10 Coisas Mais Estranhas de 2020 – Top Ten #343

6 – Eye for an Eye

Para abrir, só uma pequena exploração pessoal sobre este escriba que chega a vós todas as semanas. Porque toda a gente assim o quer. Mas confesso que, com o tempo, perde-se a sensibilidade a muita coisa. A TV mais edgy, o cinema de terror e o death metal, especialmente naquela infame vertente mais grind, acabaram por retirar muita impressionabilidade a muita coisa. No wrestling… Já muitos deathmatches foram vistos para também dar para chocar com algumas coisas. Mas nem sempre foi assim e, nos velhos tempos de petiz, podiam fazer tudo menos uma coisa: ir aos olhos. Ninguém faça nada aos olhos, deixem estar esses em paz, chegou mesmo a haver uma breve mudança de canal, por segundos, quando Ric Flair direccionou um taco de baseball envolto em arame farpado, aos olhos de Mick Foley, no SummerSlam de 2006.

E, por norma, eles até deixam estar os olhos em paz. Uma coisa é um corte na testa que sara depressa, agora mexer nos olhos já é outra coisa. Portanto, tranquilo, até mesmo já conhecendo melhor as regras éticas do wrestling, ninguém quer magoar mesmo a sério o adversário, fora aquela dor base inevitável e necessária. Então, tudo bem, os olhos estão fora de questão. Isto até 2020. Provavelmente único ano possível em que se lembrassem de colocar olhos em jogo. A coisa já foi bastante agressiva quando Seth Rollins iniciou a feud, pressionando o olho de Rey Mysterio naquele canto do degrau de aço – reacções normalíssimas à notícia de que se vai ser pai. Já aí surpreenderam-me ao ser mais gráficos que o costume, mesmo fingindo a coisa, pintaram uma imagem bastante violenta. E pronto… Claro que aquilo tinha que dar em obsessão com olhos.

Até foi o próprio Rey Mysterio quem lançou o desafio e atirou para o ar as palavras “Eye for an Eye,” anunciando um novo tipo de combate. A cara que fez Kevin Owens naquele momento foi igual à que todos nós fizemos. Até à última queríamos crer que aquilo era só um título figurativo para um regular “grudge match” sem desqualificação, mas não. A estipulação do combate era mesmo essa: tirar um olho ao adversário. E até à última que esperamos um combate cinemático com efeitos especiais a deixar um dos popularíssimos wrestlers zarolho, mas não. Foram para o ringue regularmente, para nos assustar. Provavelmente único combate em que veremos o árbitro a cumprir o seu trabalho ao olhar nos olhos dos Superstars para ver se os dois estão lá no sítio. E também certamente único combate que veremos com um finish a consistir em Mysterio a segurar uma bola, quiçá de pingue-pongue, junto ao olho, com discrição, para o árbitro e os comentadores anunciarem que estava fora e Rollins desatar a vomitar, a um canto, após ver o que tinha feito. Assim foi. Assistimos a um “Eye for an Eye match” em 2020, com dois competidores de um profissionalismo e talento inequívocos, que lhes permitiu que dessem um combate brilhante, mesmo com o que tinham em mãos – UM OLHO! – e com a premissa. Portanto, ou nunca mais vemos um destes, ou vira moda e daqui a uns anos até há o PPV temático e tudo, com três main events por títulos a ser disputados por Superstars de topo a tentar sacar de um Camões do adversário. Lá está, perdeu-se a sensibilidade, estou pronto!