Olá, caros leitores. A crónica de hoje será sobre lutadores desaparecidos, isto porque há poucas semanas se soube do suicídio de Sean O’Haire e eu não podia deixar de lhe prestar tributo.

Este tipo de artigos tem surgido desde o início do ano devido a infelizes situações de abandono da vida por parte de representantes deste desporto ou por ser meu desejo apresentar aqueles cujo contributo não é tão recordado ou que não se sabe sequer que já cá não estão.

Daí que desta vez vos vá falar do mais recente falecido e de outros merecedores desta distinção.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Sean Christopher Haire (25 de Fevereiro de 1971 – 9 de Setembro de 2014) ficou conhecido pela sua aparição na World Championship Wrestling e World Wrestling Federation.

Teve a sua estreia a 26 de Junho de 2000, aos 29 anos, no Nitro, derrotando Rey Mysterio e Juventude Guerrera ao lado de Mark Jindrak.

Em Agosto, os dois formaram os “Natural Born Thrillers” junto a Michael Sanders, Shawn Stasiak, Chuck Palumbo, John Stamboli e Reno, tendo no lugar de mentor Kevin Nash.

No mês seguinte, Sean e Mark venceriam o World Tag Team Championship.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Seria campeão uma segunda vez ao lado de Mark antes da separação, substituindo-o pelo parceiro da facção Chuck Palumbo. Pouco depois, a stable acabaria pela inveja que o sucesso da nova equipa traria.

A 26 de Março de 2001, a World Championship Wrestling foi comprada pela criação de Vince McMahon e os contratos dos dois foram repescados para fazer parte da “Alliance”, atacando os Hardy Boys, derrotando-os a 2 de Agosto e começando a feudar contra os APA.

Os Tag Team Titles foram perdidos para os Brothers of Destruction a 9 de Agosto, não tendo resultado a desforra numa Steel Cage. A sua última luta juntos seria no dia 26, defrontando Crash e Harcore Holly.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

O’Haire foi enviado para a Ohio Valley Wrestling, retornando a 30 de Junho de 2002, vencendo Justin Credible no Heat.

No princípio do ano seguinte, começou a aparecer vídeos seus dando conta da sua nova caracterização de “Devil’s Advocate”, incentivando o adultério, o não pagamento de impostos e não ir à Igreja, entre outras coisas.

No seu regresso ao main roster, convenceu várias superstars a fazer alguns destes actos indecentes.
A sua personagem incluiria a obsessão por aranhas e a tutela da lenda escocesa “Hot Rod” Piper.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Antes da sua personagem ser abandonada, obteve vitórias sobre Hogan, Chris Benoit e Eddie Guerrero, tendo, a partir daí, passado o ano 2003 no Velocity.

Nesta altura, esteve envolvido num acidente de mota e, quando recuperou, foi decidido que seguiria caminho fora da empresa.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

A rescisão do contrato de Piper a 26 de Junho terá sido decisiva para que algo que estava a ser construído fosse demolido logo de seguida.

Que culpa teve ele da saída do outro? Pelo pouco que vi, ele tinha potencial suficiente ao microfone para seguir por si próprio, tal como o visual e o aspecto corporal que se gosta de ver.

Entende-se o valor crescente que ia enfeitando o balneário desde que a maior corporação de luta livre mundial comprara a sua inimiga, só que foi desperdiçado muito daquele que residia no mid card.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Em Maio de 2004, foi trabalhar para o Japão, tendo a sua maior vitória sucedido a 17 de Julho contra Abyss, por desqualificação.

Mais tarde, foi para a Ultimate Pro Wrestling, reunindo-se com Chuck Palumbo e retirando-se par se focar nas Mixed Martial Arts.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Casou a 15 de Maio de 2005, anunciando o seu divórcio um ano depois durante entrevista de rádio. Foi preso por assalto ocorrido em Junho de 2004, mas foi solto após a acusação ser comprovada como falsa.

A 30 de Março de 2007, esteve envolvido numa luta onde fracturou a cara. Apesar de ter dito estar a ajudar um amigo, testemunhas relataram que foi ele que instigou a desavença.

A 9 de Setembro de 2009, foi detido por violência contra a sua namorada, não sendo declarado culpado. Tendo-se tornado “hair stylist”, era dono duma barbearia quando, a 9 de Setembro último, o seu pai o achou enforcado à cama da sua casa.

Segundo as autoridades locais, cometeu suicídio, sendo certo que, ao longo dos anos, enfrentou o abuso de drogas e a depressão.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Novato do ano 2000 para a Wrestling Observer, era detentor de finishing e signature moves como High Angle Senton Bomb, Reverse Death Valley Driver, Crucifix Powerbomb, Diving Clothesline, Diving Splash, Military Press Slam, entre outros.

Acaba desta forma a sua vida cheia de polémicas, o que quase desvaloriza o pouco que nos trouxe nos 6 anos em que subiu ao ringue.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Ray Traylor (2 de Maio de 1963 – 22 de Setembro de 2004), mais conhecido pela presença na World Wrestling Federation sob o ring name Big Boss Man, debutou pela companhia em Junho de 1988, com a caracterização de guarda prisional, baseada na sua profissão anterior.

O seu maior angle seria um ataque a Hogan no “The Brother Love Show”. Durante esta feud, desafiou Randy Savage pelo WWF Championship e formou a equipa “Twin Towers”, entrando em rivalidade contra os Mega Powers e sendo a peça chave na storyline do turn do Macho Man no Imortal.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Na quinta WrestleMania, derrotaram os Rockers e depois entraram na disputa pelo Tag Team Championship dos Demolition. Nos anos 1990, virou face e iniciou feud contra Bobby Heenan, ganhando uma série de combates contra os elementos da Heenan Family, incluindo Barbarian no Royal Rumble e Curt Hennig via desqualificação na Mania 7.

A 14 de Março de 1993, saiu e teve uma curta estadia na All Japan Pro Wrestling, retornando aos EUA para representar a World Championship Wrestling como “The Boss” e “Guardian Angel”.

Por todo o ano de 1994, rivalizou contra Vader, tornando-se heel no ano seguinte e derrotando Sting no Uncensored. No final de 1996, juntou-se aos NWO, desaparecendo até 1997, sob a gerência de Ted DiBiase.

Lutou contra a NWO e formou aliança com os Steiner Brothers. Após perder o seu último combate contra Goldberg, foi dispensado, a 30 de Março de 1998.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

A 12 de Outubro, voltou à antena da WWF, abdicando do seu fato azul da polícia para um uniforme estilo “Forças Especiais”, incluindo colete à prova de bala e luvas.

Serviu como guarda-costas de Vince McMahon durante a sua feud contra Stone Cold Steve Austin e os D-X, sendo membro da stable heel Corporation, vencendo o Tag Team Championship ao lado de Ken Shamrock.

O Hardcore Title passou-lhe pelas mãos 4 vezes e teve direito a uma Hell in a Cell contra o “Phenom” na Mania XV. Na divisão Hardcore, a sua maior feud foi contra Al Snow, antes de ir em busca do principal cinto, pertencente ao “World’s Largest Athlete”.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Durante a feud, ficou famosa a cena do funeral do pai de Big Show, no qual Boss Man proferiu afirmações desrespeitadoras, engatou o caixão ao seu carro e levou-o consigo.

Na Raw de 15 de Novembro de 1999, tornou-se candidato ao cinturão ao prevalecer sobre The Rock. No Armageddon, a feud terminou quando o “Maior Atleta do Mundo” reteve o objecto precioso.

No Heat de 19 de Março de 2000, introduziu Bull Buchanan como seu protegido, fazendo dupla para superar Godfather e D’low Brown na Mania.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Desapareceu dos programas televisivos, lutando no Heat, onde teve uma feud contra Crash até sofrer uma lesão em Janeiro de 2001.

Quando voltou, foi enforcer de Booker T, com quem formou dupla, separando-se em Janeiro de 2002, voltando a marcar presença no Heat até constituir nova Tag Team com Curt Hennig.

A 20 de Maio de 2002, perdeu o seu último combate contra Tommy Dreamer, claro está, no Heat… Assinou contrato para ir treinar no território de desenvolvimento Ohio Valley Wrestling, antes de ser libertado de modo definitivo.

As suas lutas finais dar-se-iam na International Wrestling Association of Japan, onde participou no torneio pelo vago World Heavyweight Championship, perdendo para Jim Duggan.

A 22 de Setembro de 2004 (faz agora 10 anos), faleceu de ataque cardíaco, aos 41 anos.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Foi dos poucos vindos da Golden Era que se conseguiu adaptar à Atitude Era, alterando aquela figura padronizada para algo mais digno de respeito.

Gostei quando foi o segurança do patrão, o que lhe concedeu maior visibilidade na sua nova personalidade. Vê-lo lutar tanto foi bom nos anos 80 quanto no final dos 90, a questão que o distingue nas duas décadas foi mesmo a conjugação dos novos factores oriundos das mudanças implantadas no negócio.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Foi pena que tivesse sido tantas vezes deixado em “stand-by” quando uma feud ou storyline acabava, tendo sido quase prata da casa no que ao Heat ou Velocity se refere.

Os signature e finishing moves de maior destaque deste matulão são o Side Slam, Big Boot, Big Splash, Body Avalanche, Spinebuster, Double Leg Slam.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Chris Candito (21 de Março de 1972 – 28 de Abril de 2005) é mais conhecido sob o ring name Chris Cândido ao ter trabalhado na World Championship Wrestling, Extreme Championship Wrestling e Total Non Stop Action

Por quase toda a sua carreira, actuou junto à sua parceira na vida real – Sunny – que fazia de sua valet e que conheceu e se apaixonou na Escola Secundária.

Começou a treinar aos 14 anos na Larry Sharpe’s Monster Factory World Wrestling Association e a ter performances no circuito independente.

Em 1995, assinou pela World Wrestling Federation, sendo chamado Skip, tendo-lhe sido dado o papel de “fitness guru” arrogante, fazendo flexões durante os combates.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Em Julho, começou uma feud contra o jobber Barry Horowitz, após este conseguir uma vitória inesperada sobre ele. A 27 de Agosto, no duelo no SummerSlam, o desfavorecido levou de vencida de novo.

A 19 de Novembro, no Survivor Series, os Bodydonnas (Cândido, Tom Prichard, Rad Radford e Sean Waltman) derrotaram os Underdogs (Horowitz, Bob Holly e Marty Jannetty).

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

A 6 de Janeiro de 1996, Cândido venceu Radford com a assistência do estreante Zip, introduzido como seu primo, passando a ser os novos Bodydonnas.

Em Fevereiro, o World Tag Team Championship ficou vago e os Bodydonnas ganharam o torneio para aceder aos títulos, mantendo-os até 19 de Maio. No final do ano, Cândido juntou-se à Extreme Championship Wrestling, sendo parte da stable Triple Threat junto a Shane Douglas.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Sob a alcunha “No Gimnick Needed”, desenvolveu rivalidade contra Lance Storm, com quem haveria de compor duo para conquistar o Tag Team Championship, a 5 de Dezembro de 1997.

Perdendo-o a 26 de Junho do ano seguinte para RVD e Sabu, foi para a World Championship Wrestling, a 16 de Março de 2000, vencendo o Cruiserweight Title a 16 de Abril e perdendo-o a 15 de Maio.

Nos anos 2001 e 2002, lutaria pela New Japan Pro Wrestling, estreando-se pela Total Non Stop Action em Janeiro de 2005.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

A 24 de Abril, fracturou a tíbia e deslocou o tornozelo durante uma Steel Cage Match, passando por cirurgia no dia seguinte.

Esteve na gravação do Impact com os “The Naturals” (Andy Douglas e Chase Stevens) para vencer os “America’s Most Wanted” pelo World Tag Team Championship.

Durante o dia 28, sentiu-se doente e a sua condição piorou, tendo um colapso e diagnosticado com Pneumonia. Os médicos alertaram para o estado do seu pulmão e procederam a operá-lo, só que ele faleceria pela complicação no procedimento, aos 33 anos.

Em sua honra, a TNA organizou o Chris Cândido Memorial Tag Team Tournament e, em 2009, foi induzido ao Hardcore Hall of Fame.

The People’s Elbow #72 – Heaven and Hell

Este deve ser dos desportistas mais esquecidos desta indústria e isso não é justo dada a sua qualidade. A sua polivalência é inestimável: de tolo com nome de detergente a voador, de violento a técnico, ele fazia tudo o que estava ao seu alcance para responder às distintas exigências de fundação para fundação.

Os seus últimos meses foram os melhores (a meu ver) e, apesar de não assistir ao produto de Dixie Carter, não pude parar de espreitar estes seus últimos actos.

A sua morte esquisita e repentina privou-nos dum executante de alto nível que se podia ter aproximado mais de outros. A falta de tempo ou de oportunidade não poderá ser resgatada, fica as memórias.

No seu arsenal estão os finishing moves “Blonde Bombshell” (Superbomb) e Diving Headbutt e entre as suas signatures mais usuais o Vertical Suplex, Superplex e Diving Leg Drop.

Foi o artigo desta semana, uma pequena recordação daqueles que, não sendo tão grandes, fizeram o que puderam no pouco que lhes foi permitido viver.

Quero pedir desculpa se estes temas não tão ligados ao presente ou à actualidade estão a ser mais do que vocês esperavam, acontece que estou atrasado na programação e, quando não sai nenhuma notícia estrondosa, vejo-me a ter de recorrer a eles para vos escrever.

Tentarei trazer dentro em breve assuntos atractivos e do quotidiano, até lá vão partilhando os vossos comentários acerca dos três citados.

3 Comentários

  1. thomambrose10 anos

    Ótimo artigo, infelizmente só conheci o grande Big Boss Man, dos outros 2 nunca tinha ouvido falar até hoje. E eu pesquisei o nomde deles a ver um pouco da carreira e alguns videos de combates deles, e tenho que dizer que se ainda tivessem vivos, podiam fazer um grande Impacto no futuro desta Indústria.

    Um artigo fantástico!

  2. Tenho que fazer uma vénia aos teus artigos, pois mostra uma dedicação tremenda.

    Muitos outros partiram antes do tempo mas dos teus visados fizeste uma excelente biografia!

  3. Conheço os 3, uns mais que outros. O que conheço melhor é o Big Boss Man e devo dizer que foi horroroso vê-lo numa feud pelo Título da WWE contra o Big Show. Não me parece que fosse digno de main-event e ainda bem que o Show manteve o título. Aquela cena do funeral é lendária, mas, pessoalmente, não gostei nada.

    O segundo que conheço melhor é o Sean O’Haire. Nunca me pareceu nada de especial, mas a gimmick de advogado do Diabo tinha muito para dar, mesmo que fosse apenas no mid-card. Pena que tenha sido prejudicado por factores exteriores.

    Quanto ao Candido, pouco conheço dele.

    Excelente trabalho, mais uma vez.