Bom, dou-vos as boas-vindas a um Top Ten tão triste. Que não tem porque o ser. Se é muito difícil ver um dos maiores ícones a já ter pisado um ringue, que nunca foi odiado, que nunca se meteu em problemas, que nunca teve conflitos com a companhia, que nunca teve má fama, a pôr ponto final na sua carreira, realmente temos que aceitá-lo e ver as coisas de outra maneira. Em vez de ficarmos tão naturalmente tristes, celebremos uma carreira como mais ninguém alguma vez terá.
É um Top Ten simples mas nada fácil. Estou a seleccionar dez grandes momentos de Undertaker e a chamar-lhe um “Best of”. Só com dez momentos, o que até acaba por ser cómico, reduzir a dez momentos. Mas cá se tenta, são dez grandes momentos e faltarão aí uns outros cem. É feito de memória e serve como homenagem e a destacar dez memoráveis momentos da carreira de Undertaker, que nunca esqueceremos. Claro que faltam muitos. Mas é quanto temos.
10 – Siga para uma voltinha!
Apesar de ter confeccionado aqui um Top Ten mais à base de grandes momentos e de longa duração, para abrir a contagem tenho algo mais breve, um simples segmento, e que entra mais para o lado do engraçado. Se me perguntarem a mim, até é hilariante. E envolve um dos nossos Hall of Famers favoritos. Agora que ele já é Hall of Famer. Holla holla holla, Teddy Long, pude markar à vontade para ele no Raw, sabendo que viria o Kurt Angle de qualquer maneira. E porque Teddy Long é sempre Teddy Long. E este lendário General Manager até parecia ter uma óptima relação com Undertaker, afinal qual era o seu segundo combate favorito, logo a seguir aos combates tag team? One-on-one with “DA UNDATAKA’!” Mas parece que nem sempre se deram muito bem e lá houve uma altura em que Undertaker a tinha pegada com o playa’. E apoderou-se da sua limusine para lhe dar uma boleia num segmento que não teve tanto de assustador como teve de hilariante. Buckle up, Teddy!
9 – O Morto regressa… Vivo!
A década de 90 não acabou da melhor forma para Undertaker. Uma lesão obrigou-o a afastar-se dos ringues por mais de meio ano. Acabava de sair de uma das suas fases mais negras, de mentoria dos Ministry of Darkness. E parece que foi ao 80 para depois ir ao 8, sem que isso seja algo mau. Aproveitou a pausa para se remodelar. E de que maneira. Já no ano 2000 e em tempos de supremacia da facção McMahon-Helmsey, durante um combate entre Triple H e The Rock, vem a surpresa. Undertaker regressa! Mas nada daqueles regressos com luzes a apagar, fumos e os sinos do costume. Este era um Undertaker diferente, um “American Bad Ass”. Um “biker” completo com mota, óculos-de-sol, bandana, os EUA no coração, onde também cabia uma cervejola gelada. Trocou a marcha fúnebre pelo rock moderno da altura interpretado por infames nomes como Limp Bizkit ou Kid Rock. Um novo Undertaker, drasticamente mudado! Ninguém se importou. Ainda para mais quando todos os da aliança McMahon-Helmsey levaram na boca. E tivemos um Undertaker diferente para variar. As trevas voltariam mas fica aqui, nesta era, uma interessante fase do nosso “Dead Man”… quando não era “Dead Man”.
8 – Ouro inaugural
Já vários recordes de Campeão Mundial mais jovem existiram e foram quebrados, como os de Brock Lesnar ou Yokozuna. Até mesmo Undertaker já teve esse recorde e foi esse que Yokozuna quebrou. Com 26 anos, Undertaker venceu o WWF Championship, no Survivor Series de 1991, um ano depois da sua estreia. Naquele tempo bem que se podia dizer que o Survivor Series era o seu “yard”, se estar a usar esses termos não vos fizer lacrimejar. E não foi para nenhum novato, outro jovem a quem quebraria um recorde, ou algum Campeão de transição. Foi logo a Hulk Hogan! Infelizmente não deu para ser tão perfeito como devia. A sua vitória apenas se deu com ajuda de Ric Flair e um rematch pelo título faria Undertaker perder o cinto logo seis dias depois. Hogan também não ficou a rir-se e os finais controversos de ambos os combates, obrigaram a medidas: título vago, a ser disputado no Royal Rumble de 1992, onde iria parar às mãos de Ric Flair. Pode não ter sido um reinado inaugural dominante mas deve sempre considerar-se especial o primeiro ouro, ouro dos grandes. O Survivor Series de 1991 ficará imortalizado como o local e momento em que Undertaker venceu o seu primeiro WWF/E Championship.
7 – “End of an Era”
Este ainda é relativamente recente para nos recordarmos bem. Sim, já lá vai um punhado de anos, já foi há mais tempo que o que nos parece mas foi um tremendo momento, daqui a vinte anos ainda nos lembraremos tão bem como agora e como no dia seguinte ao momento. Por esta altura já Undertaker era atracção anual de Wrestlemania e vinha sempre com o mesmo intuito: defender e manter a sua lendária streak. E queria vingar-se de Triple H, pela Wrestlemania anterior onde achava que tinha assuntos inacabados. Mas com todo o respeito, estamos afinal a falar de dois lendários lutadores, dos melhores que sempre recordaremos dos nossos tempos. Prenderam-se num Hell in a Cell com Shawn Michaels a arbitrar. E que combate! Ainda nos lembramos de estar sentados nas beiras dos nossos assentos a achar que a streak de Undertaker já chegaria ao fim às mãos de Triple H ou até mesmo do interferente Shawn Michaels. Nunca o conseguiram, Undertaker sobreviviu. Mas momento épico que ainda viria quando a competição acabava e chegava o momento de mostrar o respeito e adoração que aquelas três lendas tinham uns pelos outros. Ajudaram-se a carregar-se até ao topo da rampa onde absorveram uma comovente ovação de um público pasmado e nos deram esta imagem intemporal que aqui volta a aparecer e aparecerá muitas mais vezes. Ainda vimos mais competição de ambos. Mas ali acabava uma era…
6 – Adeus e muito obrigado!
Parece redutor ter um momento tão grandioso como este a meio da tabela. Se calhar outros verão a sua despedida como muito triste para ser incluída no seu melhor. É por esse balanço que se encontra no meio da tabela. Quis focar-me em grandes momentos que teve no pique da sua carreira mas a sua despedida, na passada Wrestlemania, foi um tremendo segmento, dos mais arrepiantes e emocionais a que já assisti. Quando Undertaker acabava de nos dar um combate físico em que saía derrotado por Roman Reigns, o público pôde aguentar por um pouco o escárnio que sentia pelo novo dono do “yard” e focou-se em Undertaker e em tentar controlar as suas emoções. Não sei se teve muito sucesso na segunda. Perante uma agradecida plateia que cantava em uníssono e lhe dava uma merecida ovação de pé, até na sua saída Taker deu espectáculo como ele só sabia fazer. Engrossou os nós na garganta de todos os que assistiam quando removeu peças fulcrais da imagem da personagem e as deixou no meio do ringue, a sinalizar. Retirou-se do ringue mas ainda levantou o punho em agradecimento ao público. Assim que sai, as luzes apagam-se e ouvimos as últimas badaladas. Isso mesmo, as últimas badaladas. Todos assistíamos em pasmo. E só nos resta agradecer. Obrigado por tudo, Undertaker! Nunca existirá outro parecido ou que chegue lá perto sequer!
5 – Rituais, sacrifícios e outras esquisitices
Também era um brincalhão ele. Nos tempos dos Ministry of Darkness ele fazia gajos mais tolos como o Bray Wyatt parecerem meninos. Caraças, ele fazia ele próprio parecer um menino! Nos seus tempos mais satanistas, liderava um culto que gostava de fazer assim umas maluqueiras. Um ritual e um sacrifício aqui e ali. Episódios que destaco:
– Dois com Stone Cold Steve Austin. O “Texas Rattlesnake” foi um dos felizardos a ser crucificados. Mas ainda teve a especial proeza de ser raptado e levado para um laboratório onde seria assassinado, sacrificado… Dissecado, sei lá. Valeu o bom timing de Kane, o salvador.
– Após um Hell in a Cell na Wrestlemania XV com Big Boss Man, fraco e sempre considerada mais lá para o fundo na lista de combates de Taker na Wrestlemania, o verdadeiro momento vem depois do combate quando simplesmente… Pendura Boss Man pelo pescoço, amarrado à ascendente jaula. O regular na altura: enforcar os adversários.
– O mais caricato. Uma ainda não conhecida e mais inocente Stephanie McMahon é raptada e também crucificada, onde seria forçada a casar-se com Undertaker. Diz que o Triple H sempre foi mais simpático que isso. Se acham tão doentio que Vince McMahon fosse quem estivesse por trás de tudo, não achem. É o Vince. E quem protagonizava toda esta demência era o nosso adorado Undertaker. Que até isto o adorávamos ver a fazer. Só ele para fazer de nós tão doentes!
4 – Mankind, uma estrela
Sim, claro que Mick Foley fez de si mesmo uma estrela e as loucuras que o colocaram “no mapa” só podiam vir de alguém que não pensa igual aos outros, como era e é o caso de Foley. Só faltava um bom pretexto para fazer algumas dessas coisas acontecer e alguém que alinhe nessa maluqueira. Melhor cenário que uma rivalidade com um morto-vivo? Melhor Superstar para o acompanhar nesse caminho da auto-destruição que Undertaker? Num Top Ten dedicado a si, aqui fica um momento em que é co-protagonista. Mas é um momento gigante. Gigante como aquela jaula, aquela queda. Num histórico Hell in a Cell, é Undertaker quem suja as mãos e orienta os desastres que deram (mais) fama a Mankind. Empurrou-o do topo da cela para o mais famoso e arrepiante bump que todos se lembrem; Ainda foi quem o arremessou pelo tecto da jaula dentro, para outra queda estridente no ringue. Podia ter acabado ali com a carreira de um colega e arriscar-se a ficar responsável pelas ideias tolas dele. Mas se calhar ele até sabia com quem estava a lidar e arriscou. Momento histórico que não precisa de muitas grandes descrições e com Undertaker a co-protagonizar.
3 – Escrever história com um Mr. Wrestlemania
Outro momento que só a imagem já nos diz o que é e que nos lembra um dos grandes momentos de sempre. Aqui também é uma entrada inclusiva, aqui contam dois combates. Dois combates com Shawn Michaels na Wrestlemania caso não tenham chegado lá. Undertaker e Shawn Michaels já não eram estranhos um para o outro e já tiveram duras e violentas rivalidades antes. Mas aqui já eram outros tempos. Já eram dos últimos restantes de uma outra geração, uma outra era. E aqui já era tempo em que a “streak” estava mais que reconhecida e já era colocada em jogo como um troféu. Da primeira vez, Shawn Michaels queria o troféu. Da segunda, Shawn Michaels queria o troféu, redenção e a sua carreira, que colocava em jogo. Undertaker reformou Shawn Michaels. Mas como o fez. Os combates que estes dois deram! Não é surpresa que estes dois dessem espectáculo daquele nível, mas mesmo assim esmeraram-se. Cada momento, antes, durante e depois dos combates foi épico e emocional. O combate foi dos melhores que a malta que acompanhava mais recentemente já tinha visto. Foi dos melhores que a malta que já acompanhava há anos, desde a juventude de ambos, já tinha visto. Será dos melhores combates que muita pobre alma que ainda não o viu, verá. É preciso adiantar mais? Ou há mesmo algum caso de falta de sono ou golpe craneal que não vos deixe saber do que falo e entender imediatamente?
2 – Irmão do coração
Passou muita da sua carreira, ora às turras com o irmão, ora a seu lado. Muita coisa boa a tirar de ambos mas a coisa ficava mais séria e negra quando era às turras um com o outro. Foi através de Undertaker que chegou a nós uma outra personagem histórica, omnipresente nas nossas memórias favoritas e com lugares já garantidos em corações e Halls of Fames e essas coisas. Kane, seu meio-irmão que o acusava de matar os pais num incêndio e de o deixar desfigurado e traumatizado. O demoníaco Kane foi apresentado por Paul Bearer para atormentar Undertaker. E para criar uma das mais sinistras, obscuras mas também épicas feuds. Kane viria a tornar-se um Superstar consagradíssimo mas estará bem consciente que foi a sua estreia, frente a Undertaker, o seu maior momento. E Undertaker até pode aproveitar-se de uma palmadinha nas costas de crédito, com um grande Superstar como Kane ter praticamente nascido através dele. Já muitas grandes memórias nos deixaram!
1 – Nasce o Morto!
Volto a admitir a dificuldade em fazer um Top Ten destes. Não só por estar limitado às dez entradas mas também por necessitar de uma ordem e de um primeiro lugar. É muito simples: é o momento favorito com o Undertaker. Soa muito simples dizer. Mas afinal qual é o meu momento favorito do Undertaker? Qual é o melhor momento da carreira de Undertaker? Alguém tem um, só um, que se lembre rapidamente? Eu admito que não e tenho que lhe dar o jeito na hora de classificar isto e preencher a primeira posição: o momento que originou tudo. Tudo o que aqui está, tudo o que ficou de fora, tudo o que adorámos ver dele. O nascimento de Undertaker. Sem o aparecimento e o risco de uma personagem destas, não teríamos todos esses grandes momentos, toda essa tremenda carreira que até agora chegou. E que digo com certeza que nunca resultaria se tivesse sido dada a personagem a qualquer outro intérprete que não fosse o Sr. Mark Calaway, na altura ainda um jovem promissor. No dia 22 de Novembro de 1990, no Survivor Series, Ted DiBiase anuncia um último elemento-surpresa da sua equipa: The Undertaker, que parecia saído de algum filme de terror! E o wrestling nunca mais foi o mesmo. Tudo o que assistimos e adorámos devemos a este momento. O essencial e fulcral pontapé-de-saída! Que podia ter sido ele a sair de um ovo!
E são mesmo só estas dez entradas que tenho, tão redutor para uma carreira como a de Undertaker. Agora conto convosco. Já conto sempre e encorajo-vos a comentar mas desta vez acho que é mesmo preciso que se juntem à conversa e recordem, estes grandes momentos e enriqueçam a lista com alguns dos vossos favoritos. Haverá lá alguma alma que tenha assistido a wrestling, nem que fosse por muito pouco tempo, que não tenha um momento de Undertaker entre os favoritos? Vá, toca a lembrar, que sirva como uma forma de agradecer até à próxima semana, quando trarei mais qualquer coisa, talvez não tão celebratória. Até lá fiquem bem, toca a recordar e deixo mais uma vez de forma muito simples mas com todo o sentimento:
5 Comentários
O ponto 9 fala de uma gimmick que eu sempre gostava de ver o Undertaker reencarnar por uma última vez antes de se reformar. Foi sem dúvida um lado diferente do Undertaker, algo que muito poucos conheciam, e que deixou muita gente surpreendida por ser completamente diferente do habitual que nos costumava trazer. Para mim, esse ponto e os pontos 1,3,4,6 e 7 foram os melhores da carreira dele. Excelente artigo, que revela em apenas dez pontos a grande lenda que se construiu em redor do Melhor de Sempre.
A única coisa que tenho a dizer sobre o Undertaker é: JÁ FOI TARDE
Cara, sensacional arrepiou aqui, só momento foda, esse cara é meu maior ídolo de tudo, esse cara é demais, tipo pelo das lutas, sem mais.
Bom Top Ten! Gostei do primeiro lugar, o marcante debut de Undertaker no Survivor Series, causou muito impacto um personagem tão misterioso.
Creio que um grande momento foi a rivalidade com o Edge