E dou-vos as boas vindas a mais um Top Ten, que continua além da trigésima edição! Muita coisa poderia ter ficado retida na nossa memória ao longo desta semana, tem sido uma semana agitada como sempre é. Mas há algo que mais nos assombra… E é o Kane de fato! Mais assustador que qualquer uma das suas máscaras. É sempre curioso ver um lutador agir tão diferente do habitual que nos vemos. Curioso, mas não novo. Já aconteceu mais vezes que as que nos podemos lembrar, mas tentei encaixar 10 casos diferentes neste humilde espaço semanal.
São diferentes, uns podem ser por uma grande quantidade de gimmicks completamente dispersas sem algo em comum, como também pode incluir alguém que nem tenha mudado tanto, seja associado apenas a uma, mas que já tenha tido algo tão diferente, que é de notar que esse indivíduo já tenha sido outra coisa. Para compreender melhor, talvez seja melhor avançar para o que interessa:
10 – The Undertaker
Um caso de alguém que não andou por aí a saltar de gimmick em gimmick, porque temos bem assente na cabeça a ideia de quem este homem é. Undertaker é Undertaker – também já foi Kane the Undertaker, o que soa bizarro hoje, mas era assim que ele era em protótipo. Mas… Com “Undertaker é Undertaker” também se pode querer dizer que o Undertaker morto-vivo, personagem saída de filme de terror, com o seu poder a residir numa urna… É o mesmo Undertaker que andava lá de mota e com uma imagem de motard tão badass que seria capaz de intimidar até o outro/mesmo/próprio Undertaker. São duas coisas muito diferentes e opostas, mas resultou, serviu de lufada de ar fresco, para não fartar do homem das trevas. E lá devem ter achado que ele era muito lento para chegar ao ringue, que lá lhe deram uma mota para ver se ele se despacha. Pode ser que também dêem uma ao Randy Orton.
O interessante e curioso é que não fica propriamente por aqui. Podemos recuar um pouco mais aos tempos pouco lembrados, pouco célebres e pouco notáveis em que uma das nossas lendas favoritas ainda fazia parte da WCW. E o homem que hoje conhecemos como Undertaker ainda se chamava… Mean Mark Callous. E tinha a notável gimmick de ser um gajo qualquer. Não manda tanta pinta um lutador dizer que vai tentar acabar a streak na Wrestlemania do Mean Mark Callous…
9 – Raven
Já veterano é ele e já construiu um legado muito respeitável. Já tem imensos fãs, foi uma personagem influente, já passou por todas as companhias de wrestling grandes que passem pela cabeça e até tipos de combate inventou. Já fez de tudo. Incluindo passar por várias gimmicks estranhas e embaraçosas. E o mal é que custou a engatar com aquilo que ia ser a sério. Começando pelo seu percurso independente, que passou pela Smokey Mountain Wrestling, com o seu próprio nome Scott Anthony mas com o nickname “Palm Beach Heart Throb” Scott Anthony. Esse nome já é promissor… Ainda por cima “Heart Throb” não nos lembra boa coisa. Mas ainda estava mais embaraço para vir, assim que vai para a WCW e lhe mudam o nome para Scotty Flamingo. Coitado, ficou pior. A gimmick? Um surfista que até a prancha levava para o ringue – o Sandman também deve achar piada a isto.
Está a custar a arrancar, finalmente vai para a WWF e finalmente é aí! Ou então não… Ainda teve que ser o célebre manager Johnny Polo, com a gimmick de um moço rico e mimado, que chegou a ser manager do Adam Bomb e dos Quebecers em 1993 – porque o que melhor nos lembramos de Raven é como manager. Mais um momento embaraçoso e quiçá, dos mais embaraçosos. Foi na ECW que decidiram pegar nesse Johnny Polo, fazê-lo sofrer de depressão, torná-lo um psicopata e associá-lo à cultura Grunge para nascer o Raven que ainda hoje conhecemos e que se fez lenda nas companhias todas. Agora digam lá se preferem este “badass” Raven ou se a fatiota do Johnny Polo não lhe ficava a matar e era muito melhor e com muito mais futuro?
8 – Papa Shango
Escolhi-lhe esta gimmick, mas com alguma indecisão porque o desgraçado do homem também já foi tudo e mais alguma coisa. Podia simplesmente fazer uma breve enumeração de todas as suas facetas. Já a começar pelo genérico “The Soultaker” com que se iniciou na United States Wrestling Association. Foi para a WWF e lá fez fama como Papa Shango – depois de um muitíssimo breve momento como Sir Charles – e pelo menos essa irrealista gimmick ele conseguiu manter. Saiu e voltou… Seria para retomar o homem que deixou o Ultimate Warrior possuído? Não, este homem não podia ser muito tempo a mesma coisa: Kama “The Supreme Fighting Machine” era o seu novo nome e consistia num temível “shoot fighter” que se aliou a Ted DiBiase. Voltou a sair e voltou a regressar com a gimmick de Kama ligeiramente alterada, com menos foco no shoot e mais foco na sua raça, chamando-se de Kama Mustafa, que se juntaria aos Nation of Domination.
Mas também se fartaram e num instante o rodearam de “ho’s” e lhe deram a gimmick de “pimp” que até hoje é a sua mais conhecida, juntamente com a de Papa Shango. Finalmente se estabelecia uma gimmick!… Ou pelo menos até se juntar aos Right to Censor, ser um homem de fato e gravata politicamente correcto e andar com o irónico nome “The Goodfather”. Lá se fartou e voltou a ser o bom e velho Godfather, gimmick com a qual se retirou e com a qual nos abençoou no último Royal Rumble com a sua breve mas divertida presença. E convém que fique por aí, senão o homem começava a ter problemas de identidade…
7 – Dolph Ziggler
O caso curioso que já nos é bem conhecido. O “Show-Off” nem sempre foi um indivíduo de cabelo oxigenado, que abana o traseiro ao entrar. E não me refiro só àquela fase em que o quiseram remodelar, de cabelo castanho escuro e curto, que não foi a lado nenhum. Já todos sabem que me refiro aos seus tempos anteriores a isso. NICKYYYY!, gritava um moço hiperactivo que fazia parte do quinteto conhecido como Spirit Squad, o grupo cuja gimmick de cheerleaders masculinos permanece hoje como possivelmente a melhor pior ou a pior melhor gimmick de sempre. E o Nicky lá andava aos saltos a mais os outros quatro, quem sabe, sem saber que se iria tornar um dos favoritos do público alguns anos depois. Mas recuando ainda mais… Antes disso andou a carregar sacos ao Kerwin White – outra gimmick do Chavo Guerrero que, não consta neste Top porque essa gimmick era intencionalmente irónica, logo Chavo foi sempre Chavo – como seu caddie, com o seu verdadeiro nome Nick Nemeth. O percurso de vida de um homem de sucesso: caddie, cheerleader, gajo que cumprimenta pessoas no backstage ao apresentar-se, “Show-Off”. Coisas que já todos nós fizemos no nosso percurso vital…
6 – Batista
Este é outro que tem que se vasculhar um pouco mais o seu passado. Foi famoso na WWE a fazer sempre o mesmo praticamente e muitos se surpreenderão que ele até saiba fazer mais alguma coisa – coitado do homem, o Ultimate Warrior também era um abanador de cordas de primeira e fazia menos. Mas Dave Batista tinha mais variações para além de um tipo que chora porque alguém era suposto ser amigo dele e um gajo com sérios problemas com bolas de basquetebol. Batista já teve uma gimmick bem bizarra nos seus tempos da OVW, quando encarnava o vampiresco Leviathan, cujos maneirismos e visual seriam capazes de fazer torcer a cabeça até aos Ascension – ou então iam querer recrutá-lo. A sua subida ao plantel principal não lhe daria sucesso imediato nem o tornaria o simples Batista que hoje nos é familiar. Estreou-se como Deacon Batista, um guarda-costas do “Reverend D-Von”, antes de ser apanhado pelos Evolution. Mais uma história de sucesso, de um monstrengo a um animalesco powerhouse, a um estranho homem de meia-idade que tira “selfies” em frente ao espelho como uma miúda de 14 anos. Qual dessas gimmicks lhe trouxe mais sucesso?
Curiosidade: Leviathan chegou a vencer o OVW Heavyweight Championship que depois perderia para o The Prototype. Leviatan vs The Prototype soa-me promissor…
5 – Triple H
Este nós sabemos que ele teve uma viragem das boas. Basta lembrarmo-nos da origem do tal nome “Triple H” para nos lembrarmos de onde ele veio. Mas se recuarmos ainda mais um pouco, vemos que andavam empenhados em ligá-lo à realeza – tudo a ver com o The Game. Um curto e pouco conhecido percurso na WCW introduziu-o como Terror Rising, e mais tarde, Terra Ryzing – e hoje ele deve estar contente por não ter tentado engatar a filha do Ted Turner, ou assim, esperou pela altura certa, senão hoje o conto era diferente – que viria a ser remodelado como Jean-Paul Levesque, resgatando ao seu verdadeiro nome. Um indivíduo todo “sangue azul” que era Francês. Mas como não sabia falar Francês, tinha que ficar só com o sotaque. Porque era “best for business” e ele tinha que o fazer. E era um Ric Flair wannabe que até causava impressão.
Transfere-se para a WWF – onde acho que até fez algum sucesso – onde nos apresenta Hunter Hearst Helmsey, o Inglês que representava a classe e tinha uma postura que até deixaria o Damien Sandow a babar-se e com estrelinhas nos olhos. Apesar de a gimmick ser dentro do mesmo – insistiam que era assim que ele ia fazer sucesso – já há aqui uma grande mudança. Então o malandrim era Francês, depois já era Inglês e agora já é Americano? E depois ainda tem a lata de gozar com o Kofi Kingston por ter “perdido” o sotaque da Jamaica e ter abraçado o Gana como sua origem. Mas o homem cheio de classe não tardava nada e andava a autodenominar-se “The Game”, a lutar contra o sistema com o grupo D-Generation X e a fazer piadas infantilóides – numa ironia demasiado grande para atingir os cépticos que preferem o “wrestling adulto” de outros tempos – para se tornar o Triple H, o “Cerebral Assassin”, Campeão Mundial por 13 vezes, um gigante ícone na história da WWE. E agora é um McMahon engravatado, sem cabelo, que anda a dizer-nos o que é melhor para o negócio – ele ainda não dizia a palavra “business” vezes suficiente antes. E eu que podia jurar que era como Jean-Paul Levesque que ia ter sucesso…
4 – Rikishi
Nem sempre foi um gordo divertido que dançava e que de vez em quando atropelava pessoas. Também teve os seus momentos de crise de identidade e muita coisa se experimentou. Começou por ser um Samoano selvagem – a quem o irmão foi buscar inspiração para o Umaga – junto do seu primo Samu, com o nome Fatu para constituir os cómicos mas duros Headshrinkers. Assim que o primo partiu para a WCW, Fatu ficou sozinho e teria que se safar em ringue a solo. Como o fazer? Dizer que o Fatu afinal não era nada selvagem, falava Inglês e tinha sido criado nos EUA. Porque lixai-vos, continuidade é para fracos. A gimmick consistia num gangster crescido nas ruas e vítima de um tiroteio. Pelo menos até se fartarem e o esconderem por trás de uma máscara e lhe chamarem “The Sultan”, um indivíduo que não falava porque lhe tinha sido retirada a língua. Managers como Bob Backlund ou o Iron Sheik eram quem falava por ele – olha que dois que foram buscar.
Foi depois desta experimentação toda que decidiram equipá-lo da forma como o conhecemos agora – e com mais peso e cabelo oxigenado – aproximá-lo de um lutador de Sumo na personagem e dar-lhe o nome Rikishi, que é aquele que conhecemos actualmente e pelo qual teremos sempre estima. O legado foi passado para os filhos que aproveitam influência do seu estilo de luta e, como equipa, vão buscar muito aos Headshrinkers – que, por sua vez, iam buscar tudo aos Wild Samoans, mas já que se fala em Rikishi aqui…
3 – Kane
Este é daqueles que tem das suas primeiras gimmicks obscuras tão notáveis que já nem é desconhecido para ninguém. Mas no seu circuito inicial independente teve para ali nomes… Angus King, Doomsday, Christmas Creature – este parecia ser bom – e Unabomb. Isto tudo antes de chegar à WWF e apresentar-se como Dr. Isaac Yankem, a tal gimmick de dentista medonho de Jerry Lawler – e para linchar o Bret Hart, claro. Depois de não pegar, tiveram a ideia mais brilhante de sempre: gozar com as partidas de Scott Hall e Kevin Nash para a WCW e apresentar um Fake Razor Ramon e um Fake Diesel. Coube ao nosso Kane andar a fazer-se de Diesel então. Ao menos, o quadrícepe dele aguentou a imitação. Como isto não pegou – não?! como é possível?! – lá tentaram moldá-lo como Kane, um tenebroso meio-irmão de Undertaker, com uma história de infância digna de filme de terror. Desde então já lhe tiraram a máscara, já a tornaram a pôr e agora têm-no de fato com um cargo na autoridade. Perdoem-me se eu genuinamente ache esta última a mais promissora…
2 – Kevin Nash
Este, primeiro que engatasse, foi um dia de juízo. E apesar de associarmos sucesso na WCW ao seu nome, não teve muita sorte quando lá começou. Começaram por introduzi-lo como o Steel, um estranhíssimo indivíduo grande , assustador e com uma mohawk laranja que fazia parte da equipa “Master Blasters”, com o seu parceiro Blade. Pouco durou. Altura de lhe dar uma boa gimmick… Portanto pintem-no com verde fluorescente e dêem-lhe uma gimmick de Feiticeiro de Oz porque a malta quer realismo. E chamem-lhe Oz. Já se via ao longe que viria sair daqui sucesso, até estava a levar um push a squashar jobbers. Já vimos casos desses e eles acabam sempre bem. Desapareceu em pouco mais de meio ano. Vá, é desta, tragam o Vinnie Vegas! E lá vem o Nash armado em mafioso e de jogador viciado em casinos para finalmente ter sucesso. Ou então era despachado pouco depois para a WWF o apanhar.
Assim que saltou para a outra companhia, fizeram dele aquilo que ele era: um indivíduo grande, intimidador e com bom aspecto para guarda-costas. Se calhar a WCW estava a rir-se ao ver aquilo porque achava que ele só ia lá com gimmicks saídas de papelinhos dentro de um chapéu. Mas foi finalmente como Diesel que ele se fez “gente” e se tornou notável, ganhando o título Intercontinental, o título da WWF e causando polémica com os The Kliq. Não ficaria lá e regressaria à WCW onde lhe dariam o seu verdadeiro nome, porque realmente, quem é a WWF para lhe dar outro nome, a WCW sim sabia respeitar a identidade do homem e fez sucesso como trafulha dos nWo. Como Kevin Nash ficou – por vezes sendo lembrado e introduzido como Diesel – e a sua mais recente gimmick era a de um tipo de meia idade, de cabelo pintado e com um problema que o faz mandar SMS a ele mesmo… Sim, quis evitar outra piada referente ao quadrícepe, logo falei nesse pormenor da sua última storyline…
1 – Mick Foley
Tinha que deixar para a primeira posição o homem que personifica a multi-identidade no wrestling. O homem que colecciona vários nomes, todos eles conhecidos, todos eles adorados e reconhecemos cada um de todos eles. Desde o duro e brigueiro Cactus Jack que tinha um certo gosto para o wrestling hardcore, até ao dançarino e sempre bem disposto Dude Love, passando pelo demente, esquizofrénico e mais tarde cómico Mankind, sem esquecer a sua real identidade, Mick Foley, ele mesmo, que também já muita coisa boa e mítica fez, só com aquela camisa quadriculada. Dispensa apresentações, justificações da importância das suas gimmicks para o colocar nesta posição e resumo da sua carreira. É Foley, é o multi-facetado da casa e podia entrar para o Hall of Fame mais 3 vezes para cada uma das caras, se eles fossem tolos para isso…
E claro não há mais a apresentar depois do número 1, logo este Top chega ao fim mais uma vez. Espero que tenha sido um “retorno à forma” após o menos variado Top da semana passada e espero que tenham gostado da leitura. Como sempre, têm direito à palavra e podem comentar sobre estas 10 personalidades – mais de 10, porque cada uma envolve várias – e acrescentar outros exemplos que se lembrem e que achem que se adequasse. Para a semana, a intenção é regressar vivo e rijo com mais um tema que, veremos o que de lá sai.
Até lá fiquem bem e um bom S. Martinho a todos.
5 Comentários
Faltou o Tensai…
Muito divertido e interessante como sempre, no entanto, como é que o “Lord” Tensai, Tensai, Sweet-T, A-Train, Prince Albert, Albert, e sabe-se lá mais o quê, fica de fora do Top 10? A gimmick de motociclista é a minha preferida do Undertaker, mas também, eu sou o fã dos 3MB (sim, sou eu), portanto não liguem.
nossa não sabia que o Ziggler feis parte Spirit Squad, e olha que eu acompanho WWE faiz tempo
Gostei da edição,e vejam lá a minha ignorância que nem sabia que o Triple X tinha passado pela wcw xD.
Já a do Batista deu para rir xD
A minha gimmick favorita do Papa Shango foi sem duvida o Godfather,adorei vê-lo no R.R.
Sorry brian is dead…