Nascida a 1 de Fevereiro de 1987, em Riverside California Ronda Jean Rousey é provavelmente a atleta feminina mais reconhecida em todo o mundo. Quer seja pelo caráter que apresenta, quer seja pela forma como se apresenta, existe um facto inegável: a diversidade de desportos e o desempenho que apresenta em cada um destes tornaram-na num exemplo e modelo a seguir. Rousey tornou-se a primeira mulher americana a ganhar uma medalha olimpica no Judo, é uma antiga Campeã Feminina da UFC, a última Campeã Feminina da Strikeforse, ganhou 12 combates consecutivos em MMA. Em 2015, foi apelidada da “atleta feminina mais dominante”, o lutador – independentemente do género – mais bem pago da UFC e a terceira pessoa mais pesquisada no motor de busca da Google. Em 2014, foi protagonista do filme The Expendables 3 e também participou em Velocidade Furiosa 7Entourage. Muito se fala em individualidades que marcaram uma era, que permitiram que muitos outros se seguissem, e o impacto que Ronda Rousey teve por onde passou, sem sombra de dúvida é representativo disto mesmo. Mas qual a história de Ronda Rousey? O que é que sabemos concretamente sobre esta atleta?

Wrestling Files #3 – Cai duas vezes, levanta-te três

Amplamente conhecida como uma atleta de MMA – Mixed Martial Arts – e a primeira Campeã Feminina da UFC, muitos podem desconhecer que a aventura desta atleta começou muito antes, no judo. Efetivamente, Rousey tornou-se a primeira americana a ganhar uma medalha olímpica em Judo nos Jogos Olímpicos de 2008 em Beijing. Curiosamente, a “maça não caiu muito longe da maceira”. AnnMaria De Mars, mãe de Ronda Rousey foi, em tempos, uma judoca. Mais ainda, foi a primeira cidadã norte-americana, homem ou mulher, a ganhar um título de judo mundial. Mas nem tudo foi um mar de rosas na vida de Ronda Rousey.

Aos 8 anos de idade, Ronda perdeu o seu pai, que se suicidou depois de ter sofrido um acidente no qual foi informado que ficaria paraplégico. Mais ainda, em termos escolares Ronda apresentava bastantes dificuldades o que motivou a mãe a inscrevê-la no judo, acreditando que as frustrações de Ronda Rousey poderiam ser amenizadas com a prática deste desporto. Facto é que aos 15 anos de idade, Ronda Rousey entrou na equipa olímpica, tendo-se tornado, aos 17 anos de idade, aquando dos Jogos Olímpicos de 2004 na Grécia, a judoca mais jovem de todo o torneio.

Wrestling Files #3 – Cai duas vezes, levanta-te três

Apesar de o motivo que levou ao seu ingresso no judo ter sido a melhoria de desempenho escolar, aos 16 anos de idade Ronda Rousey desistiu da vida escolar e perseguiu a tempo inteiro o judo. Em 2004, não conseguiu ganhar qualquer medalha, apesar de ter conhecido recolher uma série delas na Hungria, na Grã-Bretanha e ter conseguido, inclusive, a tornar-se a primeira atleta norte-americana a ganhar duas medalhas mundiais na categoria de juniores. Certo é que Ronda Rousey começou a ganhar cada vez mais ímpeto, e em 2007 chegou mesmo a ser considerada uma das três melhores atletas na categoria de 70 kg a par de ter ganho a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos desse ano. No entanto, tudo mudaria no ano seguinte. Tal como muitos de vós devem saber, Ronda Rousey participou nos Jogos Olímpicos de 2008 e estava certíssima que a medalha de ouro seria a cereja em cima do bolo. No entanto, após perder uns quartos-de-final para Edith Bosch, e apesar de ter ganho a medalha de bronze, tornando-se a primeira americana a ganhar uma medalha olímpica na divisão feminina de judo, desde 1992, Ronda Rousey teve aqui o seu primeiro contratempo no mundo do desporto.

A sua primeira grande derrota teve um efeito perturbador na sua vida, tendo inclusive se refugiado em drogas, álcool, e em três empregos distintos. Segundo uma entrevista que a mesma deu:

“Não foi tudo mau. Simplesmente estava numa depressão. Senti que construí e trabalhei o meu corpo para atingir o ideal de perfeição olímpica, para ser a melhor do mundo e no final isso não aconteceu. Fiquei extremamente triste no processo, e se isto não resultou, então, pensei na altura, que se tudo o que fizesse fosse andar em festas, então isso talvez me faria feliz, à semelhança do que ocorre com outras pessoas. Mas isto também não aconteceu. E o que faço agora?”

E foi aqui que Ronda Rousey se socorreu do MMA. Reformou-se aos 21 anos do judo, e ingressou na Hayastan MMA Academy, onde começou os seus treinos com lutadores como Manny Gamburyan, Karo Parisyan  e o seu atual treinador: Edmond Tarverdyan. Entre 2010 e 2011 Rousey participou em diversos combates, tendo ganho todos os combates com aquela que viria a tornar-se a sua manobra de eleição: o armbar. Em 2011 tudo começaria a encaminhar-se para aquele viria a tornar-se o fenómeno da “Baddest Bitch of The Planet”.

Wrestling Files #3 – Cai duas vezes, levanta-te três

A 12 de Agosto de 2011, Rousey viria a derrotar D’Alelio, no seu primeiro combate na Strikeforce – apesar de forma controvérsia –, e uns meses depois repetiu o feito derrotando Julia Budd, tendo-lhe deslocado o ombro no processo. Foi em pleno 2011, que uma daquelas que provavelmente são das rivalidades mais soantes do mundo da MMA se iniciava. Falo claro está de Miesha Tate vs. Ronda Rousey. Rousey manifestava interesse em lutar contra Tate pelo Título Feminino que esta possuía na altura, e ambas as atletas começaram uma rivalidade nas redes sociais e em diversas entrevistas. Facto é que a 3 de Março de 2012, Tate e Rousey tornaram-se o Evento Principal do show da Strikeforce – fenómeno raro na altura. No primeiro embate entre Rousey – judoca decorada, e com uma combinação de jiu-jitsu – e Tate – wrestler – Rousey derrotara Tate com a sua manobra de armbar, tornando-se Campeã Feminina da Strikeforce. Mas não se ficou por aqui. Esta rivalidade é tida como a única razão por detrás da divisão feminina ter sido criada na UFC – Ultimate Fighting Championship, que se tornaria a casa de Rousey durante alguns anos.

E entramos em 2012. Concretamente, em Novembro de 2012 Rousey torna-se a primeira lutadora feminina a assinar com a UFC, tornando-se no processo a primeira Campeã Feminina de Bantamweight da UFC. Foi também este ano que Rousey arranjou a sua alcunha. Através de Gene LeBell, Ronda Rousey encontrar-se-ia com “Rowdy” Roddy Piper, que lhe deu a sua benesse em utilizar a sua própria alcunha. Eis que nascia Ronda “Rowdy” Rousey. Daqui, Ronda Rousey iniciou um trajeto nunca antes visto no desporto, ganhando cada vez mais reconhecimento, e iniciando a criação de uma mística à volta do seu nome, da sua figura. Concretamente:

  • Derrotou Liz Carmouche por armbar em 4 minutos e 49, do primeiro round (7ª vitória)
  • Derrotou, pela segunda vez, Miesha Tate por armbar, em 58 segundos do terceiro round (8ª vitória)
  • Derrotou Sara McMann por TKO, em 1 minuto e seis segundos do primeiro round (9ª vitória)
  • Derrotou Alexis Davis por KO, em 16 segundos do primeiro round (10ª vitória)
  • Derrotou Cat Zingano por armbar, em 14 segundos, do primeiro round (11ª vitória)
  • Derrotou Bethe Correia, por KO, em 34 segundos, do primeiro round (12ª vitória)

Wrestling Files #3 – Cai duas vezes, levanta-te três

E é aqui que a história se repete na vida de Ronda Rousey, É aqui que o pensamento de suícidio regressa, que a depressão e a tristeza voltam a invadir uma atleta que aparentemente se encontrava imbatível, inigualável, e que mais ninguém saberia quem poderia ser um “obstáculo”. Na sua sétima defesa de título, a 15 de Novembro de 2015, Ronda Rousey era favorita no seu combate contra Holly Holm. Todavia, no segundo round do mesmo, Holm derrotara por KO Rousey, pelo título, destronando-a de uma streak de 3 anos de invencibilidade. Posteriormente, a UFC suspendeu Rousey por razões médicas, e mais ninguém ouvia falar da mesma durante cerca de um ano. Muito se falou, muito se conspirou, designadamente sobre o estado em que Rousey estaria, fisicamente e psicologicamente. Certo é que a 30 de Dezembro de 2016, Rousey regressaria ao octagon para defrontar Amanda Nunes pelo Título que perdera no ano transato. E também aqui, a história ensinava algo a Rousey. Em apenas 48 segundos, do primeiro round, Nunes derrotaria Rousey por TKO, apanhando a mesma desprevenida durante todo o curto combate. Martin Rogers – colunista desportivo – chegou a referir, comentando de forma crítica o combate: “Mesmo com todo o tempo de recuperação e preparação, Rousey não aprendeu um dos golpes mais primários e básicos do boxe, uma das disciplinas nucleares da MMA”.

Apesar de tudo, não se pode retirar a Rousey um facto inegável: esta tornou-se a figura central de uma divisão num desporto que é vendido como duro, físico, e que destrói física e psicologicamente os seus atletas, maioritariamente do sexo masculino. Mais, arrisco-me a dizer que se tornou a figura central da MMA, em tempos, alterando a visão anti-feminista, que poderia existir. Mas mais uma vez, a história repetia-se; o mundo parou com a derrota daquele que era considerado um dos maiores pesos-pesados da história recente da MMA; e a pergunta instalava-se, o que faria agora Ronda Rousey?

Desde 2014 que o amor de Rousey pelo wrestling profissional é conhecido. Desde a sua alcunha; ao grupo que criou com Shayna Baszler – atual atleta do NXT -, Jessamyn Duke e Marina Shafir apelidando-se de “Four Horsewomen” (após terem obtido benesse de Ric Flair e Arn Anderson); a passar por diversas aparições para a WWE, Rousey sempre reconheceu o seu fascínio pelo desporto. E falamos de três simples aparições, mas que em cada uma delas, os rumores de que um dia Ronda Rousey iria ingressar na WWE aumentavam cada vez mais:

  • Summerslam (2014), em que Ronda Rousey apareceu na bancada, e aquando de uma entrevista no wwe.com, respondeu que “nunca se sabe se não iria entrar no wrestling como Brock Lesnar”.
  • Wrestlemania 31 (2015), em que se envolveu num segmento com The Rock, Stephanie McMahon e Triple H, tendo inclusive colocado Stephanie McMahon num pré-armbar.
  • Os rumores ganharam ainda mais força a 12 de Setembro de 2017, no Mae Young Classic, onde as “Four Horsewomen” tiveram um frente a frente com as “Four Horsewomen do NXT” – Bailey, Sasha Banks, Becky Lynch e Charlotte.

E eis que efetivamente, a 28 de Janeiro de 2018 era anunciado que Ronda Rousey teria assinado pela WWE, tendo aparecido no final do Royal Rumble do mesmo dia. E a questão é efetivamente a mesma que se colocou já: e agora?

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De forma irónica, Ronda Rousey ultrapassou duas situações semelhantes: tornou-se a melhor do mundo (discutivelmente) em dois desportos, apenas para sucumbir ao falhanço e abandonar cada um destes desportos para o seguinte. Mas será isto efetivamente de criticar? Tornou-se a melhor no judo, se algo lhe prova que não é a melhor, então decidiu-se pela MMA; na MMA, tornou-se a melhor, até que duas provas foram demonstradas que o caminho não era aquele; e portanto decidiu tentar agora a sorte no wrestling. Por muito que os fãs de Rousey na MMA – e de esta ter passado de bestial a besta, como o diabo pisca os olhos – se recusem a afirmar, isto não tem nada de errado, e é apenas natural! Agora, se a WWE – neste caso – beneficia em grande escala com a presença de Rousey a questão é outra… Mas já lá vamos.

Rousey é uma atleta. Tem técnica, tem dedicação, tem persistência e determinação características necessárias para todo e qualquer atleta que se preze, independentemente do desporto em que esteja envolvido. Mas, ainda assim, há uma questão que se prende sem qualquer dúvida: irá Rousey ter o acting, e o desempenho necessário para conquistar os fãs de wrestling e para conquistar o desporto em si?

Wrestling Files #3 – Cai duas vezes, levanta-te três

Para mim isto resume-se em dois pontos simples: booking e o desempenho de Rousey nos primeiros combates. Relativamente a booking, não é segredo para ninguém que a WWE irá apostar na continuação da história da Wrestlemania 31, com a diferença que The Rock não está envolvido no combate, uma vez que a sua carreira na representação é a sua prioridade atual (John Cena seguirá os mesmos passos, sem sombra de dúvida nos próximos anos). Não tenho problemas de maior com isto, Kurt Angle irá representá-lo, e sou vos sincero, acho um bom primeiro combate para Ronda Rousey. Não terá o enfoque apenas em si, será um bom “box office draw”, na Wrestlemania 34. Agora, de seguida, a questão será o que a WWE irá apresentar e a curto prazo acho que é óbvio que Rousey irá defrontar Asuka, sendo possível que a derrote pela primeira vez. Entre estes dois pontos, eu não acredito que a WWE tenha muitos erros de booking com Rousey, pelo nome que é, pelo que construiu. Se seguirá uma linha de Brock Lesnar, ou não, é uma questão de tempo. Para mim, não acho que seja essa a via a seguir. Concretamente, acho que esta é uma fórmula que a WWE pode ter alguma tendência a seguir, dadas as semelhanças entre ambos os atletas, mas creio que com Rousey a abordagem pode ser outra. Podem-lhe dar um destaque de “baddest women” sem condicioná-la a aparições bi ou tri-mensais; e sem a colocarem numa posição de “varrer a divisão completamente”. Atenção, se efetivamente Rousey defrontar Asuka, como prevejo e como os mais recentes rumores apontam – para o Summerslam de 2018 – acho que até lá, ambas as atletas necessitam de estar invencíveis, e de serem superiores às restantes atletas da divisão, em sentido técnico e de booking. Posteriormente, é tudo uma questão de histórias.

Quanto ao outro ponto, Rousey tem no seu arsenal movimentos tipicamente de anca, bastantes strikes e submissões, o que por si é uma série de movimentos que os fãs de wrestling ou adoram ou odeiam. Temos exemplos claros em que os fãs deliram com estilos de luta deste calibre (veja-se Chris Benoit, Kurt Angle, ou até mesmo Eve, de certa forma), mas, por outro lado, pode não correr de forma desejada, se o oponente não souber vender as manobras de forma correta, ou se Ronda não estiver à vontade em ringue. A este nível, fiquei surpreendido com a última aparição de Ronda Rousey, pois achei que a nível de “promos” estava superior ao que evidenciou no Mae Young Classic, ou até mesmo, na linguagem corporal apresentada no Royal Rumble. A este nível, a WWE para mim ganha com Rousey se apostarem naquilo que a evidenciou na MMA e na sua divisão feminina. O belo do trash talk. A utilização de linguagem mais dura, e a abertura de se referir às capacidades das suas oponentes, acabou por gerar publicidade gratuita para o desporto, e a WWE poderá ganhar a este nível.

Outra questão para mim é se esta é a altura certa para tal? Ora, a este nível o timing poderia ser diferente. Por exemplo, se Rousey tivesse ingressado na WWE ainda invencível na UFC, o impacto seria muito maior do que o que é presentemente apresentado. Sem dúvida que os fãs reconhecem o talento de Rousey, apesar de existirem dúvidas sobre a sua adaptação à WWE e ao estilo de wrestling na WWE, mas quando olham para esta a maioria tem presente as derrotas sucessivas da mesma, e a questão de “não aguentavas mais a UFC, e portanto decidiste virar costas e ir para um desporto em que as vitórias e derrotas são pré-determinadas”. A minha opinião sobre isto é uma. Como já disse, acho muito bem que tenha mudado de ares desportivos, não tinha muito mais a provar onde estava, e o facto de ser pré-determinado nada tem a ver com a forma como Rousey se poderá destacar no produto da WWE. Ora, o timing efetivamente pode não ser o melhor, em termos de exposição pública, mas, existe exposição na mesma. E para a WWE, sinceramente, isso é suficiente, num patamar: a passagem de testemunho para Triple H e Stephanie McMahon. Aliás, as palavras de Stephanie McMahon no ultimo Monday Night RAW foram inequívocas neste sentido: “A melhor decisão executiva que fora tomada por ela e por Triple H”. Não por Vince McMahon. Por eles os dois. E a este nível, Rousey poderá beneficiar no sentido em que, brevemente, o produto apresentado no RAW, SmackDown, PPV’s será semelhante ao apresentado no NXT e, mais recentemente, no 205 Live: Triple H e Stephanie McMahon tomarão as rédeas por “o criador” estar ocupado com a XFL, em 2020.

É tudo uma questão de tempo, mas sem sombra de dúvida que o ingresso de Ronda Rousey vem tornar as coisas mais interessantes na divisão feminina da WWE. Atendendo à sua história desportiva e pessoal, Ronda Rousey é sem dúvida a personificação de “cai sete vezes, levanta-te oito”. Foi a melhor, caiu duas vezes, e levanta-se agora pela terceira vez. Mas o que é que vocês acham?

Pensam que Ronda Rousey será uma grande atleta na WWE? Ou que mais uma vez a história se irá repetir?

Qual pensam que será a sua primeira rivalidade? Contra quem e em que moldes?

Que booking pensam que lhe será dado? Onde é que a WWE poderá falhar redondamente com Rousey, se não tiver cuidado?

1 Comentário

  1. Muito bom texto. Vou torcer bastante para o sucesso da Ronda na WWE, pois ela está trazendo todos os holofotes de volta para empresa despertando a curiosidade da imprensa e das pessoas para acompanhar o produto. sobre o rumar de que Asuka irá enfrenta-la no Summerslam seja falso, pois isso é uma luta digna de Wrestlemania, de preferência no main event. Se a Ronda conseguir consolidar as mulheres no main event scene da WWE, nem mim importaria dela acabar com a invencibilidade da Asuka