mas aqui já voltámos ao normal.

Enquanto John Cena está no fim de carreira, Roman Reigns está a ascender e a WWE não tem tempo a perder com o título de Estados Unidos quando está constantemente a deixar bem claro que é o título Universal que ele deve ter. Para Reigns, o título de Estados Unidos é um mero acessório.

Calculo que na WrestleMania, Seth Rollins finalmente tenha o seu combate com Triple H. Posso estar a ser demasiado negativa, mas não acredito que a rivalidade consiga salvar a personagem de Rollins e que, no fim de tudo, possamos dizer que valeu tudo a pena. Kevin Owens irá provavelmente enfrentar Chris Jericho, se não tiver o azar de, juntamente com Jericho, lutar por um título secundário num combate com mais meia-dúzia de gatos pingados. Em relação a Roman Reigns, não tenho grandes ideias sobre o seu papel na WrestleMania. Calculo que terá um lugar de destaque, mas suspeito que será fortemente vaiado. Os anos passam, mas os problemas continuam os mesmos – falta de criatividade, mas acima de tudo, vontade.

Desejo um feliz ano novo a todos!

4 Comentários

  1. adorei o artigo e estou 100% de acordo. “Como se os problemas criativos não fossem suficientes, Kevin Owens não é muito credível como campeão” para mim o kevin owens é dos melhores lutadores do roster da wwe, é fantástico em ringue, tem boas promos, e tem carisma, e custa-me muito ver um lutador destes que possui o titulo máximo da raw a parecer um midcarder.

  2. KILL OWENS KILL8 anos

    Ótimo artigo.

  3. Carlitos8 anos

    Adorei o artigo, mas o Rollins tem a ver com a revisão de algumas decisões por parte da WWE, é apenas o melhor lutador da WWE e quem faz melhor promos ao contrario de Roman, que no improviso fica um bocado aquem.

    Ja agora, quem ganhar o royal rumble match, irá lutar pelo titulo da brand que pertencer ou como será?

  4. WCW8 anos

    Grande artigo.