Sejam bem-vindos a mais uma semana deste vosso espaço aqui no Universo! O assunto de hoje é uma familia que se estreou na equipa principal da WWE há uns meses e está, de há umas semanas para cá, a ver revista a sua posição dentro da empresa. Eu irei contar um pouco da sua história, resumir estes meses de casa e perspectivar as vantagens que terão nesta colocação perante obstáculos de maior valia.
A Wyatt Family é uma stable heel, que consiste no líder Bray Wyatt e os seus seguidores Luke Harper e Eric Rowan, tendo o seu debut na promoção NXT a 7 de Novembro de 2012 e a ascensão à WWE propriamente dita no Verão deste ano. A personagem de Bray Wyatt foi desencadeada em Abril de 2012 no território de desenvolvimento FCW, mais tarde ultrapassada nessas funções pelo NXT. Bray foi retratado como o líder dum culto maléfico que acredita que é mais monstro do que humano, o que provocou comparações com outras personalidades do oculto bem conhecidas dos fans. Em Julho, sofreu uma torção do músculo peitoral e recorreu a cirurgia. Apesar do seu estado de saúde, continuou a aparecer no NXT, fundando uma facção em Novembro, conhecida como Wyatt Family, com Luke Harper e Eric Rowan. Estes dois entraram no torneio pelo Tag Team Championship da brand amarela, sendo derrotados na final por Oliver Grey e Adrian Neville. Entretanto, Bray tinha o seu primeiro combate pós operação a 21 de Fevereiro do corrente ano, derrotando Yoshi Tatsu. No episódio gravado a 2 de Maio, Harper e Rowan ganharam o Tag Team Championship.
Bray, sob o ring name dum cão, foi um dos participantes da segunda temporada do NXT, sendo admitido nos Nexus em Outubro de 2010. Em Janeiro de 2011, foi atacado por Randy Orton com um pontapé na cabeça, que serviu como angle para retirá-lo da TV e devolvê-lo à FCW. De cabelo meio comprido e a barba estilizada, sempre calado, carrancudo e com uma barriga a precisar duma definição, não impôs respeito a ninguém. Era só mais uma peça do fraquíssimo conjunto a que se chamava Nexus, com alguns potenciais main eventers mas completado com muitas escolhas de reserva. Eis que HHH pega nas camadas jovens e um gajo por quem ninguém apostava um euro que fosse ressuscita, deixando crescer mais o cabelo e soltando uma barba desgrenhada, a que juntou elementos assustadoramente reais dum americano da zona azul, de caractér rude e sociopata. O imaginário de terror que transporta consigo não pode ser tomado como semelhante aos que já existem na WWE, porque é muito mais verdadeiro e realista. Para quem aprecia filmes de horror como eu, identifica facilmente nele traços redneck – termo utilizado nos EUA para nomear o estereótipo do homem que mora no interior do país, um sulista conservador e racista. Em Portugal, é traduzido por “saloio” ou “campónio”. A partir do episódio da Raw de 27 de Maio, vinhetas promovendo a chegada da Wyatt Family mostravam as suas origens afastadas da sociedade e Rowan usando uma máscara de ovelha. A mim, estes vídeos assustavam no sentido realista da desumanização das classes baixas. Faziam-me lembrar aqueles vizinhos estranhos e macabros dos filmes de quinta categoria, a quem temos medo de ir bater à porta mas, de certa maneira, curiosidade em espiá-los, segui-los e entrar-lhes pela casa às escondidas, a fim de desvendar o que escondem com o seu comportamento estranho. Esses pequenos vídeos conseguiam passar o cheiro da febre dos pantanos, os rituais lunáticos, as cabanas com iluminação a petróleo, todo aquele cenário a recordar a série de livros e de TV “Arrepios”. A máscara de Rowan recorda aquilo que qualquer um de nós prefere esquecer quando come um pedaço de carne: a criação de animais para a matança. É, portanto, um sentimento de susto perante o lado negro da raça humana, pouco dado à parte emocional e mais calculista e racional. O attire de Harper é o dum mecânico e o de Bray apoia-se numa camisa havaiana e num chapéu de palha, uma roupa prática para alguém que tem o dom da palavra, de convencer e de liderar um “rebanho de ovelhas”.
A sua ring entrance é algo de único dentro da WWE. Enquanto muitas das entradas em ringue seguem um padrão similar, a dos Wyatt é notável por ser mais lenta e atipica. No principio, as luzes são cortadas, um clip passa no Titantron, começando com um som imperceptível da palavra “death”, acompanhado da imagem da máscara de Rowan. O vídeo continua com Bray apagando uma candeia, dizendo “We’re here” (estado de afirmação condizente com a “We’re coming” antes da estreia). A música de entrada – Broken Out in Love (Live in Fear), linda por sinal! – toca e eles iniciam uma marcha lenta até à arena, antes das luzes se acenderem de novo. Nos combates da equipa dos seus discipulos, Bray senta-se numa cadeira de baloiço no final da rampa de acesso ao ringue, mais um adereço rústico da sua gimnick. A seguir à de Taker, esta perfila-se como uma das mais épicas e marcantes ring entrances na história da luta livre, contudo, precisa de ser estimulada, isto é, os intervenientes têm de ter crédito para fazer os seus adversários esperar e tremer com a intensidade que ela reflecte.
Fizeram o seu debut atacando Kane, numa Raw de Julho deste ano, continuando os seus ataques em wrestlers como R-Truth, Justin Gabriel e 3MB, mandando mensagens à Big Red Machine. Com isto, Kane desafiou Bray para um Ring of Fire Match no SummerSlam, o qual ele aceitou e ganhou, após a interferência dos seus aliados que, a seguir ao combate, finalizaram o segmento carregando-o dali para fora. A 30 de Setembro na Raw e 4 de Outubro na SmackDown, declamou mensagens misteriosas a Kofi Kingston, levando a um combate no Battleground, ganho por Bray. Na noite seguinte, apareceram no Miz TV para atacar o apresentador. No Hell in a Cell, Miz chamou o chefe do grupo para um ajuste de contas, mas foi apanhado num embuste pelos outros dois. Na Raw seguinte, atacaram Punk e Daniel Bryan. A interacção continuaria com o debut singular de Harper, que perderia para o Best in the World.
A primeira vitima do culto demoníaco não podia ser outro que não o Devil’s Favorite Demon e era plausível e expectável que assim fosse, como que uma demonstração de poder malévolo superior. Podia ter saído daqui um avivar de memória de quem Kane realmente é, com uma junção ao colectivo aquando do seu retorno, mas a repetição da receita tantas vezes aplicada para justificar heel turns foi ignorada. A Wyatt Family ganharia aqui a sua catchprase principal – “follow the buzzards”. Seguir-se-iam vitórias e ataques a lutadores de fácil alcance, o que pode ser criticado mas que eu considero coerente para espicaçar o alvo maior (Kane), não se indo envolver com alguém do mesmo nível ou superior a este. O combate no SummerSlam deixou muito a desejar, não sei se Bray estava com receio de se queimar ou a acusar a pressão, porque foi o veterano a carregar os acontecimentos. Bray parecia ter-se remetido aos tempos de Husky Harris, não mostrando nada de espantoso em ringue, levando 4 ou 5 Chokeslams e sendo dominado a maior parte do encontro. Está bem que Kane tinha de se vingar e, como sairia por baixo no final, teria de fazer algo pela sua imagem, mas vimos muito pouco de Bray neste PPV. Os motivos da máquina vermelha em querer punir os Wyatt condicionaram e deixaram claro quem ganharia, pois, à medida que ia deixando Bray estendido no tapete, não procurou a cover, o importante não era ganhar mas livrar-se deles. Gostei de como Harper e Rowan se desenrascaram para extinguir o fogo e entrar em ringue, porém, foi só isso que me surpreendeu. Nota 10 em 20 para esta primeira prova de fogo (literalmente!).
Uma semana bastou para que umas ameaças sem muito sentido conduzissem a uma disputa com Kofi no novo PPV da companhia. Rivalidades à mid card, para quando é preciso acrescentar lutas no programa mensal… Miz foi o próximo a sofrer às suas mãos e eis que chegam à malta da pesada: Punk e Daniel Bryan! Tudo porque os oficiais sentiram que era preciso elevar a família e tirar maior proveito deles. Uma óptima oportunidade, esperamos nós. Para quem pedia uma escalada monumental para estes gajos, acabou desiludido, eu, no entanto, acho normal toda esta storyline, mesmo com os zigue zagues por onde andou. Os guionistas leram a mente dos fans e Kane aguardava por ser o primeiro a trabalhar com estes meninos. Nada de inovador ou revolucionário, mas não somos nós que ambicionamos o mais óbvio e pretendemos que a WWE não complique? As queixas dos squashes não têm fundamento, eles não iriam andar para lá a espalhar o pânico durante uma feud, isto serviu para deixar recados ao opositor. A seguir ao maior evento do Verão as coisas atrapalharam-se, aí sim temi pelo que estava por vir. A falta de planos abandonou-os da TV em alguns shows e ficava travado o ímpeto tão debatido pelas suas acções. Até que lá se lembraram de retomar o curso natural das coisas: vieram dois mid cards sem razão nenhuma, mas pronto, lá foram “convertidos”, e ultimamente a água tem fervido com estes desaguisados com “barras pesadas”. Não está tudo perdido, eles puderam ter sido um bocado esquecidos no meio de tantas prioridades, mas parecem estar a retomar o trilho e a merecer confiança reforçada com estas recentes picardias.
Bray Wyatt apresenta-se como o mais forte candidato a um futuro risonho dentro da empresa, seguido de Harper que, na minha consideração, é o que luta melhor, tendo Bray a alma de performer e uma qualidade ao microfone que tardara a aparecer e que se manifestou de forma belíssima. Um tom de voz perfeito, com pausas e ênfases nas alturas correctas, um discurso convicto, farão dele um dos expoentes máximos da arte da representação e de falar em frente a um público como não se achava há anos. Está aqui um caso sério e um exemplo que não coube no saco dos desperdícios, da intolerância e da impaciência. Muito insonso nos Nexus, aceitou progredir mais uma vez nas escolas de formação e o resultado está à vista. A WWE tem de se habituar a fazer mais disto, dar oportunidades, utilizar os treinadores no apoio aos jovens, estruturar o que está mal, bem como os wrestlers devem estar receptivos a alterações e a dar no duro pela concretização pessoal e profissional. Daqui, ou muito me engano ou só um deles possui o emprego em risco: o Eric não cumpre os requisitos minimos e está abaixo das expectativas. Bray pode ser imparável, pela gimnick que lhe calhou e o desempenho que faz dela, e Harper é um lutador que satisfaz e que pode oferecer alguma coisa dentro do mid card. Uma palavra para a aceitação daquelas barbas nojentas, é preciso querer muito estar ali para passear na rua com um aspecto daqueles! Não posso também acabar sem antes me debruçar sobre os finishing moves de cada um: os movimentos de finalização são importantes no inicio de toda a carreira dum desportista deste ramo. Bray tomou conta da “Sister Abigail” (Reverse STO), que para ser posto em prática tem de apanhar o adversário meio “grog”, gosto e acenta bem com aquela teatralidade toda. Agora Harper com uma Discus Clothesline e Side Slam e Eric com um Running Splash… A sério? Não havia melhor? Dois brutamontes horríveis não mereciam algo mais implacável? Depois não querem que eu me queixe da fraca rotatividade de finishers… Terei de fazer um artigo sobre a quantidade de gente que usa o Splash? Para finalizar, dizer que Bray, quando estudou no liceu, ganhou um campeonato estadual de luta livre, em 2005, e jogou futebol por duas temporadas com uma bolsa de estudo. Decidiu tornar-se lutador profissional um dia antes de receber o diploma da Universidade! Despeço-me por hoje com uma pergunta: Do you want to see something really scary? Fiquem na paz do Senhor! Até para a semana!
3 Comentários
E uma curiosidade para quem não saiba, o Bray Wyatt é irmão do Bo Dallas. É muito bom ver como conseguem desempenhar gimnicks tão diferentes!
Obrigado pela informação que a maioria desconhecia.
Excelente artigo.
Nome de cão? Husky Harris? Realmente, agora que falas nisso…