Bons dias a todos, aqui está mais um People’s Elbow com novo tema! O artigo de hoje é sobre uma família canadiana com extrema importância no pro-wrestling, falo, é claro, dos Hart Decidi escrever sobre eles porque eu próprio tenho de me esforçar um pouco para me lembrar das relações de parentesco entre cada membro da família, bem como o seu envolvimento profissional, nomeadamente em tag teams. Quem é filho de quem, quem formava equipa com quem, quem pertence a que geração etc são perguntas que esclarecerei ao longo do artigo. Tempos houve em que toda uma família vivia ou subsistia do mesmo trabalho.
Os nossos avós começaram cedo a aprender o ofício do pai que, por sua vez, o tinha aprendido do seu. Uma mulher ensinava a arte da costura ou da ceifa para que as filhas continuassem a exercer a profissão e ajudassem trazendo rendimento para casa logo desde crianças. Eram outros tempos, como se costuma dizer, de muita dureza e dificuldade, por isso, era necessário passar o legado aos filhos desde tenra idade. Ultrapassada a infância, podia haver a hipótese de os filhos se desligarem daquilo que haviam feito até aí, afinal, tinham ajudado os pais no que puderam, tinham ficado com conhecimentos, mas agora era hora de agarrar outras oportunidades (casar, estudar, mudar de rumo profissional).
No entanto, há quem se habitue e goste de fazer o que lhe foi ensinado e, vendo ali uma forma de viver sem grandes agitações, continue com o negócio dos pais, por exemplo, se estes gerissem uma oficina, uma pensão, um restaurante, uma loja etc. Em Portugal, temos como exemplo as famílias que se dedicam ao circo e cujo apelido promove os seus espectáculos. Temos também joalharias, cadeias de hotéis etc que pertencem a familiares. Na música, temos os Carreira (aguardo com expectativa a filha dele sobre os palcos lol), sabemos de bandas formadas por irmãos, filmes que contam com actores ligados pelo sangue etc. Tudo isto é deveras emocionante, mas que tal falar sobre um casal que trouxe ao mundo 12 filhos e todos eles seguiram o que o pai construiu? É para já!
Stu Hart é o patriarca da família e membro do Corredor da Fama da WWE. Foi lutador amador e profissional, treinador e promotor e fundou uma das mais consagradas companhias do seu país, a Stampede Wrestling, em Calgary, Alberta. Também ensinou muitos dos mais famosos lutadores canadianos da era contemporânea na sua Hart Dungeon, como Edge e Chris Jericho. Stu Hart começou a lutar como wrestler amador quando ingressou na YMCA em Edmonton, em 1929.
Um dos seus maiores sonhos era ser campeão olímpico, porém, a Segunda Guerra Mundial levou ao cancelamentos dos Jogos. Foi responsável por desenvolver muitos wrestlers na sua mansão em Calgary, considerada um local histórico, pois o seu porão, conhecido como dungeon, serviu como um lugar sagrado para novos lutadores. Ele foi casado com Helen Smith (1924-2001) por 50 anos e juntos criaram 12 crianças: Smith (nascido em 1949), lutador; Bruce (1951), lutador; Keith (1952), lutador; Wayne (1953), árbitro; Dean (1954-1990), lutador; Ellie (1955), casada com o lutador Jim Neidhart; Georgia (1956), casada com o lutador BJ Annis; Bret (1957), lutador; Alison (1959), casada com o lutador Ben Bassarab; Ross (1961), promotor; Diana (1963), viúva do lutador Davey Boy Smith; Owen (1965-1999), lutador.
Ele sofria de diabetes e artrite e deu entrada no hospital em Outubro de 2003 com uma infecção no pulmão e, em seguida, desenvolveu pneumonia. Morreu 12 dias depois, com um AVC. Não há palavras que exprimam o que este homem trouxe ao wrestling, ele era absolutamente genial enquanto treinador, tendo permanecido a lenda de que lutara com um urso para treinar, daí a frase “I wrestled a bear once”, que passou a ser quase como que um ditado popular. Qualquer rapaz que sonhasse em ser wrestler e vivesse (ou não) no Canadá sabia a quem pedir auxílio.
Vejam só a lista de lutadores treinados por Stu Hart: Superstar Billy Graham, Ben Bassarab, Bret Hart, Chris Jericho, Chris Benoit, Davey Boy Smith, Gene Anderson, Gorila Monsoon, Greg Valentine, Honky Tonk Man, Jim Neidhart, Justin Credible, Larry Cameron, Lance Storm, Owen Hart, Steve Blackman, Junkyard Dog, Dynamite Kid, Edge, Brian Pillman. É curioso constatar que os seus genros foram treinados por si. Parece que os treinos não eram o único motivo dos atletas irem à sua mansão hehehe!
Bret Hart iniciou-se como lutador amador na Universidade. A sua técnica e agilidade renderam-lhe as alcunhas de Hitman e The Excellence of Execution. Treinado pelo Stu Hart, Iron Sheik e Harley Race, estreou-se no pro-wrestling na promoção do seu pai e, em 1984, na WWF, juntamente com o seu cunhado Jim Neidhart, fez parte da dupla Hart Foundation. Após a dissolução da equipa, destacou-se como lutador individual. Em 1997, envolveu-se no controverso e polémico Montreal Screwjob e saiu para a WCW, onde permaneceu até à sua aposentadoria, em 2000. Em 2006, foi introduzido no Hall of Fame da WWE, voltando à sua antiga companhia quase 10 anos após a ter deixado debaixo de tão escaldante acontecimento.
A reaproximação da empresa de Vince fez com que, durante o ano 2010, realizasse participações especiais na Raw, da qual se tornou general manager. É descrito por publicações relacionadas ao wrestling como um dos melhores lutadores e ídolos da história deste desporto. Quanto a mim, este é o melhor wrestler de todos os tempos. Superstar ou entertainer é diferente e aí não lhe atribuo a mesma posição. No que a luta livre diz respeito, não encontro melhor do que ele; aspectos como o carisma e a expressão ao microfone não tinha, mas, com uma qualidade daquelas dentro de ringue, a que se juntou o esforço de o ligar à plateia (taunt de levantar os braços pedindo apoio, os óculos escuros dados a crianças do público antes das lutas) as coisas lá se acertaram.
Pessoalmente, adorei a rivalidade com o seu irmão e os combates que dela fizeram parte, como a Steel Cage Match no SummerSlam, em que defenderia o seu título contra Owen, recebendo uma avaliação de 5 estrelas do crítico americano Dave Meltzer, pela intensidade, e a rivalidade entre os dois foi votada a melhor do ano. A luta de submissão contra Bob Backlund, em que perderia o seu título de campeão, no Survivor Series, também foi muito boa e deixa água na boca para quem gosta de graple moves e submissões. A rivalidade com Steve Austin tem pouco por onde criticar, muito boa mesmo, possibilitando a Bret trabalhar com alguém mais físico como a Cascavel. O que lhe aconteceu em Montreal foi absolutamente lamentável da parte dos restantes intervenientes e isso dá pano para mangas (a ser explorado em breve num novo artigo).
Por agora, digo que Bret não merecia sair da WWF nestas condições, pois até a sua ida para a WCW tinha o aval de Vince. Uma vergonha num desporto que é movido à base de guiões e combinações. Qualquer luta de Bret é um deleite, seja com adversários tão bons quanto ele atleticamente (e houve muitos), seja com superstars mais poderosas fisicamente. A 24 de Junho de 2002, sofreu um AVC após uma queda da bicicleta, sendo necessários meses de fisioterapia até recuperar, ficando com sequelas permanentes a nível da instabilidade emocional. Desde os seus tempos longínquos de lutador, ganhou rivais na vida real, sendo eles Ric Flair e HBK.
Egos inflamados e trocas de acusações em autobiografias dá sempre nisto e, em tantos anos de estrada, é impossível não ter uns ódios de estimação. Antes de passar ao próximo membro da família Hart, deixo alguns dos golpes característicos de Bret: movimentos de finalização – sharpshooter e piledriver; secundários – DDT, bulldog, dropkick, headbutt, inverted atomic drop, crucifix pin, inside cradle, roll up, sunset flip, vertical suplex, seated senton, sleeper hold, standing leg drop, suicide dive. The Best there is, the best there was and the best that ever will be.
Owen Hart foi o filho mais novo do promotor de luta livre Stu Hart. Ganhou 2 títulos intercontinentais, 4 de tag team, um título europeu e foi o vencedor do Royal Rumble 1994, do qual saíria com a denominação King of Hearts. Morreu em Maio de 1999, no Over The Edge, quando caiu duma altura de 25 metros. Durante o intervalo comercial, na preparação para a sua entrada em rapel, a corda partiu e nem o facto de Owen embater no turnbuckle amparou a queda. Estava morto mais um Hart, num trágico acidente ao vivo. É escusado procurar o momento fatal, pois tal se verificou quando o PPV estava interrompido para anúncios.
O máximo que encontrei na Internet foi vídeos e imagens do funeral e da retirada de Owen do ringue para a ambulância. Para aqueles com maior curiosidade mórbida, nem o Assustador pode ajudar aqui. Na época do acidente, tinha-lhe sido dada uma personalidade face com o disfarce de Blue Blazer e o combate no Over The Edge seria contra GodFather. Owen não era tão bom quanto o irmão mais velho no aspecto de luta, mas não ficava nada atrás e, inclusive, batia-o aos pontos na eficácia das promos e no carisma.
Owen desempenhava muito bem o papel de heel e teria sido interessante vê-lo a face, apesar de quando o foi ter sido como Blue Blazer, personagem muito criticada por ser considerada patética e indigna dum Hart. Não saberemos como se teria saído neste cenário rocambulesco, mas fica a certeza de, em cada visualização de vídeos seus, ficarmos 100% satisfeitos com a determinação, raça e atitude demonstrada por este grande wrestler, cuja força de viver não foi suficiente para colmatar uma falha que devia ter sido evitada. Recomendo o combate contra Ken Shamrock na Hart Dungeon, simplesmente brutal. Deus te guarde, King of Hearts!
British Bulldogs foi a equipa que juntou os primos Davey Boy Smith e Tom Billington, mais conhecido como Dynamite Kid, considerada por muitos a tag team de topo da história do wrestling. Ambos começaram as suas carreiras em Inglaterra, formando equipa devido à sua relação familiar. A sua feud mais conhecida foi contra a Hart Foundation, dos cunhados de Davey – Bret Hart e Jim Neidhart. Foram capazes de produzir uma série de combates estonteantes, que ajudou a elevar ambas as equipas. A sua última aparição foi no Survivor Series 1988, a seguir ao qual saíram da WWF, onde foram campeõs de duplas por uma vez. Nenhum dos dois teve um destino feliz nos anos subsequentes: Davey Boy Smith morreu em Maio de 2002, com ataque cardíaco.
A autópsia revelou que o uso de esteróides anabolizantes teve papel relevante na causa da sua morte. Dynamite Kid está hoje fechado em casa numa cadeira de rodas e com problemas respiratórios, aparentando fraqueza física e parecendo muito mais velho do que aquilo que é (tem 55 anos). As suas entrevistas ou depoimentos são muito esporádicos por causa da sua dificuldade em falar e da sua voz que se tornou arrastada e imperceptível. Um homem que não largou a sua profissão a tempo, segundo ele, porque precisava do dinheiro. Em actividade, sofreu uma grave lesão nas costas e ficou com distúrbios psíquicos.
Dynamite Kid era a atração da equipa, o high flyer, o homem das manobras perigosas e dos spots arriscados. Davey era mais completo e, a seguir a Bret, é aquele que está ligado aos Hart que eu mais gosto ver lutar. Deram tudo o que tinham e mais alguma coisa para um acabar por morrer novo e outro ficar incapacitado para o resto dos seus dias. Para isso, não valia a pena, rapazes. Um sentido bem-haja aos dois. Depois dos Legion of Doom, são a minha tag team preferida.
Hart Dinasty foi um grupo que esteve na WWE de 26 de Junho de 2007 a 15 de Novembro de 2010 e que consistia de Tyson Kid, David Hart Smith e da diva Natalya. O nome da equipa vem da conexão com a família Hart: Tyson foi o último a ser treinado na Dungeon, David é filho de Davey Boy Smith e Natalya de Jim Neidhart.
Em 2007, a WWE lançou o seu novo território de desenvolvimento – a FCW – para onde David, Tyson e Natalya foram transferidos, aliando-se. Na Raw de 26 de Abril de 2010, eles ganharam o Tag Team Championship, após derrotar ShowMiz. Quando o perderam, passaram a se desentender e Tyson Kid tornou-se heel novamente. A 5 de Agosto de 2011, David foi demitido da WWE e passou a treinar MMA para se tornar um verdadeiro lutador como o seu pai, para além de ir tendo performances em indies e procurando o seu espaço no mundo do cinema.
Todos juntos formavam uma equipa muito boa de apreciar em ringue, com David se assemelhando muito ao seu pai e Tyson sendo muito ágil e rápido na execução das manobras. Estiveram bem tanto como faces como heels e obtiveram algum destaque dentro do tempo de antena que a WWE lhes ia dando. Houve uma altura que me satisfez muito e que tive pena que se tenha ficado por um episódio da SmackDown, que foi quando Y2J Chris Jericho foi expulso da Raw e se quis aliar a eles na brand azul. Não me lembro se por serem faces e Chris heel ou se porque os guionistas tinham outras coisas planeadas quer para uns quer para o outro, a ideia não avançou, mas esse capítulo da Hart Dinasty marcou-me e fiquei com a sensação que podia sair dali algo refrescante e grandioso.
Como normal há uns anos atrás, quando uma equipa perdia o cinturão perdia posição no roster e, sem histórias definidas, a dissolução foi a solução encontrada, algo muito frequente (cof Crime Time cof). Não acabou por demorar a demissão dum e o estatuto de low card do outro. Natalya é uma toda o terreno, ou perde sempre ou é campeã, ora é face ora é vilã. O que eu sei que ela é é uma das melhores divas que lá estão, junto a AJ e Tamina, e destas a única que sabe lutar. Novidade recente foi o seu casamento com Tyson, na sequela da tradição hehehe. Temos, então, a família Hart mais unida do que nunca, mesmo depois de passarem pelas perdas por que passaram.
Este meu texto foi um tributo à família Hart e aos seus representantes. Quis com ele desfazer dúvidas acerca dos laços de parentesco que os unem.
Esta é uma família dedicada à arte que nós tanto gostamos e que muito ofereceu para a popularizar, portanto, tenho o máximo de respeito por todos eles. Foi o artigo desta semana, aguardem o próximo e deixem o vosso comentário. Muito obrigado e até à próxima semana!
9 Comentários
Bom artigo. Os Harts passaram por tanto.
A hart family é dos melhores grupos de sempre,grande artigo.
Bom artigo! Como sabem sou um fá de Bret Hart mas não acho que Owen fosse assim mais fraco do que Bret!
Por acaso amanha falo no Owen…e…
Eu não o considero mais fraco, só que o Bret no ringue é muito difícil de ser ultrapassado. O Owen lutava muito bem e tinha melhores promos e carisma que o irmão. Fico à espera de ler o teu artigo amanhã
Parabéns pelo grande artigo Miguel, estar fazendo um bom trabalho, também sou fã da hart family é puro Wrestling.
Obrigado, Roberto Barros!
Bom artigo. No entanto, e se quiseres aceitar este conselho, tenta evitar coisas como “lol” e “hehehe” num artigo. Fica muito mal…
Gostei do tema. A Hart Family é a mais lendária da história juntamente com a família Anoa’i.
Obrigado, Daniel! É claro que aceito esse conselho, apenas uso esses exemplos que deste para realçar uma piada. Há quem meta smiles e eu não sou especialista em usá-los, daí por vezes inserir um lol ou uma risada, fica até mais pessoal no contacto com o leitor e enfatiza uma piada ou uma ironia que podia ter ficado despercebida a quem lê. Neste artigo, a piada que me lembro de mandar foi por o Stu Hart ter treinado lutadores que futuramente casariam com as suas filhas, é uma coincidência engraçada e que quis elevar com uma ponta de humor.
Fico contente que gostes do tema, como não sigo wrestling a tempo não falo tanto sobre o que acabou de acontecer e tenho de ir buscar coisas passadas e que mantenham algum interesse e que as pessoas gostem. Até para a semana e obrigado
Adorei o artigo, Miguel! No Sharpshooter #20 deixei claro porque a família Hart é a minha preferida. Eu gosto muito deles pelo talento que possuem e pela história que tem dentro da WWE e do Wrestling em si.
P.S.: Ah… Natalya!