Como é que Carmella, o membro menos popular do trio constituído por ela, Enzo Amore e Big Cass, é a única que ainda se encontra com a WWE? Carmella surgiu, primeiro, como a cabeleireira de Enzo e, mais tarde, este arranjou-lhe um emprego no NXT. Sempre que surgiam, Carmella era, claramente, o membro menos apoiado do grupo. E agora é a campeã feminina do SmackDown, enquanto Enzo e Cass foram despedidos.

Esta foi a questão que mais fãs fizeram ao longo da última semana, depois de ter sido anunciado que Big Cass tinha sido despedido pela WWE. E, se formos acreditar nas notícias, foi despedido, nada mais, nada menos, pela pessoa mais importante da companhia – Vince McMahon. Apesar de não ter sido um membro muito bem-sucedido – nunca ganhou títulos, seja de equipas ou individuais e, apesar de ter sido contratado em 2011, Cass só começou a ganhar mais notoriedade nos últimos quatro anos – muita tinta tem corrido desde o anúncio do seu despedimento.

E é verdade, Cass nunca ganhou títulos e é discutível se a WWE teve algum retorno dos sete anos de investimento, porém, Cass era um talento que, não só parecia ter algum potencial, como fazia parte de uma equipa incrivelmente popular.

Uma das experiências mais arrepiantes que a programação da WWE me proporcionou nos últimos anos foi quando assisti à entrada de Enzo Amore e Big Cass, no primeiro NXT TakeOver: Brooklyn. Eles não apareceram no programa principal, participaram num combate de equipas antes do início do TakeOver e o combate foi transmitido na edição semanal do NXT. O combate em si não foi nada digno de nota. Aliás, tive de ir fazer uma pesquisa para confirmar que tinha, de facto, havido um combate, pois já nem me lembrava. O que me impressionou e me deixou completamente arrepiada na altura foi a ovação que os dois receberam quando apareceram. Desde o momento em que a música deles toca até à forma como uma audiência de milhares (primeiro evento do NXT fora de Full Sail University!) grita, a uma só voz, o discurso de apresentação que Enzo Amore repete todas as vezes que aparece. Parecia que tinham chegado a casa.

Opinião Feminina #331 – How you doin?

Lembro-me de ter pensado, à medida que as rivalidades desenvolviam e se percebia qual seria o card do TakeOver, que era uma injustiça Enzo e Cass não fazerem parte do evento principal, quando a audiência iria adorá-los e parecia ter sido feita mesmo à medida deles. A ovação que eles receberam e toda a interação que tiveram com os fãs até ao início do combate, não só me arrepiou e ficou marcada na minha memória, como ainda reafirmou a minha certeza que eles deveria ter feito parte do evento principal.

São momentos como estes, onde uma audiência de milhares ou milhões se une a gritar a mesma coisa ou a torcer pela mesma equipa ou pessoa, que cria emoção e adrenalina.

Quase três anos depois e nenhum dos dois se encontra na WWE. Cass foi despedido esta semana, Enzo foi despedido há vários meses. Nenhum dos dois saiu em bons termos da companhia, tal nota-se na ausência de saudações de boa sorte nos comunicados que a WWE lançou, e saíram ambos envoltos em polémica. Enzo foi despedido enquanto era investigado por suspeitas de violação, enquanto os motivos do despedimento de Cass ainda não foram confirmados, mas já surgiram vários relatos de incidentes que ele teve nos bastidores, de problemas que ele teve enquanto em viagem com seus colegas de trabalho e de ter desrespeitado ordens e decisões criativas dos seus superiores. Todos estes motivos podem justificar um despedimento.

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Esta parece ser a única coisa que Enzo e Cass tiveram em comum, nos seus últimos tempos na WWE – ambos causaram problemas nos bastidores, tornando-se membros pouco populares do plantel.

Estes são problemas em que não se pode culpar a equipa criativa, sorte ou falta de oportunidades. Quando se cria um mau ambiente nos bastidores, quando se desrespeita os colegas com quem se trabalha, quando se desobedecem ordens de superiores ou quando se é acusado de algo que poderá trazer muitos problemas à companhia empregadora, não há muitas coisas que a WWE possa fazer para evitar o despedimento.

Há vários casos de equipas extremamente talentosas que vieram do NXT com toda a pompa e circunstância e que simplesmente se afundaram ou ficaram muito aquém das expetativas no plantel principal. E essas equipas podem, de facto, culpar a equipa criativa, a falta de oportunidades ou simplesmente má sorte. Ambos os membros da equipa The Revival sofreram lesões pouco depois da sua estreia, efetivamente acabando com toda o gás que traziam do NXT. E agora? Agora servem de ferramenta para criar fricção entre Roman Reigns e Bobby Lashley, sendo completamente secundários e substituíveis. Qualquer outra equipa podia ter feito o que eles fizeram no passado Raw. Os American Alpha foram separados depois de Jason Jordan ter sido revelado como filho de Kurt Angle e agora, um talento como Chad Gable anda a perder combates de meros minutos para Jinder Mahal no Raw. Isto é um desperdício de talento.

Com isto não quero dizer que, em certas ocasiões, Enzo e Cass não possam ter sido prejudicados pelas decisões da equipa criativa ou por mero azar. Enzo e Cass nunca venceram os títulos de equipas, seja no NXT ou na programação principal. E sim, é um facto que nenhum dos dois era um lutador brilhante e a equipa não era espetacular dentro de ringue. Todavia, Enzo e Cass surgiram quando os Vaudevillains, Lucha Dragons, Ascension e Blake & Murphy eram as equipas que dominavam a divisão e que tinham vencido os títulos. A era de ouro da divisão de equipas do NXT surgiu depois. Dada a sua tamanha popularidade, não se conseguia mesmo justificar um reinado como campeões?

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Até na programação principal tiveram azar. Na WrestleMania 33, as estrelas pareciam alinhadas para a dupla finalmente vencer os títulos de equipas, apenas para os irmãos Hardy fazerem um regresso e lhes tirarem os títulos debaixo do nariz. A partir daí, o comboio em que os dois estavam descarrilou por completo. Estarei com isto a dizer que a WWE lhes devia ter dado os títulos na WrestleMania 33? Não necessariamente. Simplesmente acho curioso como é que uma dupla tão incrivelmente popular, em três anos, nunca conseguiu vencer os títulos. Eles podiam não ser terrivelmente talentosos, mas eram mais populares do que muitas das equipas que enfrentaram. Não quero com isto dizer que os títulos devam ser dados com base apenas em popularidade, ignorando talento em ringue, mas não deixa de ser estranho que nunca lhes tenha acontecido.

Teria feito a diferença? Talvez. Ninguém vai saber com certeza. Após a separação da dupla, Cass sofreu uma lesão que o afastou do ringue durante meses, enquanto Enzo ainda deu a ilusão que iria aguentar-se sozinho e ter sucesso, mas os seus problemas nos bastidores começaram a surgir com mais força – todas as semanas, um rumor novo e eventualmente este foi despedido.

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Já Cass, esticou demasiado corda para alguém que não tinha talento suficiente para o justificar, seja dentro de ringue ou ao microfone. É verdade que Cass representa o estereótipo que Vince McMahon é famoso por adorar e proteger, mas também é verdade que Cass não é a última coca-cola do deserto. Num universo onde Braun Strowman continua a ser uma das estrelas mais populares do plantel, Cass não tinha muitos motivos para achar que era indispensável.

Admito que fico desiludida por algo que parecia tão prometedor há uns anos atrás ter implodido de forma tão trágica, quase sem hipótese de recuperação. É claro que Enzo e Cass poderiam sempre reencontrar-se no circuito independente, a relação dos dois também já viu melhores dias e dado os disparates que fizeram, a WWE não tem grandes motivos para os voltar a contratar. No entanto, este é um exemplo em que não se consegue colocar as culpas na WWE. Enzo e Cass escreveram o seu próprio destino e conseguiram sair da companhia em maus termos numa altura em que a WWE despede poucas pessoas, preferindo reutilizá-las de outra forma ou simplesmente não as usar. Deixa-me desiludida, mas não deixa zangada.

Deixa-me zangada a forma como os Revival e Chad Gable foram usados no Raw. Lutadores que começaram a era de ouro da divisão de equipas do NXT.  Consigo racionalizar e perceber o porquê de antigos campeões de equipas do NXT como os Ascension, Lucha Dragons, Vaudevillains e Blake & Murphy não terem sucesso no plantel principal. O talento ou a apresentação destas equipas não tinha grandes hipóteses de sobreviver aos inevitáveis erros da equipa criativa. Como se pode ver, a equipa criativa consegue arrasar até as equipas mais talentosas e populares, portanto estas equipas nunca tiveram muitas hipóteses e há uma razão para não terem feito parte da era de ouro da divisão de equipas do NXT.

Mas, os Revival e os American Alpha eram de outro calibre completamente diferente. Foram estas duas equipas que primeiro chamaram atenção à divisão e começaram a levar todos os fãs à loucura. Os combates de equipas do NXT passaram de interessantes e divertidos para completamente fantásticos e de cortar a respiração, cheios de velocidade, talento e pequenos detalhes que faziam toda a diferença. A verdade é que a divisão de equipas do plantel principal está longe de ter a importância e destaque o NXT dá à sua divisão. De vez em quando, no plantel principal, vamos assistindo a bons combates de equipas ou a boas rivalidades, mas não é consistente e, como estamos já fartos de ver, nem sempre popularidade e sucesso no NXT se repete no plantel principal. E mesmo quando se repete, tal não é garantia de nada. Enzo e Cass são exemplo disso. Primeiro que tudo, peço desculpa pelo atraso desta edição. Obrigada pela atenção e até daqui a duas semanas!

Opinião Feminina #331 – How you doin?

8 Comentários

  1. Duzonraven7 anos

    Apesar da dupla ter ficado bastante over com o público, ambos eram muito fracos in-ring e realmente só as palhaçadas do Enzo serviam como interesse em suas lutas…com tantos talentos na wwe, quem não souber lutar e aplicar bons golpes tem mais é que sair mesmo…

  2. World Citizen7 anos

    Desde o princípio que não via muito por onde por pegar tanto no Enzo e no Cass. Muito fogo de vista, muito pop ao início, mas cedo começaram a aborrecer-me. Os desenvolvimentos posteriores levam-me a crer que o estrelato subiu-lhes à cabeça e pensaram que eram mais importantes do que realmente eram. Daí às asneiras e consequente despedimento foi só mais um pequeno passo.

    Quanto à Carmella…Costumo ter uma sanita por perto quando a vejo…

    • Creio que sejam pontos de vista, pois eu via muito potencial neles, talvez não para Universal Champs, mas havia ali algum potencial sim na minha opinião.

  3. Bom tema e bom texto, parabéns!

  4. Reza a lenda que o Dream está perto de subir, só queria que ficasse mais um ano no NXT antes de ser completamente estragado pelo Main Roster.

    Mais um ótimo artigo. Uma pena a Salgado só acompanhar WWE, seria ótimo ver as análises dela sobre uma New Japan também.

  5. De todas as duplas citadas somente o Kalisto teve seu momento com o USC e o CWC, fora eles tem a Carmella e a Alexa atualmente campeãs.