Acto de Vingança. Retribuição. Reprimenda. Punição.
Tudo isto são definições possíveis para o nome que deu origem ao PPV mais surpreendente dos últimos meses por parte da WWE, falo, claro está, de WWE Payback de há duas semanas. Se no início acreditei que o formato e as rivalidades poderiam originar um PPV incoerente, e estruturalmente deficiente, bem tudo que se passou naquelas 2h30min, mais coisa menos coisa, foi exactamente o oposto. Mas não, não irei falar do PPV em si, até porque já muito foi escrito, e principalmente devido a já ter-se passado o tempo que passou. Falarei sim, esta semana, daquilo que podemos retirar deste PPV alucinante e aliado a isto ao Monday Night RAW que se lhe sucedeu.
Facto é que dia 16 e 17 de Junho calou muita gente que afirmava que a WWE anda em crise e que perdeu todo o impacto de previsibilidade possível e imaginário, e no espaço de 48h tudo o que andava nas bocas de fãs, miúdos e graúdos era “WWE is back”.
Em primeiro, importante denotar as trocas de títulos que se verificaram no Payback, em 6 combates por Títulos, 3 mudaram de mãos. 50/50 para muitos, mas para mim há que ler nas entrelinhas. O Título Intercontinental desde que abandonou as mãos de Cody Rhodes acredito que voltou mesmo ao descrédito que teve durante anos, sendo que Barrett por muito bom atleta que fosse não acrescentava nada ao título (se bem que, verdade seja dita, também não tinha grande probabilidade para tal ao rivalizar com um projecto de Ric Flair – nada contra The Miz, apenas contra a personagem actual) e essa é a verdade. Desta forma, ao atribuir ao Título Intercontinental a Curtis Axel há vários pontos a considerar aqui. Por um lado, abre toda uma panóplia de opções, Miz já estava envolvido no Título, Barrett é ex-campeão, e Curtis é o actual; e, por outro lado, temos a história de “new Paul Heyman guy”. Facto é que a WWE parece que vai apostar realmente no filho de Mr. Perfect Curt Hennig, e acho que isto só pode ser algo de positivo: é novo, tem talento, tem uma linhagem de responsabilidade e credibilidade. A questão é que até lhe darem uma vitória chocante e dramaticamente realista, Curtis Axel será simplesmente um “nobody” aos olhos dos fãs da WWE. É uma questão de analisar o que os bookers conseguem fazer, e o que Axel consegue fazer no ringue e fora deste para incitar à compra da personagem.
Não menos importante, temos a troca do Título Mundial que surpreendou tudo e todos; quanto mais não seja para o melhor double-turn que eu vi nos últimos anos na WWE. Não bastava, Ziggler tornar-se face, Del Rio tornar-se o legítimo heel que é, mais, o Título Mundial troca de mãos. Até aqui, podem-se perguntar, e qual é a novidade nisto; já aconteceu 500 mudanças destas na história da WWE… Vá perguntem… A questão é que tudo isto teve um impacto ainda mais real e só foi permitido devido à reacção do público de Chicago. Toda a gente sabe que o melhor público encontra-se no Canadá e em Chicago no que diz respeito ao continente americano, mas desde início que o público manteve a posição que se viria a consomar 24h depois do combate; Ziggler o eterno mártir que perdeu o título de forma peculiar, e Del Rio o “sacana que lhe roubou o título de forma persistente e desproporcional”. Talvez isto não tivesse resultado noutro lugar, talvez tivesse; facto é que a WWE mostrou que ouve os fãs e melhor que consegue agir mesmo debaixo do nariz deles aproveitando as opiniões controversas que têm, mas agindo na altura certa, na hora certa, e no lugar certo.
Exemplo disso é a mudança de atitude de Punk, que abandonou a WWE após o embate com Undertaker que o implementou como talvez o melhor atleta de wrestling profissional no último ano; e que regressou na sua cidade natal, com uma ovação que lhe reconstruiu a personagem para um babyface, que não é o típico “herói” ou “bom-samaritano” mas alguém que diz as verdades, sabe que é bom e não tem problemas em dizê-lo (À la José Mourinho portanto).
Por fim, outra mudança de Título que provou pelo menos em termos transversais (e longitudinais espero) que algo poderá mudar foi o Combate pelo Título das Divas. AJ vs Kaitlyn foi efectivamente um excelente combate que por muito rumor que haja de que se pretendia equiparar a Gail Kim vs Taryn não o conseguiu, mas provou sim, que é possível. Desde que, claro está, que a WWE acredite nelas e que permita que elas tenham o seu tempo e actue como deve ser. A questão será que a WWE vai continuar com o mesmo padrão ou será que foi algo apenas ocasional como resposta a um produto adversário? (Não me venham com coisas, é óbvio que a WWE assiste e está por dentro do que se passa dentro da TNA senão não seria produto ou empresa que se preza).
Mais ainda, o Payback e RAW seguintes mostraram que a WWE faz o que quer, como quer, e que os fãs por muito que falem têm apenas é de confiar no produto. Três regressos, dois dele efectivos, um anunciado: RVD, Christian e Mark Henry. Se o de Christian foi algo aparentemente normal, o de RVD deixa uma expectativa no ar para o próximo PPV o que aumenta a receptividade a este e permite uma boa resposta em termos de compra-venda de bilhetes; assim como o de Henry que deixou os fãs completamente boquiabertos (e não me venham com tretas, não havia uma única pessoa no planeta no momento em que assistiu ao discurso e lágrimas de Henry que pensasse no que se ia suceder a seguir.).
Posto isto, a WWE provou com o Payback e shows subsequentes que consegue perfeitamente oferecer um produto credível, real e com tudo para se estabilizar como empresa de topo que é, principalmente quando oferece não aquilo que o público quer, mas manobra as reacções, joga com o público e implementa uma estrutura lógica na sua programação e nos guiões realizados. Já defendi isto uma vez, a WWE precisava era de chefes de departamento que tratassem de cada uma das divisões de roster, e que tivesse destacado writers permanentes mas que escrevessem guiões para cada divisão em separado. Por exemplo, writer A, B, C e D que funcionam como um todo; mas A trata de Main-Eventers, B de Tag Team, C de mid-carders e D de Divas. Isto acabaria por relançar e permitir um maior enfoque em termos individuais bem como desenvolver a criatividade de cada história na sua simplitude.
Actualmente, prognósticos para o futuro. A rivalidade entre os McMahons é algo que me suscita curiosidade e sem dúvida que vai ser o momento-chave para o Summerslam; a WWE surpreende sempre no Verão e Payback foi prova disso mesmo; sendo que também o foi a RAW seguinte que a meu ver, foi melhor em termos de qualidade do que a pós-Wrestlemania. Por onde a WWE vai partir, ou até onde vai chegar, não consigo prever, mas facto é que só podemos esperar algo espectacular vindo desta storyline. Punk vs Lesnar servirá para manter Heyman ocupado e os fãs receosos; Ziggler vs Del Rio na velha temática de “justo-injusto”; AJ vs Kaitlyn tem de continuar a ser bem trabalhado mas AJ é simplesmente a melhor coisa desde a velha Micki James-Trish Stratus (excelente trabalho de casa para a pequena); assim como Shield-Kane-Orton-Bryan que vai depender muito do que a WWE quer efectivamente para cada uma das partes.
Não esquecer ainda a inserção da Wyatt Family no roster brevemente, o que aumenta ainda mais um problema principal da WWE: heels credíveis e com personagens muito bem denotadas, mas faces frágeis como é o caso de Cena e Sheamus que baseiam-se no mesmo modelo de babyfaces, de Orton que anda nas ruas da amargura quanto a o que fazer com ele e que o preferível será voltar ao modelo antigo mas que não é o momento preferível para o fazer; Bryan no qual uma aposta parece tardar; e a lista continua e continua…
O que podemos retirar então? Que as próximas semanas da WWE serão entusiasmantes, sendo que podemos voltar aos shows rotineiros mas haverá sem qualquer margem para dúvida algum momento de destaque, quanto mais não seja, no próximo PPV, meados de Julho, para o tão aguardado regresso permanente de Rob Van Dam.
E para vocês o que vem daí nos próximos tempos na WWE? O que mudariam na estrutura da empresa?
Até para a semana, e já sabem deixem o vosso comentário! 😉
6 Comentários
Grande artigo
Muito bom artigo!
Obrigado aos dois 😉
Excelente artigo!
Eu gostei da decisão de porem o Axel como campeão Intercontinental mas é como tu dizes ele precisa de uma vitoria chocante. Sim ele venceu Triple H por “3” vezes mas isso não lhe deu Power nenhum. A história estaria melhor se Triple H não quisesse combater Axel por este ser realmente perigoso e embora a ideia esteja lá, isso não acontece.
Dolph vs Del Rio – no início não gostei da decisão da WWE até porque de certa forma as 2 malas MITB foram desperdiçadas, mas já consegui entender a decisão da WWE e considero a decisão genial. Com isto a WWE consegui por Del Rio no topo da empresa enquanto heel, coisa que este nunca iria conseguir com um personagem face. E bem eu considero Ziggler um face natural e já há muito que tinha curiosidade de o ver como face e realmente tenho expectativas para ele se tornar num top babyface.
Aj vs Katylin – fez-me voltar a acreditar no talento da divisão feminina, que estava “perdido” desde 2006…sem dúvida um grande combate que veio provar que se WWE quiser consegue dar-nos um bom produto nesta divisão basta investir um bocadinho e dar-lhe um pouco de tempo.
Em geral, o Payback foi um PPV genial como há muito não se via e fez-me acreditar numa fase nova e remodelada no produto da WWE.
O RAW do dia seguinte só veio consolidar ainda mais o estado da WWE atualmente sem dúvida um grande show com grandes momentos.
A RAW de ontem embora não tão boa como a anterior (também era difícil xD) conseguiu manter o nível e isso é o mais importante.
Eu gosto da maneira como a WWE está a jogar com a estreia da Wyatt Family pois a WWE vê que está num bom momento e que não precisa deles para arrebitar as coisas. Não me admirava nada se só fizessem a estreia na noite a seguir ao MITB e quem sabe se não serão os causadores de um dos cash-inventada por um dos títulos. E sinceramente espero que RVD venha para ajudar os jovens e não para ofusca-los e espero que a sua forma física esteja bem melhor do que a tinha na TNA!
Bom artigo
Não há muito a dizer, já disse tudo o que pensava nos comentários a outros artigos de assunto semelhante, e, também, não era preciso, foi tudo dito e bem dito por ti.
Já agora, o “Wrestling, Diz Ele” já não aparece na seleção rápida de artigos, ao colocar o rato por cima de “artigos”. Estranho, ate pensei que tivesse terminado (mas ainda bem que não).
O Payback foi um PPV genial sim… até chegar o main-event.