Mais uma marca do vosso Pedrito Juarez aqui no PTW. Escrevo-vos de novo com tanto prazer quanto o frio que se faz sentir por estas bandas! (ou seja, uma quantidade astronómica dele ;)). O prazer deve-se ao facto de ter comentários altamente elogiosos e extremamente construtivos. Foram muitos e bons, e quando assim é, um cronista só tem de se sentir motivado para seguir em frente e continuar a sua “caminhada” rumo ao próximo texto.
Queiram saber que reconheço que o último texto foi o que deixou mais gente dividida e foi aquele em que senti mais contestação e mais admiração. Foi bom sentir feedback, mas senti pena sobretudo por haver algum pessoal que comentou e que não percebeu bem o conteúdo da crónica que escrevi: eu não admirei David Otunga pelo que ele faz no ringue ou sob a luz das câmaras, mas sim pela história de vida dele. Acho que é isso que se deve ressalvar e deixar orgulhoso cada fã de wrestling – o facto de haver duas escolhas, uma muito mais estável e rentável e um individuo optar pela paixão… que é semelhante à nossa e nos traz mais benefício pela seriedade com que encara o nosso mundo.
Quanto à minha opinião sobre o “performer” David Otunga, nunca a irei dar, e já a vão perceber se continuarem a ler as linhas que vos preparei para esta sexta-feira.
A história é mais uma vez encorajadora e admirável. Fez-me lembrar o filme “The Wrestler”, embora sem os flashes de glória que o protagonista teve. Ou seja, mais dramática.
“You still got it!!!”
Há aquele tipo de seres que nos surpreendem. Pela capacidade de aguentar pesos, sejam eles metafóricos – que nos fazem sentir como se tivéssemos sido atirados para um poço depressivo que parece não ter fundo, como uma separação abrupta, ter filhos em casa e dar tudo do pouco que se ganha para lhes alimentar -, ou físicos – superatletas que levantam toneladas em barras ou gente que consegue arrastar um camião de várias toneladas só com o peso da cintura.
É a mentalidade em ter força e a força da mente encontradas num ciclo vicioso, embrulhadas numa sinergia lindíssima, manifestação de superação, vontade!
Infelizmente tendemos a ver as coisas desta maneira por acharmos impossível conseguir, algum dia, alcançar algo sequer parecido com esses feitos. Achamos, nós, gente vulgar e comum, que somos incapazes de gerar esse tipo de beleza. Ainda bem que há alguém a provar-nos errado. Que não há desculpas para a superação de “pesos” e de quilos. Que são só barreiras que a mente humana consegue derrubar
É assim que pensa o maratonista quando arranca da linha de partida, assim parte o alpinista do quilómetro 0 de altitude. Tudo em busca de um objetivo, de um feito. Esse feito pode custar-lhes o suor, o nariz ou os dedos (literalmente), mas a força da mente, estruturada para tão grandes feitos empurra-os.
Sempre que falo de alguém assim, sempre que leio relatos desta natureza fico arrepiado e motivado. Arrepiado por me aperceber dos riscos que cada um corre, dos “poços” em que se cai e dos pesos que se acarretam, mas motivado por saber que nenhum dos meus dramas é insuperável. Afinal, há gente a superar “montes” maiores!
Talvez encontre esta força no nosso mundo, no nosso desporto, e talvez seja essa a razão inconsciente que me faz pensar nele mais do que as horas saudáveis aconselhariam.
Talvez seja o sacrifício que cada um dos lutadores, perdão, guerreiros que vejo todos os dias no ecrã do computador fazem só para me/nos estarem a entreter. Todos os bumps dados em ginásios com iluminações deficientes, e em ringues mais frios que uma pista de gelo e mais duros que cimento, e todo a repetição deste processo e o pagamento extremamente injusto enquanto não seja às big leagues…. Há uns que nem sequer lá chegam e não passam 50 mil dólares anuais que muitas vezes nem dão para pagar a renda e não são fixos! Sobram preocupações futuras, como a constituição da família e a dificuldade em o fazer. Esse tipo de pressão, esse tipo de peso emocional é gigantesco para um homem. As feridas, os combates para um público de meia dúzia de gente ficam como pano de fundo de uma história difícil e que é verdadeira à maior parte dos ídolos de muito boa gente e que às vezes são ridicularizados por quem não entende estas escolhas de vida. Gente que não entende o que é ser um pro-wrestler.
Mesmo chegado ao topo da hierarquia, é preciso de abdicar de muita coisa, desde logo a companhia da família que tantos querem construir e na qual querem ter um papel preponderante para a prolongação de algo tão essencial ao ser humano que é o seu ciclo de vida. E mesmo assim, quando se está com eles, está-se sujeito a dietas especiais, comportamentos especiais que os impede de desfrutar do momento totalmente como se queria. Está-se restringido às regras do treino, dos duros trabalhos de casa. Aqui mesmo é que se pode falar de um casamento com o trabalho, um compromisso quase inquebrável. Tudo em nome do sonho.
Isto é ser um pro-wrestler, isto orgulha-me de ser fã de wrestling. O sacríficio que cada um presta no seu dia-a-dia para nos entreter. Assim, posso muito bem criticar bookers, directores de companhia, mas a menos que a história do lutador não seja respeitável, não me verão aqui a criticar qualquer lutador que seja. Pelo contrário.
A cada dia que passa fico cada vez mais surpreendido e vou sabendo mais detalhes sobre a vida de gente com capacidade gigantesca de aguentar “bumps” em cimento metafórico que a vida lhes obriga a dar. E o que é que se faz perante isto? Pede-se mais. Num caso específico que conheci esta semana, implora-se por mais! Quase que se confunde com masoquismo.
A pessoa em questão é Robert Evans, mais conhecido como Brutal Bob Evans pelo seu trabalho na Ring of Honor.
Robert é um exemplo de amor e dedicação ao desporto, de paixão pelo cheiro das cordas. Passou muito tempo “nas sidelines”, merecendo o título de um dos reis da indys porque simplesmente passou lá muito tempo (muito mais do que o desejável). Teve as suas oportunidades na WWE, umas tryouts… mas não ficou. Desistiu? Não! Galgou caminho rumo à paixão e o que aparecesse a mais do que aquilo que fizesse, seria óptimo. Teria que aguentar as dores, fazer esperar a família… mas o pro-wrestling ultrapassa isso tudo! É a vida dele! E foi assim que passou 20 anos da carreira dele! Nas linhas secundárias do panorama de wrestling mundial, entre mais de 15 promoções de wrestling no total da sua carreira. Não conquistou muitos títulos, mas foi sempre alguém respeitado, ainda que não devidamente pelo que sacrificou e fez.
Este é um daqueles casos de superação, de perseverança, de mentalidade de força, que dá orgulho aos fãs de wrestling… à raça humana!
Não chega para admirar, louvar o senhor? Pois bem, depois de mais de 20 anos sem aparecer em TV’s, posters promocionais ou action figures de marca, Bob, apesar de agora aparecer regularmente na ROH, faz questão de fazer, com alguma frequência (não anual, mas quase) uma maratona de 7 combates durante 7 dias seguidos em escolas de wrestling nos EUA, muitas vezes sem horários prévios definidos e perante público escasso. É pouco? Podem achar isso, mas até os mais céticos e fuinhas mudaram de ideias se vos disser que os combates são TODOS combates IRON-MAN de 60 MINUTOS!
Bob faz isto em nome do desporto que ama, que nós amamos e fá-lo por gosto. Podia muito bem mudar de profissão, estabilizar, e não optar por fazer 60 minutos de combates durante uma semana inteira, que não são sequer televisionados! Aliás, o combate com maior assistência teve o singelo número máximo de 30 pessoas!
Eu soube disto através de sites estrangeiros que fizeram questão de fazer o rescaldo desta autêntica maratona de wrestling a que Bob se costuma submeter, mas acho difícil este tipo de informação ser divulgada a uma escala global, e merece-o.
É uma inspiração para nós, enquanto fãs de wrestling e enquanto seres humanos. Uma mensagem de motivação e de “deixa-te de desculpas”. Afinal, o senhor tem 40 anos e 20 deles a cair em ringues e a levar pancada!
15 Comentários
Confesso que não conhecia esta história nem o lutador em questão…
O que mais me impressionou foi o facto de ele fazer o que faz sem os seus combates serem, sequer, televisionados. Isto sim, é amor àquilo que se faz… Fiquei mesmo impressionado com esta história!
Mais um óptimo artigo Juarez.
O meu objectivo também era esse – fazer chegar o nome de Brutal Bob a pessoal que ainda não tinha tido tempo para o descobrir.
Muito obrigado mais uma vez Daniel, pelo teu comentário e pelos elogios ;). É uma constante ter-te aqui e é óptimo!
Mais um grande texto amigo Juarez, o seu artigo já e um dos meu preferidos desse site, você esta se superando,
sobre o lutador em questão o conheço das Indys a algum tempo, muitos nos EUA chamam o cara de batalhador, mas não sabia o detalhes da história dele.
E algo para deixar qualquer fã de wrestling admirado pela pessoas
Valugi, fico extremamente contente por te fazer gostar dos meus artigos e de te surpreender a cada artigo! É óptimo saber disso. É óptimo saber que consigo fazer superar as expectativas sabendo que elas também já estiveram altas.
“deixar qualquer fã de wrestling admirado” – sem dúvida. Disseste tudo aí sobre a história, a persona de Brutal Bob Evans.
Obrigado pelo comentário!
P.S.: nunca te disse isto, mas a foto da Trish que tens de perfil é das minhas favoritas de sempre de divas no wrestling xD Bom gosto 😉
´Gostei muito do artigo, e graças ao teu artigo já quero pesquisar mais sobre ele, e ver e existem videos de combates mesmo que não tenham sido televisionados.
Sim a história faz lembrar esse fantástico filme do Aranofski o The Wrestler é um filme fantástico também aconselho a ver para quem gosta de wrestling é um filme com um argumento de topo e entram vários wrestlers conhecidos das indys e o Robbie E , Antonio Cesaro,Jay Lethal, Nigel McGuiness,Chuck Taylor e R-Truth, sinceramente aconselho gostei muito do filme e história que relatas fez-me lembrar esse filme que eu adoro porque sou fã de cinema e de wrestling porque aquele filme mais que um filme sobre wrestling é um exclente drama que conta os bastidores da modalidade.
Muito obrigado, José! Ainda bem que te suscitou interesse em pesquisar sobre a “lenda” de Brutal Bob Evans, era um bichinho que eu queria alimentar.
Ainda bem que existe gente que gosta de cinema e de wrestling também! 🙂 alguém que saiba e reconheça a genialidade de um Aranofski que nos proporcionou a oportunidade de vemos duas das mais belas mulheres do nosso planeta a beijar-se apaixonadamente e encaixar isso de forma credível e lógica num filme estrondoso como foi o Cisne Negro… filme que, para mim, acaba por ultrapassar o The Wrestler (se puser a “capa” da imparcialidade) e ao qual eu reconhecia mérito na atribuição do Óscar para melhor filme ao invés do Discurso do Rei.
Mas o The Wrestler – boa fita, recomendo a todos!
Sim sem dúvida o Cisne Negro é melhor que o The Wrestler, gostar de cinema ajuda a ver Wrestling porque percebes melhor a lógica de storyline embora tenham algumas diferenças também tem algumas semelhhanças.
Este sim e um senhor, faz parte de uma das memorias que nuca esquecerei,o dia em que o conheci…aquilo que o Juarez diz ai em cima e a verdade completa, quem tiver a sorte de o ver no ringue diz imediatamente que ele “transpira” literalmente wrestling…Assisti a um combate dele em Liverpool, que durou para ai uns 15-20 min com um essistencia de para ai umas 25-30 pessoas no maximo…um combate que nao contava para nada, penço que apareceu uma breve noticia num jornal e penço que mais nada…e sem sombra de duvidas um Icone do wrestling…Thank You Brutal Bob…
Sir Brutal Bob Evans… fica-lhe muito bem!
Deixa-me dizer-te que te invejo. Estiveste perto de uma das pessoas do mundo inteiro que mais paixão nutre por este desporto e logo num ambiente intimista! Gostava que isso se tornasse numa história para contar aos netos, porque assim era sinal de que Bob se tinha tornado em cabeça de cartaz no topo da Big League… mas infelizmente isso não aconteceu.
Muito obrigado pelo comentário e pelo elogio ao texto
Continuas a mostrar do que és capaz desta feita gostei, gostei sim senhor.
Frederico, muito obrigado pelo teu comentário. Fico bastante satisfeito por teres gostado do meu artigo, desta vez. É óptimo saber que agradei a alguém relativamente difícil de agradar eheh
E foi um momento muito maracante, e deves imaginar o impacto que teve num jovem wrestler como era na altura, foi absolutamente magico…Em relaçao ao elogio ao teu texto, a maneira de agradeceres e continuares o bom trabalho…abraço
Farei o máximo para continuar a manter ou melhorar o nível que tenho conseguido ter. Até ao próximo Signature Move 😉
Mais um artigo fantástico !
Gosto mesmo muito do teu espaço e este tema foi muito bom, fui logo pesquisar quem ele era e olha, vai estar presente no último ppv do ano da Ring of Honor daqui a 5 dias 😉
Parabéns.
Obrigado mais uma vez, Vince. É um prazer saber que lês e acompanhas o Signature Move!
É verdade, Brutal Bob deverá marcar presença no Final Battle, embora sem o star power que lhe seria merecido!
Muito obrigado, mais uma vez