Olá, caros leitores! O meu quinquagésimo artigo à frente deste espaço irá passar em revista a carreira dum lutador recentemente homenageado no Corredor da Fama e que veio a falecer poucos dias depois, aos 54 anos. Ultimate Warrior saía do hotel para o seu carro quando apertou o peito e caiu inanimado com um ataque cardíaco fulminante.
A sua indução, a aparição na Mania e a promo na Raw seguinte seriam os seus últimos actos públicos. A sua despedida causou transtorno pela incapacidade de acreditar que um homem que voltara à TV passados 20 anos e estava ali diante dos nossos olhos pudesse estar morto poucas horas depois.
A vulnerabilidade da vida é isto mesmo e serve este texto como homenagem a esta lenda, que parece não se ter querido ir embora sem as honras devidas.
James Brian Hellwig (nascido a 16 de Junho de 1959) foi bodybuilder amador antes de iniciar a sua carreira no Wrestling, tendo começado a levantar pesos aos 11 anos.
Em 1985, fez a transição para as lutas profissionais, aceitando o convite de Steve Borden (que mais tarde teria sucesso como Sting), formando uma Tag Team sob a orientação de Dutch Mantel (Zeb Colter), na Continental Wrestling Association.
Em 1986, debutou pela World Class Championship Wrestling, renunciando para se juntar à World Wrestling Federation, onde adoptou o ring name Ultimate Warrior.
Há uma disputa sobre a criação do nome, com Bruce Prichard a afirmar que foi Vince McMahon, por causa de haver o “Modern Day Warrior” Kerry Von Erich e os Road Warriors da Legion of Doom.
Por outro lado, o próprio reclama que destacou numa promo gravada que não era um simples guerreiro, mas o derradeiro.
A sua estreia em TV deu-se a 25 de Outubro de 1987, ficando conhecido pelas suas enérgicas entradas no ringue, correndo a toda a velocidade pela arena.
Outros factores distintivos eram a sua pintura facial e o modo como abanava violentamente as cordas do ringue. Sofreu a sua primeira derrota para o futuro rival Rick Rude no final do ano, sofrendo mais duas em 1988 para André the Giant e Dino Bravo.
Venceu o Intercontinental Championship, derrotando Honky Tonk Man no SummerSlam inaugural, a 29 de Agosto de 1988, em 27 segundos!
No ano seguinte, começou a feud com o “Ravishing” pelo título, gerando um combate na Mania 5, onde o perdeu, recuperando-o no SummerSlam.
Então, iniciou uma feud com o gigante francês, realizando o pin numa questão de segundos em house shows, estabelecendo-se como talento de main event e sucessor de Hogan para maior estrela dos anos 90.
O confronto com ele ocorreu no Rumble 1990 e na Mania VI, com o World Wrestling Federation Championship e o Intercontinental em jogo.
Caberia a Warrior segurá-los simultaneamente, porém, como as regras da época ditavam a proibição dum lutador deter dois títulos individuais, o Intercontinental ficou vago.
Defendeu com sucesso o cinturão da empresa contra Mr Perfect e Ted DiBiase e numa Steel Cage Match contra Rude.
Em Janeiro de 1991, enfrentou Sgt Slaughter no Royal Rumble, antes do Macho Man Randy Savage ser introduzido como potencial rival, cujo pedido por uma “title shot” havia sido rejeitada.
A rivalidade culminou numa “Career Ending” na Mania VII, forçando Savage a retirar-se.
O próximo passo seria o encontro com Undertaker, só que uma disputa de pagamento com o patrão, a 10 de Julho de 1991, deitaria tudo a perder.
Numa carta enviada a Vince, requeria um novo contrato com a inclusão de 550 000 dólares pela sua performance na Mania VII, uma garantia de dias de trabalho, alojamentos nas viagens, uma percentagem elevada das vendas de merchandise e a promessa de que nenhum lutador ganhasse mais do que ele.
A 26 de Agosto, foi suspenso pelas suas exigências exorbitantes, suspensão que foi recusada e que levou à sua saída. Contudo, Vince contactou-o para um retorno, no qual receberia maior controlo criativo.
Foi marcado um combate pelo cinto de Macho Man em Agosto de 1992, não tendo vencido o título. Meses depois, foi libertado por abuso de esteróides.
Durante o seu tempo longe da companhia, abriu uma escola no Arizona e lutou pela International Wrestling Federation e pela promoção de Las Vegas National Wrestling Conference.
Teve o seu regresso no final de Março de 1996, derrotando Hunter Hearst Helmsley na Mania XII e desafiando Goldust pelo Intercontinental Championship, não o vencendo.
O contrato seria terminado quando falhou vários house shows pela morte do pai. Esta desculpa não emocionou Vince, que referiu que ele não vira o pai nos últimos 10 anos e que não se importava com ele.
Esta explicação foi refutada pelo Warrior, dizendo que a verdadeira razão pela não comparência nos eventos fora o não recebimento da percentagem do merchandise.
Assinou pela WCW, criando a storyline duma stable One Warrior Nation contra a NWO. Somente participou em 4 combates contra Jim Neidhart, Hogan e Bret Hart, retirando-se de seguida e só lutando um único combate 10 anos depois contra Orlando Jordan, em Barcelona.
A 5 de Abril de 2014, foi induzido no Hall of Fame, aparecendo na WrestleMania e na Raw de dia 7, fazendo um discurso aos fãs, durante o qual podemos agora falar de premonição, dado que abordou o tema da imortalidade e morreu um dia depois.
A seguir a ter sido declarado morto no hospital, foi reportado que estaria com dores constantes durante a WrestleMania.
Retirando-se formalmente em 1999, tornou-se um orador motivacional e comentador conservador, denunciando as políticas de esquerda, mantendo um blog onde discutia a sua vida privada, pontos de vista sobre a sexualidade, patriotismo e outros tópicos.
Alienando-se dos seus parceiros de ringue, foi descrito como um homem amargo por figuras como Vince, Hogan e Jake Roberts. A 27 de Setembro de 2005, um documentário focado na sua carreira conta com o comentário de HHH sobre a sua derrota na Mania XII, dizendo que lhe arruinou a experiência e que foi pouco profissional, provocando controvérsia e animosidade.
Com o reconcilio com a indústria antes da sua morte, alguns dos seus adversários ofereceram as condolências à família.
Embora a relação com o negócio tenha sido turbulenta, a WWE reconheceu-o como uma das suas lendas, descrevendo-o como intenso e enigmático.
Recebeu distinções das entidades competentes como regresso do ano em 1992, feud do ano com o “Fenómeno” em 1991, combate do ano com Hogan na Mania VI (1990), o mais sobrevalorizado de 1991, o menos favorito de 1990, piores feuds com André the Giant, Papa Shango e Hogan e pior Wrestler de 1988.
Eu não sou fã dele, mas sei separar a pessoa do que ela é, faz ou diz como personagem. Quando aqui discutimos sobre determinado lutador que não gostamos, não quer dizer que queiramos mal à pessoa, nós vemo-lo como parte do espectáculo que não nos agrada e não passamos os limites do aceitável.
Daí que eu não goste dele como superstar, pois acho que era protegido demais para aquilo que valia: três vezes “sole survivor” nos Survivor Series, squash de 27 segundos pelo cinto Intercontinental e contra Hunter e “retirou” a “Macho Madness”.
A passagem de testemunho de Hogan para ele foi positiva, mas nem por isso a prestação no ringue evoluiu dum para outro. Sei que ele tinha atributos suficientes para tal condição (é impossível ficar indiferente àquela música, à correria, aos adereços etc), mas nunca me convenceu.
Depois de tanto tempo sem saber dele, fui traído pela curiosidade desta aproximação ao “business”, e não me arrependo, não mudo de opinião por causa disso.
O Hall of Fame foi merecido, ninguém lhe tira mérito e eu muito aplaudo a reconciliação com aqueles com quem não queria estar relacionado.
Tapando os olhos ao “perdão por conveniência”, foi bonito ele ter partido com as coisas resolvidas e a aceitar entregar-se ao público mais uma vez.
Como este ciclo que passamos na Terra é tramado, pode-se verificar que ele estaria à espera desta bonificação para poder abandonar a vida em paz.
Algo que tem sido debatido é se esta volta não terá influenciado o ritmo cardíaco ribombante que acabou por ceder à emoção da semana agitada.
Não creio que seja por aí, tudo pode acontecer dum dia para o outro, foi assim que perdemos muitos dos nossos ídolos do desporto, cinema e música.
Lá que é uma coincidência tê-lo de volta para a seguir o vermos ir numa viagem sem retorno é. Ele deve estar com um sorriso lá no céu por nos ter pregado esta partida!
Foi este o meu depoimento sobre tão carismática individualidade que hoje preenche mais um lugar no Paraíso. Quero agora recordar neste # 50 que o “People’s Elbow” completa um ano de existência.
Um ano de cotoveladas que não seria possível sem o vosso apoio desde o Universo até aqui, a vossa leitura e comentários. Quero agradecer ao administrador ter-me mantido junto de vós e expressar o meu orgulho por fazer parte desta equipa.
Um bem-haja a todos e para a semana cá nos encontramos novamente!
4 Comentários
Grande artigo!Que grande homenagem ao Warrior apesar de não seres fã dele.
Parabens os teus artigos são sempre muito bons , eu quanto comecei a ver wwe ela ja não esta la mas pelo que vi eu acho que se nessa altura eu visse wwe eu era fa dele
Adorei. Não percebo como os teus artigos têm tão poucos comentários. Será falta de publicidade? A escrita é muito boa, o conteúdo está sempre presente… Enfim, vá-se lá entender.
Em relação ao artigo, também não sou grande fã do trabalho do Ultimate Warrior (nem daquilo que ele mostrava ser cá fora), mas é inegável o papel que ele teve na História da WWE, em particular, e do Wrestling em geral.
Obrigado, Daniel. Os poucos comentários talvez se deva a uma menor interacção minha com os leitores para lá da publicação do artigo. Como eu não apareço no chat e não comento artigos dos outros cronistas percebo que seja menos popular (entre aspas) e menos acessível ao debate.
Eu tento ultrapassar a minha limitação com o tempo e o atraso na programação da WWE (vou 2 meses atrasado) mas não é fácil, teria de fazer uma maratona ou passar dias inteiros dedicado a isto e não consigo.
Seja como for, com temas mais actuais ou retirados da caixa das surpresas, mais ou menos comentários, cá estarei até poder e conto com a tua visita e participação, o que reforça o meu espaço que é também de todos vós