Braun Strowman, a revelação improvável de 2017 e um dos poucos recentes exemplos de sucesso, a nível criativo, da WWE. Quando começou a carreira na programação principal da WWE, Braun Strowman era só mais um. Mais um cliché. O gigante supostamente invencível e imponente que deixa um rasto de destruição por onde passa. É uma personagem frequente no mundo WWE e são poucos aqueles que se destacam e conseguem sobreviver a longo prazo numa Era que dá primazia à qualidade dos combates e não propriamente ao tamanho dos participantes.
Contra muitas expetativas, Braun Strowman tem sobrevivido bastante bem debaixo do holofote, apesar da sua inexperiência. Enquanto há uns anos, Strowman era olhado com exasperação e algum tédio, associado ao hábito e à rotina de ver uma personagem deste tipo ter a mesma apresentação e o mesmo percurso que tantas outras, agora Strowman conseguiu gerar popularidade e notoriedade ao ponto de justificar um reinado com o título principal da companhia.
A maré começou a virar no que toca a Strowman graças às interações com Roman Reigns. Não deixa de ser irónico que uma das personagens preferidas de Vince McMahon se tornou popular devido ao fracasso de outra personagem preferida de Vince McMahon. A sua vitória contra Undertaker na WrestleMania 33 surpreendentemente não ajudou Roman Reigns a deixar de ser, aos olhos de muitos fãs, o inimigo número 1. Todavia, toda esta antipatia para com Reigns ajudou Strowman e muito.
Os combates que tiveram, assim como os spots impressionantes que protagonizaram, pertencem a um género de Wrestling que não agrada a todos, mas tem o seu propósito e lugar no espetáculo de variedades que é a WWE. No fundo, é essa a essência de Strowman, tal como foi a essência de Big Show e todos os outros gigantes que passaram pela WWE. Num evento há lutadores que garantem o combate da noite, há quem faça comédia e depois há quem vira uma ambulância ao contrário ou atira uma cadeira à cara de outra pessoa. É o disparatado misturado com o fantástico. Não substitui o combate maravilhoso, mas é uma boa atração para ter no card (pelo menos para mim).
As brawls de monstros onde há coisas a voar de um lado para o outro podem ser divertidas, mas, pelo menos para mim, também conseguem ser, por vezes, muito aborrecidas. No fundo, depende das popularidade das personagens que estão em combate, da qualidade da história que estiver a ser contada, da qualidade do evento até à altura e até do meu estado de humor na altura.
Não foi apenas a antipatia dos fãs por Roman Reigns que ajudou Strowman no início do ano passado. A WWE em si foi um pouco dúbia na representação das duas personagens e, num gesto já bastante típico dos últimos anos, chegou a pintar Reigns como um vilão, reforçando a ajuda à popularidade de Strowman. Tal tornou-se tão incandescente que só havia um combate que faltava a WWE fazer: Brock Lesnar vs Braun Strowman.
E foi aí que Strowman foi diretamente contra uma parede e teve o seu primeiro grande susto. Agora, meses depois do facto, sabemos que o mesmo recuperou, sobreviveu e continua em jogo, mas o combate foi o primeiro deslize criativo da WWE em relação a Strowman – e não existiram muitos.
Strowman estava no topo do mundo no fim do SummerSlam. Sim, Brock Lesnar saiu com o título, mas Strowman brilhou durante o combate principal, tendo dominado a maioria e quase sem sofrer. O combate em si é um exemplo perfeito deste estilo de Wrestling – é uma confusão cheia de adrenalina. É um acidente em que ninguém consegue parar de olhar. É um espetáculo, puro e simples. Strowman vs Lesnar era o combate mais desejado no fim do SummerSlam e, em vez de o guardar para uma ocasião especial, a WWE despachou-o logo no mês a seguir.
O combate principal do SummerSlam 2017 entre Brock Lesnar, Samoa Joe, Braun Strowman e Roman Reigns foi completamente diferente do combate entre Brock Lesnar e AJ Styles no Survivor Series do mesmo ano, mas funcionaram os dois pelo mesmo motivo: Brock Lesnar mostrou-se vulnerável. Não foram combates onde Brock Lesnar se comportou como um camião que passa por cima de tudo e todos, com o pé no acelerador. E são esses combates que funcionam, porque, se formos bem a ver, Lesnar voltou em 2012 e e, depois de alguns soluços e percalços, começou a a versão atual de besta imparável em 2014 – há quase quatro anos. Quase quatro anos é muito tempo para ver sempre o mesmo combate, mesmo que seja apenas meia dúzia de vezes por ano e mesmo que sejam com adversários diferentes.
No fim do SummerSlam, Braun Strowman era a estrela da noite e Roman Reigns tinha sofrido a derrota da noite. No fim do Summerslam, Brock Lesnar vs Braun Strowman era o sonho e o combate em que a WWE deveria ter continuado a aposta em Strowman – com base no sucesso da personagem na altura. E foi exatamente isso que a WWE não fez.
O combate dos dois foi uma enorme desilusão. Foi mais um combate onde Brock Lesnar tinha o pé no acelerador e não havia como travá-lo. Depois de meses a construir Strowman como uma besta imparável e excitante, a WWE voltou à fórmula do costume no No Mercy. Podia ter sido a noite em que Strowman se cimentava definitivamente como estrela, mas não foi. Foi um dos melhores momentos que a WWE tinha para derrotar Lesnar, dar o título a uma estrela da atualidade que era popular e continuar a construir o legado de uma besta que está presente todas as semanas e que eventualmente poderia valorizar outra estrela. A WWE viu o momento chegar e partir sem piscar os olhos. E porquê? Estaremos novamente a caminho de Roman Reigns vs Brock Lesnar na WrestleMania pelo título? Iremos assistir novamente a mais uma tentativa de coroar Roman Reigns?
Neste momento, é difícil de acreditar que não é isso que estamos prestes a ver. No entanto, pergunto-me quantas vezes irá a WWE tornar Lesnar invencível para orquestrar este momento até perceber que quantas mais vezes repetir esta experiência, menor é probabalidade de ter a reação que deseja? O que é que a WWE está à espera que aconteça exatamente desta vez? Pode ser que não seja esse o destino. Pode ser que tenhamos uma surpresa de última hora.
Não deixa de ser pena que a WWE tenha criado Braun Strowman e, contra todas as expetativas, o tenha protegido e, com sucesso, o tenha tornado numa personagem popular, apenas para o derrotar daquela forma no No Mercy. Até que ponto é que a WWE irá continuar a sabotar as suas próprias criações por pura teimosia?
Strowman recuperou desde então e ajuda que, para além da sua impressionante força, Strowman tenha mais carisma e atitude do que muitos que vieram antes dele. A interação que teve com Elias Samson foi apenas o exemplo mais recente e também um dos momentos mais hilariantes que vi em muito tempo. Normalmente, não costumo rir do que a WWE cria, pois eu e a companhia temos definições muito diferentes de comédia, mas todo o segmento de Strowman com Samson foi absolutamente hilariante. O que também foi hilariante foi o episódio do Mixed Match Challenge, onde a equipa de Alexa Bliss e Braun Strowman derrotou Becky Lynch e Sami Zayn – duas equipas bem escolhidas, um combate divertido, num episódio fácil de ver, onde todos mostraram que se estavam a divertir e a exibir as suas personalidades, o que ajuda o espetador a divertir-se em casa.
Aos poucos, com as suas declarações de guerra, os seus momentos de comédia, seja com Bliss ou com Samson, Strowman vai mostrando que não é mais um cliché. Não é mais um gigante de cara fechada que passa por cima de tudo e todos até ser finalmente derrotado pela cara da companhia e se tornar irrelevante para sempre. É certo que a carreira de Strowman ainda agora começou e que nada garante que daqui a uns anos ele não entre no Raw a dançar e a fazer piadas completamente despropositadas à sua personagem. Aliás, ninguém na WWE está a salvo disso.
Todavia, Strowman tem um lugar na WWE e se 2017 foi prova de alguma coisa, então foi prova de que este é capaz do preencher e fazê-lo com competência. Gigantes e monstros fazem parte deste mundo de variedades que é o wrestling e, nos dias de hoje, é aceitável que passem por cima de todos, é aceitável que não sejam ases no ringue, mas não é aceitável que não tenham personalidade ou carisma. Strowman provou que está à altura do lugar e que, acima de tudo, merece uma aposta mais a sério antes que seja tarde demais e a sua altura passe. Não há muito pior que a WWE possa fazer do que dar o título a uma pessoa seis meses ou um ano depois do momento certo em que esta o deveria ter ganho. O primeiro momento de Strowman surgiu no No Mercy 2017. Não sei quantas mais oportunidades a WWE irá ter a oportunidade de desperdiçar, mas convinha estabelecer o máximo número de estrelas possível, não sacrificar todas em nome de estabelecer uma só.
Pode ser que o Elimination Chamber surpreenda e que o prevísivel não se concretize, pode ser que eventualmente Strowman tenha a sua recompensa pelo bom trabalho e os fãs vejam o seu investimento nele recompensado. Strowman não vai agradar a todos, o seu estilo e o seu propósito no evento certamente não agrada. Mas faz parte e, dentro do estilo, ele está a fazer um excelente trabalho e foi, sem dúvida, uma das estrelas de 2017. Veremos se colherá os frutos do seu trabalho em 2018.
9 Comentários
Bom artigo, parabéns !
Excelente artigo!
voltou um dos melhores artigos do site e ainda bem pois, com todo o respeito, os novos artigos aqui do site estavam a anos luz da qualidade exibida pelo opiniao feminina.
Bom artigo braun strowman está fazendo um ótimo trabalho ele merece algo grande esse ano que seje a maleta do Money in the bank ou algum título de miss card , mais ele precisa ganhar alguma coisa … assim como o Elias também.
O Braun podia facilmente ter ocupado a posição de Lesnar e ser um campeão activo. Em vez disso a WWE continua a insistir em manter Lesnar como campeão e um que só luta 1 vez por mês, para na Wrestlemania ser derrotado por Reigns. Não entendo porque continuam a insistir em estratégias falhadas, é verdade que Reigns já não é tão odiado como já foi, mas se a WWE espera que ele vai sair de lá a ser adorado por todos os fãs então que se prepare para mais um desgosto.
Esta mais que na hora ele ter um titulo e para mim já devia ter ganho o titulo Universal já há muito tempo a esta hora era ele o campeão mas enfim…
Excelente artigo. Uma pena lançares apenas de 15 em 15 dias, se bem que estou reeclamando de barriga cheia, pois há um tempo não tínhamos era nenhum artigo, então fique à vontade XD
Admito, nunca acreditei em Braun Strowman e me pego em 2017 torcendo para ele vencer o Lesnar no No Mercy. Fazia muito tempo que a WWE não acertava num booking, claro que temos aquele velho problema que já vou expor, porém parabéns ao Braun pela evolução. Uma pena o Wyatt não ter recebido o mesmo tratamento e hoje em dia estar onde está, mas como você disse, ninguém está à salvo.
“Até que ponto é que a WWE irá continuar a sabotar as suas próprias criações por pura teimosia?”. “Não sei quantas mais oportunidades a WWE irá ter a oportunidade de desperdiçar, mas convinha estabelecer o máximo número de estrelas possível, não sacrificar todas em nome de estabelecer uma só.” E aqui se resume o ódio ao Roman. Por que para o Vince há apenas uma pessoa que deve estar no topo (parece que esqueceu de Rock e Austin). O Vince não se vai se contentar até realizar o plano de dar a besta imparável de bandeja para o Roman Reigns, fazendo este finalmente se estabelecer como The Face of WWE. O problema está em quantas outras estrelas terão seus momentos atrasados, ou até mesmo perdidos, pelo “bem” do escolhido? Mas enfim, vamos ver se depois do seu ME número 4 na WM o Vince finalmente para um pouco e vai cuidar da porcaria da sua liga de football.
Ah só mais uma coisa sobre o Strowman, falta alguém que ele ainda não dizimou e que sempre se safa e essa seria uma bela oportunidade para destruí-lo: John Cena.
mas o Strowman já derrotou o John Cena em um raw. esqueceu?
E pensar que se alguém falasse bem do Strowman em 2K16 era taxado de louco… Excelente crônica, salgado.