Ora muito bom dia a todos! Nesta semana em que temos a volta do concurso das noites da RTP, apresentado por Manuela Moura Guedes, irei pegar numa notícia saída aqui no site que expressa o desejo de Santino Marella vir a tornar-se campeão mundial de pesos pesados. Como habitualmente, apresentar-vos-ei uma pequena biografia deste falso italiano, a que adicionarei a minha opinião, seguido da constatação das possibilidades e da coerência de tão enorme vontade se poder tornar realidade. Posto isto, segue-se o artigo de hoje!
Anthony Carelli (Ontário-Canadá, 14 de Março de 1979) é um lutador que trabalha na WWE sob o nome Santino Marella, onde foi duas vezes campeão Intercontinental, uma dos EUA e uma campeão de duplas com Vladimir Kozlov.
Antes da sua estreia na Ohio Valley Wrestling a 12 de Abril de 2006, lutou artes marciais mistas no Japão, onde era judoca. Foi nos EUA que teve aulas de Pro-Wrestling no território de desenvolvimento da WWE, onde passou a lutar sob o nome Johny GeoBasco, personagem com a qual se envolveu num incidente com o roteirista Jim Cornette -após uma história em que deveria fingir temer Boogeyman, riu-se! Por certo, o inexperiente Carelli não era tão bom actor anos atrás e cedeu à tentação do riso durante uma storyline que se queria de terror! Jim gritou com ele e agrediu-o, o que causou a sua remoção do cargo! Carelli começava com o pé esquerdo na representação mas teve a sorte da reacção intempestiva do booker, pois se Jim não se tivesse voltado a ele daquela maneira e mantido a calma e uma postura adequada, quem teria sido prontamente despedido era o atleta canadiano! Com toda esta situação, Paul Heyman tornou-se o novo roteirista e mudou-lhe o nome para Boris Alexiev, gimnick de nacionalidade russa, que foi contratado pela WWE a 11 de Agosto de 2006.
Esta é, claramente, a gimnick por que todos suspiramos ainda, como meio de salvação dum individuo que tem muito mais para dar em ringue do que aquilo que nos traz nas suas poucas aparições em TV.
Qual de nós nunca viu vídeos de promos e combates deste Boris Alexiev no Youtube e se pôs a pensar e a comparar o que podia ter sido se a WWE tivesse pegado nesta criação de Paul Heyman e inseri-la no plantel principal? Pelo que eu vi, Carelli interpretou muito bem o estereótipo de máquina de guerra russa, aquela escola de combate e de fabrico de homens para a guerra, tendo muito presente todo aquele cenário que imaginamos quando pensamos nesse país: neve, clima gelado e pesado, Kremlin, comunismo de Lenine e Estaline, físico possante e cara de poucos amigos, troublemaker, sotaque acentuado etc… Mesmo sendo baixo (não chega ao 1,80 metros) e com 106 quilos, ele aparentava um físico impressionante e uma potente disposição em ringue, novamente vincando os traços soviéticos de luta. Pareceu-me ser um adversário temido por qualquer um e as promos reforçavam esse lado de destruidor em massa que era Boris Alexiev. Esta identidade não foi aproveitada pela WWE e, quando houve alguma hipótese dela ressurgir, como na aliança com Vladimir Kozlov (em que saiu tudo ao contrário), não foi posta em cima da mesa. Certas características que pertenciam a Boris foram colocadas em Vladimir, como a expressão facial rigida e sem contornos que não os de intimidação e o finisher com o apropriado nome de Iron Curtain (quem estudou a Guerra Fria, URSS etc sabe a que se refere esta cortina de ferro). Tendo deixado de lado esta faceta, vamos agora ver como se processou a sua estreia na equipa principal e quais os planos a ele destinados.
Durante a Raw de 16 de Abril de 2007, em Milão, ele fez a sua estreia no elenco principal da companhia, quando Vince McMahon o escolheu (Santino Marella, baseado no nome real de Gorilla Monsonn) da plateia para defrontar Umaga pelo Intercontinental Championship num No Holds Barred. De russo a italiano, este canadiano de origem apanhou todos de surpresa e, desempenhando uma carachter italiana e sendo a Raw em Itália, teve o público a puxar por ele nesse desafio. Quem poderia prever que um mero espectador subisse ao ringue e capturasse um título nesses dias muito prestigiado na empresa? Foi isso mesmo que Vince pensou quando teve de marcar uma defesa do título para o seu associado Umaga. Bobby Lashley, em disputas com Vince e o seu sócio, interferiu na luta, permitindo que Santino vencesse. Foi uma das estreias mais auspiciosas e arriscadas que a WWE já desenvolveu, mas ao mesmo tempo das mais sensacionais e divertidas deste milénio! À história ficcional de Santino eram adicionados factos verídicos, dizendo que ele viveu no Canadá e que se havia mudado para os EUA para treinar Pro-Wrestling. Ele manteve o Intercontinental Championship por três meses, quando Umaga o recuperou a 2 de Julho, após o qual começou a comportar-se como um vilão, tornando-se possessivo e ciumento com a sua namorada kayfabe, Maria, que tinha sido escolhida para pousar nua na revista PlayBoy. Não tendo conseguido convencê-la a recusar a proposta, tentou sabotar a produção, o que provocou o término do relacionamento.
Na Raw de 14 de Julho de 2008, após desafiar qualquer membro do roster, foi derrotado pela Diva Beth Phonenix, com quem formaria um casal nas semanas seguintes. No SummerSlam, ganhou pela segunda vez o Intercontinental Championship, num combate de tag team misto com Beth Pheonix contra Kofi Kingston e a campeã feminina Mickie James, que, pela estipulação, perderia o seu cinturão para Beth. Durante esse reinado, decidiu bater o recorde de Honky Tonk Man (64 semanas com o título), porém, na Raw de 10 de Novembro, perdeu-o para William Regal. Na luta Royal Rumble de 2009, foi eliminado por Kane, quebrando o recorde de menor tempo numa luta dessa espécie.
Após o anúncio duma Battle Royal para coroar a primeira Miss WM na edição número 25 do evento, tornou-se face, começando uma hístória na qual ele queria participar nessa contenda. Fantasiado de Santina, irmã gémea de Santino, saiu vencedor. Na Raw de 22 de Junho de 2009, Donald Trump demitiu-a, acabando com a história.
Façamos uma pausa aqui. Depois de se desligar do seu alter ego russo e de se estrear a ganhar um título assumindo o papel de italiano, temo-lo envolvido com mulheres (no que diz respeito ao wrestling)? A sua alteração para heel foi precipitada e ainda mais o foi a junção a Maria. Se podemos detestar a relevância do face que é desde há 4 anos, em 2007 ele era-o duma forma inteligente e bem realizada, recebendo grandes pops, tendo boas rivalidades e mostrando qualidades em ringue. À primeira perda do cinto, mudam-no para heel. E para quê? Para adoptar a ideia do heel convencido que lança desafios para o balneário e que acaba por ser derrotado por uma diva? Para se unir a ela e ser menos masculino que a Beth? Ou será para estabelecer recordes negativos e, outra vez face, ir em busca duma designação de Miss? Que raio se passou ali para eliminar o ímpeto dos seus primeiros meses? Gorada a esperança na besta que era Boris, bem suplantada pela estreia como Santino, não arranjaram melhores storylines que não envolvê-lo em palhaçada e estava marcada (definitivamente?) a conduta que tomaria daí para a frente – pau para toda a obra, ou melhor, para toda brincadeira.
Em 2010, passou a tentar formar uma dupla com Vladimir Kozlov, que recusou até à Raw de 19 de Julho. Eles ganharam o Tag Team Championship numa luta envolvendo os Usos, Nexus e Mark Henry e Yoshi Tatsu. A 30 de Janeiro de 2011, Santino competiu na Royal Rumble, sendo o segundo colocado e tendo pregado o susto da noite quando caminhava para a vitória. Dois dedos de testa e um pouco de bom-senso acalmariam os cavalos, já que o outro resistente era Alberto del Rio. Ainda assim, ficou um bom registo seu nos espectadores, embora ninguém acreditasse numa reviravolta daquelas ou que ele conseguisse atraiçoar o vilão latino para a vitória. No Elimination Chamber, perderam os títulos para Heath Slater e Justin Gabriel. A 5 de Agosto, Vladimir foi demitido, acabando com a dupla. A partir daí, quando não competia a solo, vinha acompanhado por outro mal tratado – Zack Ryder. Tal como eles separados, juntos também não foram levados a sério, sendo mais uma equipa brincalhona que vencia os heels do low card para as crianças se sentirem bem, nunca tendo sido uma tag team oficial, apesar do nome Cobro evidenciar o contrário. Na Elimination Chamber pelo World HeavyWeight Championship, eliminou Cody Rhodes e Wade Barrett, fazendo um brilharete e mostrando finalmente boas indicações dentro das limitações impostas pela parva postura que lhe concederam. O esforço vinha sendo compensado nestes grandes PPV’s e, a 5 de Março de 2012, derrotou Jack Swagger para ganhar o USA Championship, perdendo para António Cesaro no SummerSlam. Depois dum tempo fora dos ecrãs, retornou a 9 de Setembro último, derrotando António Cesaro. Uma grande vitória no seu regresso, regresso esse que podia ter servido para alterar alguma coisa que esteja ali a impedir o tal sonho que ele tem e que confidenciou numa entrevista de rádio. Mas como veio igual dificilmente alguém o vê como campeão dum major title. Sejamos francos, a personagem Santino é um palerma que, sim senhor, nos dá momentos de boas gargalhadas e que até pode de vez em quando ganhar a um main eventer, mas é essa pura sorte em algumas vitórias que o tornam fraco aos olhos do público e um vencedor apenas em lances fortuitos.
Quantos combates já ele ganhou em que não acredita sequer no resultado? Ele fica deslumbrado por obter vitórias, ele rebaixa-se a si próprio! Devo dizer que muita sorte tem ele por já ter possuído os títulos secundários que a WWE tem para oferecer, principalmente quando eles ainda valiam alguma coisa há 6 anos atrás. Toda a gente quer alcançar o objectivo dum campeonato da WWE ou mundial de pesos pesados, mas assim como está não entendo que esse desabafo possa concretizar-se. Não é de ontem que Santino, com espaço perdido na programação, vem reclamando da sua posição dentro da empresa, certo é que daí até ser campeão de algo maior vai uma longa distância, até porque não perspectivo que a WWE se queira livrar dum actor cómico, duma pessoa pronta para o trabalho e a cumprir um papel que sempre existiu – o de entreter a audiência com mais teatro do que luta livre.
Tal desconsideração para com semelhantes planos está à vista com este reaparecimento que em nada difere de anteriormente. Eu só acho que dava para continuar a fazer promos e segmentos engraçados com ele mas quando chegasse a hora de lutar isso não influenciasse tanto o seu desempenho. O mesmo se poderia aplicar ao seu parceiro dos CoBro. Afinal, outros atletas houve que gostavam de contar a sua anedota mas quando era para medir forças faziam-no com convicção. Aquela combinação de moves no curto comeback que protagoniza em ringue é muito pouco para o que ele evidenciou saber fazer noutras paragens e o finisher é completamente deplorável e surreal, aquilo não é um Samoan Spike nem um Mandible Claw, é uma asneira pegada.
A solução dum heel turn para revirar o seu estatuto ao contrário é facilmente descartável e não está sequer nas cogitações McMahonianas. Podia-se usar algo em volta da máfia italiana, é verdade, e gostando a WWE de copiar factores culturais os filmes do Padrinho podiam dar aqui uma ajuda. Não havendo nem reconsideração de atitudes nem turn, não prevejo que o seu futuro passe perto daquilo que ambiciona. Se por acaso os argumentistas estivessem para aí virados, um push como aquele aplicado aos Usos que, progressivamente, foram se tornando ameaça aos títulos de equipas, seria bem-vindo. Vitória após vitória, saindo por cima e credibilizado, podia ser que resultasse e fosse visto como candidato ao WHC, retirando-o de ADR, como resposta ao que aconteceu há 2 anos no RR. Não seria descabido, Santino poderia afirmar ter quase ganho esse combate, que foi das primeiras conquistas do mexicano dentro das novas portas, e concretizava-se assim novo confronto. Não se pegando em nada disto, uma Battle Royal para definir o contender seria o mais natural de acontecer e Santino como campeão face seria o alvo para a cobrança da mala de Damien Sandow.
Quanto a uma possível repescagem de Boris Alexiev que tantos fãs anseiam, tal parece-me totalmente descabido, se foi rejeitada em 2007 não era agora que iria ter utilidade. Eu gostava que aquela ligação a Vladimir Kozlov pudesse ter tido outro objectivo. Santino andou a moer o juizo ao heel russo para que deixasse as forças do mal e fosse construir castelos na areia com ele. Conclusão, Vladimir durou mais um ou dois anos na penúria e foi despedido. Santino deu cabo dele! O que podia ter acontecido era essa insistência gerar o seguinte:
Santino queimava os fuzíveis a Vladimir para que ele lhe desse atenção numa revelação, a revelação de que eles se tinham conhecido antes, nomeadamente na Rússia! Santino transitaria do sotaque italiano para russo e Vladimir começava a lembrar-se dele. Tudo não passara duma farsa e o italiano camuflado assumia ser Boris Alexiev. Arranjava-se uma qualquer justificação para ter escondido naqueles anos o seu verdadeiro eu e juntavam os dois compatriotas numa Tag Team vilã. Preferiram manter o comediante na mesma e efectuar o turn facilmente ao outro, arruinando-o e selando-lhe o destino cómico. Esta era a minha visão de como salvar dois razoáveis lutadores. Não quero com isto dizer que Santino esteja perto da saída, apesar de ter aberto um centro de treinos de artes marciais mistas e luta profissional em Julho do presente ano, que o manteria ocupado.
Aos 34 anos, Santino tem razões para querer mostrar mais o seu valor, não constato é que lhe liguem a mínima importância. Eu só espero é que ele seja bem pago por fazer o que faz – esconder atributos e encarnar uma personagem muito limitada e com intuitos a que qualquer outro wrestler não se sujeitaria. Ossos do ofício…
Espero que tenham gostado da minha análise, concordando ou não com ela, e que tenham percebido o título. Manifestem-se e dêm a vossa opinião sobre este atleta e as suas ambições. Quanto a mim, finalizo com os movimentos de finalização e os signature moves que vem apresentando nestes seis anos que o conhecemos. Até para a semana!
Movimentos de finalização: Diving Headbutt 2007-2009
Swinging NeckBreaker 2007-2009
Cobra 2009-presente
Secundários: arm drag, belly to belly suplex, camel clutch, hip toss, jawbreaker, roll up
12 Comentários
É um desperdicio a utilização de bons wrestlers para este tipo de papeis. Penso que seria possivel o WHC, afastando o Santino durante uns meses, voltando depois com uma nova atitude, uma nova gimmick e uma onda de vitórias contra wrestlers importantes.
varias possibilidades podem acontecer:
quem sabe o santino seja só um campeão de transição para o cashi do sandow,
sera que o delrio vai sofre dois cashi em um ano,e o rvd estar preste a se ausentar
tudo pode acontecer em relação ao momento do titulo do whc
Eu acho que uma construção credivel para o Santino ser WHC levaria mais de um ano. Não dava para o cash-in do Sandow, mas dava para o proximo, por exemplo.
Não sei até que ponto um cash-in do Sandow no Santino ia credibilizar o primeiro como campeão…
Bom Artigo Miguel, muito completo mesmo!
Marella começou da melhor maneira, é um bom wrestler pena esta sua gimnnick, mas por vezes consegue cativar!
Ser campeão com esta personagem atualmente? Talvez não seja o melhor caminho para o titulo que pertence a Del Rio!
Bom artigo, Miguel!
Digo e repito: Anthony Carelli é um grande talento!
Apesar de cumprir muito bem o seu papel como “comedy act”, continuo a achar que o seu destino poderia ter sido outro! Quem sabe, se não tivessem sido tomadas determinadas decisões no passado, ele fosse um upper-midcarder credível por esta altura, pelo menos!…
Enfim! Pelo menos, sempre teve o seu tempo de antena e as suas conquistas nos títulos secundários!… Já não é mau para uma gimmick daquelas!
Não me vou alongar muito sobre este texto pois não tenho muito conhecimento sobre o Santino fora da personagem, e peço que se disser alguma barbaridade, que me corrijam.
Do pouco que vi do Santino como Boris Alexiev, pareceu-me ter uma capacidade bastante atlética e executa aqueles “arm drag´s” de uma forma milimétrica!
Duvido que ele alguma vez deixe de ser Santino … A personagem está mais que consolidada, é um excelente vendedor no que ao marketing diz respeito, consegue sempre ter “pop” e tem o feliz dom de nos descontrair no meio de um card intenso!
Não sei se o seu move-set é assim tão fraco ou se é a gimmick que o reduz, mas acho uma completa babuseira chamar ao Boris de “Main-Eventer”… (não me refiro a ti Rocha, mas a pessoal que já vi comentar aqui no site)
Li este artigo ontem mas esqueci-me de um comentar… lol
Mais uma obra de arte e continuo sem perceber como tens tão poucos comentários. Destaco a parte em que dás aquela ideia de o Santino, na altura em que se juntou ao Kozlov, relembrar este último de que se encontraram algures no passado na Rússia. Eu contratava-te já para “booker”.
Obrigado Daniel, tenho conseguido artigos frescos porque as recentes notícias publicadas aqui no site sobre a WWE têm dado para isso, quando diminuírem tenho temas mais distantes como recurso.
Sim, se a ideia fosse essa era verosímil: o Santino andava a chateá-lo e o Vladimir não lhe ligava nenhuma. Tinhas aí uma distracção para o público, que pensaria que o bobo iria tornar o russo face e iriam começar uma equipa cómica.
Seria um OMG moment ser-mos enganados e ser o Santino a virar heel e a despir-se do italiano e a vestir a pele de Boris. Infelizmente, não houve surpresa nenhuma e o Vladimir não está mais na empresa, apesar de me ter rido algumas vezes com ele e o seu parceiro
Parabéns Miguel, excelente artigo.
Este Santino com a personagem de Boris Alexiev, poderia eventualmente formar uma dupla com o Alexander Rusev, o que acho praticamente impossível, uma vez que o Koslov já se foi. Seria bastante interessante ver uma Tag deste género.
Grande artigo! 😉
Muito obrigado, Micael Duarte!