Top Ten #186 – 10 Campeões que chocaram toda a gente

Bom, dou as boas-vindas a todos aqui ao Top Ten e nem venho com intenções de acalmar águas ou assentar poeiras. Ainda venho fazer mais barulho. Se calhar não acreditavam em mim e na minha hashtag mas bem tiveram que aceitar.

Agora já eu estou no comboio Punjabi do novo WWE Champion, o Maharaja Jinder Mahal! Tanta coisa que não se pensava jamais escrever na mesma frase e eu aqui a martelar as teclas com um rasgado sorriso pateta.

É verdade, o mundo ainda não se recompôs totalmente do Backlash e da chocante vitória de Jinder Mahal sobre Randy Orton, pelo WWE Championship. O ex-3MB e jobber até há algumas semanas é agora o nosso Campeão. O público não coube em si de chocado e deu em reacções hilariantes.

Eu próprio saltei da cadeira e adorava cada reacção e a euforia dos comentadores. Daquelas frases que repetimos muitas vezes a nós mesmos para ter a certeza que aconteceu mesmo. Exacto, Jinder Mahal é WWE Champion. E como ele, já existiram outros indivíduos a vencer títulos e a deixar a malta de boca aberta. Uns mais que outros, refiro-me aos indivíduos em si e não à forma como o fizeram.

10 – Diamond Dallas Page, World Heavyweight Champion

O hoje Hall of Famer e salva-vidas já é visto como uma lenda logo, para muitos, deve ser difícil não o ver como um competidor credível para o título. Especialmente quem não acompanhou o seu percurso e o conhece já como lendário. Mas DDP não era um wrestler como os outros, com os seus anos de treino na juventude e chegando à maturidade como um veterano. Page era um manager que se converteu a wrestler e submeteu-se aos iniciais treinos já depois de adulto e maduro. E não convenceu ao início, ainda teve que trabalhar muito até ser um competidor credível. E mesmo assim, um salto para o main event ainda parecia muito alto.

Mas DDP chegou lá, já em 1999, quando já não era muito cedo. Na altura ele era um veterano de idade rodeado de veteranos de experiência. E foi ganhar logo uma Fatal 4-Way, onde se rodeava de pesos leves como… Sting, Hulk Hogan e Ric Flair. DDP, qual underdog, saiu vencedor para surpresa de todos e ainda viria a conquistar o título por mais duas vezes. O seu posicionamento no combate onde ganhou o título? Imaginem que têm um combate repleto de actuais estrelas de topo da WWE e atiram lá para o meio para aí o Jinder Mah… ah pois, isto já não resulta.

9 – Sgt. Slaughter, WWF Champion

Outra lenda com um estatuto de Hall of Famer que só faz parecer evidente que fosse um lutador bem galardoado. Mas Sgt. Slaughter, por muito incontornável e grandioso que tenha sido, sempre teve a sua carreira a passar-se maioritariamente no midcard. E aqui nem era o seu auge, isto foi durante aquela fase louca da qual já muito falei por aqui: a sua jornada como Heel anti-EUA, que quase lhe ia custando a vida. Com uma personagem polémica daquelas, com pouca proximidade ao título principal e já depois dos quarenta anos de idade, não havia muita alma que acreditasse que ele vencesse o WWF Championship. Ainda por cima ao Ultimate Warrior! Mas com uma ajudinha de Randy Savage, lá conseguiu e tornou-se WWF Champion para choque do mundo e asco de todos aqueles patriotas de coração partido.

Claro que hoje em dia faz todo o sentido. O plano original era um rematch entre Hulk Hogan e Ultimate Warrior na Wrestlemania, desta vez com Hogan a vencer mas viram a faltar fogo em Warrior para este ter um reinado de um ano inteiro e tiveram que inventar alguma coisa para o Hogan vencer na Wrestlemania porque “Hulkamania still running wild, brother!” Amanhou-se uma perigosa Heel Turn para Slaughter, para dar o heroísmo todo ao Hulkster e o Sargento foi um mero Campeão de transição. Faz todo o sentido e até é de se ver a léguas. Mas o kayfabe vivia na altura e isto até nem é capaz de ter sido o que mais chocou o público, em relação ao Sgt. Slaughter…

8 – Sheamus, WWE Champion

Ainda bem presente na memória de muitos. A ascensão rápida de Sheamus que nunca conseguiu manter aquele ritmo ou aquela posição cimeira, deixando sempre a entender que tinham sido bastante precipitados com a sua elevação. Sheamus chegava ao Raw com pouco background em TV, tinha passado pouco tempo na ECW, e era um tipo grande, forte, de aspecto esquisito que pareciam querer elevá-lo a uma outra galáxia.

Confirmou-se esse push quando, pouquíssimo tempo depois, enfrentava John Cena pelo WWE Championship num combate de mesas. Em que queixos caem ao ver Cena ser arremessado por uma mesa dentro e o título a ser entregue a Sheamus, o tal gajo de aspecto e sotaque esquisito que tinha chegado há pouco tempo. O que ainda acrescenta ao quão abananados ficaram aos fãs é o facto que muitos ainda juram a pés juntos que o final foi um botch e que não era suposto Sheamus vencer.

Analisando bem, parece que realmente o final correu mal mas que Sheamus sairia com o título, de qualquer forma – acredito que cada um cairia sobre uma mesa, causando um “no contest” mas não havia mesa devidamente posta para Sheamus. Sheamus conseguiria vencer num rematch imediato, surpreendendo Cena. Mas isso é apenas como eu vejo. Se calhar realmente foi tudo um acidente, Sheamus nunca era para ter sido Campeão e por esta altura já nem devia lá estar!

7 – Chyna, Intercontinental Champion

É mais por questões históricas. Bem sabemos que a Chyna era capaz de dar cabo daquele balneário masculino, na boa. E era para lá que ela voltava a sua atenção e vontade de competição. Um Hardcore Championship não era suficiente, aquilo era um brinquedo sem grande prestígio. Ela quis brincar aos títulos a sério e virou-se para Jeff Jarrett e o seu título Intercontinental. Perdeu à primeira tentativa e teve que levar com o machismo de Jarrett, antes de um rematch que não podia ser simples e directo, teve que fazer Chyna lutar pelo título e pela sua dignidade: um “Good Housekeeping match”, lá o que era isso.

Foi aí que Chyna derrotou o Double J e conquistou o título. Todos torciam por ela mas se calhar ninguém esperava que tal passo fosse dado: uma mulher a ser Campeã Intercontinental. Aconteceu, foi a primeira e ainda a única. Surpreendente mas olhando para Chyna, a sua constituição física e capacidade de dar cabo de couros… Era assim tão descabida mesmo para o WWF Championship?

6 – Santino Marella, Intercontinental Champion

E nunca fez a transição de um membro do público para um lutador de renome. Foi sempre uma personagem de comédia, cuja capacidade de obter vitórias era sempre duvidosa. Até teve um segundo reinado como Campeão Intercontinental – que trouxe o hilariante Honk-a-Meter – que nem foi ele que o venceu propriamente. Mas aí já era o Santino, membro do plantel do Raw, WWE Superstar. A surpresa foi mesmo a sua estreia, em Milão, quando o título Intercontinental de Umaga foi colocado em jogo num desafio aberto… Ao público.

Sim, quem de lá veio era um Santino Marella já formado no território de desenvolvimento da WWE, mas quem se via era um jovem Italiano do público, até mesmo de aspecto um mero lutador local daqueles para ser squashados em segundos. Ainda por cima pelo Umaga. Mas olha que não foi bem assim. Umaga rivalizava com Bobby Lashley e este tramou-o bem, dando a vitória ao novato Santino Marella, completamente desconhecido até então, que acabava de se tornar Campeão Intercontinental. A história de Santino lá se escreveu com vários capítulos, uns melhores do que outros. Momento como este não tornou a ter.

5 – Vince McMahon, WWF e ECW Champion

Claro que o Tio Vince tinha que fazer alguma loucura que lhe desse mais destaque ainda. Não lhe chega ser o dono dessa empresa multi-milionária tão influente. Tem que ser bicampeão Mundial nela.

A primeira vez, por muito estranho que pareça, fê-lo como Face, quando retornou e virou-se ao vilão Campeão Triple H, ainda seu genro só a brincar. Chocou todos quando o derrotou e lhe tirou o título, com ajuda de Stone Cold Steve Austin, de toda a gente possível. É, foi uma altura muito bizarra. Venceu o título num SmackDown mas decidiu deixá-lo vago no seguinte Raw, não era propriamente lutador para o ser e havia uma estipulação recente que o bania da TV da WWE.

A segunda ocorrência viria a acontecer alguns anos mais tarde, na ressuscitada ECW, quando o seu título pertencia a Bobby Lashley, Campeão que não caía no goto do público antigo da ECW, nem por nada. Mas como Vince gostava bem dele, lá teve que tomar medidas mais extremas e sujou as mãos, rivalizando com ele. E aproveitou para mais um insulto aos fãs e uma escarradela ao legado da ECW, agora sua propriedade. O seu prestigioso título? Já esteve à sua cintura e ele muito brincou à volta daquilo. Ou então ele até nem tinha maldade e só o fez pelo bem de uma storyline. Sei que eu, na altura, estava bem entretido!

4 – Vince Russo, World Heavyweight Champion

Claro que um gajo que é um booker e que apenas tinha uma personagem em TV para montar mais espectáculo, uma vitória desse indivíduo pelo principal título Mundial de uma companhia seria uma surpresa de deixar caír os tintins e era digno de primeira posição. Mas lá temos que situar o acontecimento. Por esta altura já se conheciam bem as macacadas de Vince Russo, ele era notável por isso, o título da WCW já valia tanto como uma réplica de cartolina e, numa obsessão com swerves que acabavam por se tornar previsíveis, se calhar muitos se perguntavam como é que tal coisa não tinha acontecido mais cedo.

Não aconteceu, já em 2000, nos finais do seu dever pela WCW, uma “fluke” numa jaula arremessou-o para o exterior e premiou-o com o título, deixando toda a gente que assistia a um cinto que já tinha proporcionado maravilhas para aquela companhia ser colocado à volta da cintura do infame Vince Russo, às cabeçadas na parede. Ele até pode ter deixado o título vago imediatamente – e aquele título também andava mais vago que ocupado na altura – mas aquilo ficou na história e não dá para ser descontinuado.

3 – Jinder Mahal, WWE Champion

THE MAHARAJA! Don’t hinder Jinder! Eu bem dizia sempre nos finais dos artigos! Mas ninguém se acreditava. Caramba, passou mais de uma semana e muitos ainda não acreditam. Jinder Mahal, o ex-parceiro e rival de Great Khali, ex-membro dos 3MB, jobber em duas passagens separadas na WWE. Derrotou Randy Orton pelo WWE Championship, aparvalhando todo aquele bom povinho, deixando inveja até ao Brock Lesnar e à sua conquista da streak.

Mesmo os que se divertiam cantando o seu nome, sonhando com uma realidade em que Jinder Mahal é o Campeão improvável, deixaram cair os queixos e fizeram um esforço extra para segurar a baba enquanto assistiam, quais seres robóticos desligados. Mahal celebrou, ninguém acreditou, os comentadores fritaram, JBL soltou uma gotinha. Eu também, isso tudo. E é o presente. Respirem fundo e digam-no: “o Jinder Mahal é WWE Champion!”. Drew McIntyre como NXT Champion é fácil e provável. Agora já só falta um e já sabes, Lesnar… Cuidadinho com o Slater… #MahalIsChampion

2 – Ivan Koloff, WWWF Champion

Sim, Jinder leva um pódio mas não uma primeira posição. Tenho noção do quão enorme foi esse momento de outro mundo. Mas já houve mais disso. Teremos que recuar bastante tempo, umas boas décadas, antes de se colocar cor na imagem televisiva e fotográfica da (W)WWF/E, quanto mais HD. Recuamos ao histórico reinado de Bruno Sammartino como WWWF Champion por quase oito anos. Outros tempos. Mas o adorado Sammartino era imparável e ninguém lhe ia tirar aquele cinto. Muito menos esse tal Ivan Koloff. Desengane-se quem achava que ele era vendido como o estrangeiro imparável, a derradeira ameaça para Sammartino, a sua criptonite.

Koloff apareceu como mais um. Mais um Heel estrangeiro que Sammartino enxotaria, muita gentinha nem se lembraria mais do seu nome, como talvez não se lembrasse até então. Mas as coisas não correram bem assim. Koloff venceu Sammartino e tirou-lhe o título sem grandes cerimónias, acabando o colossal reinado perante uma plateia perplexa que assistia em choque e silêncio. Para terem noção do silêncio pesado que se instalou na arena, Sammartino já veio confessar que pensava que tinha perdido a audição com algum golpe. O cinto nem foi entregue a Koloff em ringue, com o medo que a plateia causasse algum motim. Outros tempos. E uma destas é que não tornam a fazer, por muito que tentem!

1 – David Arquette, World Heavyweight Champion

Sim, claro que é este acontecimento insólito que leva a primeira posição. E usando o Mahal como referência, para quem quiser apontar semelhanças, vamos olhar para isto como deve ser. Jinder Mahal é um wrestler treinado, que trabalha arduamente para o seu desempenho em ringue, contratado pela WWE, maior companhia da modalidade reconhecida. Já leva uma carreira com trabalho em conjunto com muitos nomes de topo, já competiu por títulos da companhia como os títulos Tag Team ou do NXT e está afiliado à companhia há sete anos e pratica a modalidade há quinze. É um competidor e está habilitado ao título, olhando para o lado “real” da coisa.

David Arquette era um actor convidado e daí nunca passou. O próprio, como fã, até achou ofensivo que ele andasse com o cinto principal. Alguém, como fã, pode queixar-se na Internet com toda a força sobre o reinado do Mahal e até aí vai a sua legitimidade. E se podem apontar semelhanças entre os propósitos (comerciais), até aí são bem diferentes. Actualmente procuram atingir um certo mercado internacional enorme e imenso lucro, apresentando o produto meramente como ele é, sem injecções de outras coisas e beneficiando um dos seus empregados.

Naquele tempo, a WCW quis atenção de fora que não teve e quis-se associar a um filme terrível, com associação, inspiração e ajuda à produção, da WCW, o “Ready to Rumble”. Antes da WWE Studios nos dar jóias cinematográficas, existiu isto. E Arquette foi Campeão como “comic relief”, porque era para isso que estávamos virados, era o ano 2000. Com uma maluqueira dessas, já não faltava muito até quem tivesse escrito isso se fizesse a ele mesmo Campeão. Ah, espera aí…

Bom, que tudo assente, recuperou-se de tudo. Recuperarei do reinado de Jinder Mahal e não me refiro a qualquer consequência negativa que isso tivesse. A recuperação é do esgotamento de tanto dançar àquela irresistível música Indiana. E pela possibilidade de ter deslocado qualquer coisa ao saltar da cadeira. Mas olhando para o Top Ten que agora concluo, de vez em quando até faz falta algo assim para quebrar rotina, ser imprevisível e abalar um pouco as coisas. Umas vezes é bom, outras não lembram nem ao Diabo, mas que se tente de tudo.

Agora lembrem-se vocês de algum gajo que ganhou um título e vos deixou completamente mamados a tentar processar isso, em descrença. E acrescentem aqui, é o vosso direito. Pretendo voltar na próxima semana, lá veremos o que se arranja. Até lá continuem a celebração, que espero que esteja a acontecer.

#MahalIsChampion!!