Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Ainda no ano passado, presenteei-vos com um artigo no qual tive o grande objetivo de vos explicar o que era a DDT Pro-Wrestling, em que consistia verdadeiramente aquela fed que toda a gente conhece de nome e que tem como primeira imagem a ideia na cabeça de cada fã da modalidade de que é uma promotora de comédia, comédia essa que quanto mais ridícula e absurda (no mais divertido sentido do termo) melhor. Disse-vos na altura em que sim, a DDT tem, de facto, uma comédia que não é para todos, mas que, para quem gosta, consegue ser das coisas mais divertidas que um fã daquele estilo de wrestling pode apreciar e, acima de tudo, com o qual se pode divertir, quase que a entrar num mundo à parte e numa fed completamente diferente de todas as demais. Mas disse-vos também na altura, e repeti-o várias vezes, que a DDT não é apenas isso, a DDT tinha na altura, e tem hoje em dia com ainda mais certezas, um excelente programa de wrestling, se quiserem, de “wrestling sério”, na qual se englobam combates de altíssimo nível, com excelente wrestling, mas ainda acima disso, tem um booking muito bem organizado, que tem permitido exponenciar ao máximo possível o que aquele roster nos pode dar e é capaz de fazer.

Com a WWE (main-roster) no estado em que está à vários anos, com a AEW que, apesar de sempre com um produto muito bem conseguido para os seus fãs, não tem um booking e vários combates que me agradam muito enquanto a nível pessoal, embora, como disse, servem de forma excelente a sua fiel audiência, com o NXT muito irregular, com a NJPW a apresentar deficiências no seu produto que explorei ainda à poucas semanas, com uma AJPW algo frouxa e pouco interessante e com uma NOAH ainda a reerguer-se a todos os níveis, todos estes fatores me levam a querer que a DDT tem o melhor produto de wrestling possível em 2021. E não se enganem, a DDT não chegou a esta minha consideração apenas por demérito das restantes promotoras, a DDT tem o maior dos méritos ao ter chegado a este nível.

Brain Buster #106 - Melhor programa de Wrestling de 2021

Devo dizer, antes de mais, que ver DDT é das coisas mais fáceis que um fã de wrestling atualmente pode fazer. Como disse a propósito do primeiro artigo que redigi sobre esta promotora, o facto de ter vária e variada comédia nos seus combates do undercard torna esses combates, muitos deles fillers e que muitas vezes servem apenas para encher o card e que todas as empresas, principalmente as nipónicas, fazem, nada aborrecidos, claramente fazendo com que existam quase que dois espaços ou blocos, o primeiro com alguma comédia, permitindo que a primeira parte do show seja sobretudo muito divertida, e divertida é absolutamente a palavra correta, à qual se juntam alguns matches que, mais sérios, não são nada longos e costumam ser sempre uma excelente ponte para a segunda parte do show, um segundo bloco em que nos é apresentado um excelente wrestling, com uma qualidade acima da média e é esse que pretendo aqui falar hoje. Notem que, como disse na altura, estas notas tendem a ser generalizadoras e falíveis, tudo depende do show, do contexto, do combate e da história em questão.

No entanto, deixo a nota que a meu ver é muito importante, que se uma fed consegue que três horas de show pareça apenas uma, que quatro pareçam duas, etc., essencialmente, que faça os fãs sentirem que o show passou bastante rápido pelos melhores motivos, então é porque realmente algo de muito bom anda a fazer essa promotora. Mas como disse, não será um artigo para falar dessa parte do card, mas do segundo bloco. Efetivamente, quando comecei a ver e acompanhar DDT o ano passado, nunca esperei, e eu que sempre tendi a gostar mais da seriedade das coisas do que do fator entretinimento, dizer aqui hoje que ela se tornou não só na promotora que eu mais aprecio pessoalmente, como a promotora que eu, objetivamente, considero a melhor da atualidade.

E devo desde já frisar que, antes de mais, um dos aspetos que me leva a considerar tal é o roster enorme, não no sentido de quantidade, mas qualidade, que a DDT tem hoje em dia. Talvez não tenha o potencial do roster da WWE, nem a experiência dos grandes palcos e momentos da NJPW ou a história de muitos lutadores da NOAH, mas tem um roster com uma vantagem sobre eles, é que é muitíssimo variado, com um elenco de lutadores muito diferentes entre si, seja na personalidade, no carisma, no estilo in-ring, etc., ou seja, em praticamente todos os aspetos em que se diferenciam wrestlers uns dos outros.

Tanto encontramos um excelente lutador técnico como o britânico Chris Brookes, Makoto Oishi, Shota ou Akito, como um excelente striker, como HARASHIMA, Yukio Sakaguchi e um lutador que eu gostaria de ver mais na DDT, o Keisuke Ishii. Igualmente, há powerhouses que se sabem carregar enquanto tal, como o Kasuzada Higuchi e o Yuji Hino, high-flyers que, não deixando de ser espetaculares ainda têm respeito pelo selling e credibilidade do combate, como o Tetsuya Endo, temos wrestlers cómicos como Antonio Honda, Kazuki Hirata e Danshuko Dieno, excelentes antagonistas como Daisuke Sasaki e Soma Takao a título de exemplo. Encontramos ainda lutadores que são excelentes underdogs, que têm uma capaciade de vender absurda e de gerar a simpatia do público e dos fãs, como o Shunma Katsumata e a Saki Akain, e depois ainda temos lutadores que são dos melhores do mundo all-around, e que curiosamente os exemplos que pretendo dar são os atuais campeões principais, o KO-D Openweight champion Jun Akiyama, uma lenda do puroresu e o DDT Universal champion Yuki Ueno, que são capazes de ombrear com qualquer lutador seja em estilo for, e é aí que se encaixa o Konosuke Takeshita, que vimos recentemente na AEW, e que tem sido a grande jovem estrela em ascensão na DDT, e que a mesma pretende ter como a sua cara.

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Com esta variedade de lutadores num roster consegue-se que cada combate, cada feud, cada title match, etc. seja sejam sempre diferentes de todos os outros. Pessoalmente, não me recordo de ver um show da DDT igual a qualquer outro, ou sequer um combate igual a qualquer outro, pois a diferença de estilos e personagens dá-nos uma diversidade enorme, impede que nos cansemos de algo, porque raramente algo é repetido de combate para combate e de rivalidade para rivalidade, porque não há realmente lutadores iguais ou sequer parecidos neste roster.

E se o roster ajuda, ainda mais ajuda o booking, extremamente bem organizado e que permite potenciar todo este talento, toda esta diversidade, que claramente tem lutadores em quem aposta forte, e mesmo aqueles que não o são, são sempre valorizados pelos grandes combates que a DDT vai produzido. Num show muito recente até, tivemos dois title matches em que wrestlers que claramente não são apostas, ou aposta forte para já, foram estrelas do show, a Saki Akai (a única wrestler feminina do roster) e Soma Takao, que, não obstante estarem tapados por vários lutadores, tiveram um combate em que mostraram que em termos de wrestling e capacidade também conseguem estar ao nível dos melhores. Numa realidade em que cada lutador tem a sua fanbase, em que cada lutador, à sua dimensão, é uma estrela, o booking mais perfeito será aquele que, não obstante continuar a ter apostas claras acima do resto do roster, consegue englobar toda a gente e ter um roster competitivo que entregue a cada title match. E um roster competitivo é muito diferente de um roster igualitário com booking 50/50. O resultado não é sempre o que importa na valorização de um lutador, é apenas uma das maneiras e a principal, mas não a única, e a DDT tem percebido isso na perfeição.

Por outro lado, notem que não estou a falar de combates enormes que nunca mais acabam e nos quais os fãs acabam por perder a atenção, como é o que se tem passado na NJPW, por exemplo, que tem tido main-events com um tempo absurdo, muitos a passar da marca dos 35 minutos. A DDT tem feito vários excelentes combates com 25 minutos, muitos deles até atingem dificilmente a marca dos 20, e não é por isso que deixam de ser ótimos, têm todos tido tempo mais que suficiente para contar a sua história. Esta é também uma das razões pelo qual os shows da DDT são tão fáceis de ver, e pelas quis os fãs querem sempre ver mais e mais. Para os fãs, principalmente do wrestling americano, que não sejam muito adeptos dos combates super longos com frequência, está aqui uma promotora que podem sempre espreitar.

Prosseguindo, isto leva-me a falar de outro ponto forte do booking da DDT que se tem manifestado na qualidade dos combates apresentados, é que as storylines que levam a cada title match ou a cada grudge match têm sido interessantíssimas e, mais do que ser uma história pré-combate, é uma história que não acaba quando a campainha inicia o combate, mas quando a campainha o termina. As histórias são contadas sempre no ringue, e apesar de a DDT não ser a única que tem conseguido ultimamente elevar um combate da simples competição para a narrativa corporal de uma história no ringue, é claramente aquela que o tem feito com mais à vontade, com mais naturalidade e até em maior quantidade. Como fã essencialmente de combates que contam uma história acima dos que se limitam a ser competição (não que desgoste destes, de todo), não posso deixar de gostar do facto de a DDT valorizar um dos pontos e aspetos que aprecio mais no wrestling que vejo.

Atualmente, o DDT Universal title está na posse de Yuki Ueno, um jovem lutador da DDT que tem sido aposta firme da empresa como futuro top babyface. E se há alguma promotora que me tem feito ficar over com algum babyface apenas com base no seu booking, e não já gostando dele por ser um excelente wrestler, é a DDT no caso do Ueno. A forma como o têm conseguido colocar over deveria ser estudada por qualquer fed do mundo. E claro que o Ueno tem entregado pessoalmente de forma fenomenal a título individual, mas os adversários que tem tido e a forma como os tem vencido têm feito dele dos melhores babyfaces do mundo, se não mesmo o melhor. O booking dele tem sido o do jovem lutador que, por mais difícil ou complicado que seja o seu próximo desafio, tem encontrado sempre uma forma de vencer, tirando um coelho da cartola.

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Por exemplo, o Yukio Sakaguchi foi um dos seus adversários e, no build up para o seu title match, com o seu estilo de artes marciais colocou o Ueno a dormir várias vezes com um Sleeper. Qual foi a história? A história do Ueno procurar integrar-se nesse estilo antes do match e já depois nele, safar-se de todas as tentativas do Sakaguchi de o colocar nessa posição. Quando consegue fazer o seu finisher ao Sakaguchi, este safa-se para espanto do público, e por mais apreensão que isso deixou no público, o Ueno saca um move que nunca ninguém pensou que ele fosse sacar e coloca ele mesmo o Sakaguchi a dormir com um Sleeper. Conseguem imaginar muitas mais formas de colocar um babyface over instantaneamente? E quem diz o Sakaguchi, diz recentemente o Soma Takao, que como muito bom antagonista que é disse que o Ueno era um campeão fraco. Ora, no build up o Ueno foi ignorando isso, mas aquando do combate foi ainda mais agressivo porque o Soma lhe deu um ponto para provar, arriscando ainda mais. Apesar de o Soma ser um heel (dos que eu gosto), que antes do comeback do babyface e mesmo durante o mesmo, tem um arsenal de  moves impactantes e que deixam o público apreensivo face ao seu favorito, o Ueno conseguiu recuperar e ganhar. Isto sim é uma aposta num lutador, e pessoalmente nunca teria imaginado melhor forma de o conseguir.

Mas quem diz o Universal champion, também se refere ao campeão principal, o KO-D Openweight champion, Jun Akiyama. Como alguns poderão estar familiarizados, o Akiyama (carinhosamente conhecido pelos fãs e muitos lutadores como “uncle Jun”), é uma lenda do puroresu, seja da AJPW dos anos 90, da NOAH dos anos 2000’s e é o homem também responsável até bem recentemente pela AJPW nos 2010’s. Ao contrário do caso do Ueno, vamos pensar da forma mais simples possível. No nosso produto, nós temos a possibilidade de contar com uma lenda da modalidade, que apesar dos 51 anos, continua em boa forma e continua a poder entregar excelentes combates.

Na teoria, qual seria a melhor forma de o usar? Porque não criar uma feud entre ele e a nossa jovem estrela e quase cara da fed, em que a lenda é quase que apresentada como o obstáculo que a essa jovem estrela não consegue alcançar? Pessoalmente também não consigo pensar numa forma melhor de exponenciar o meu lutador, o lutador que eu quero colocar no topo. E foi isto que a DDT fez com a feud entre o Jun Akiyama e o Konsuke Takeshita, em que por duas vezes o Akiyama consegue vencer a jovem estrela, mas sempre com a certeza de que o Takeshita pode completamente vencer um dia a lenda que almeja ultrapassar. E isto tudo ao mesmo tempo que os combates e o wrestling apresentado, especialmente com a classe do Akiyama nos oferece, são excelentes. Ora, e se essa lenda fica over com o nosso público, e se o público ficar investido nessa rivalidade, porque não elevar ainda mais a fasquia da história principal da fed e dar o título a essa lenda, que terá um reinado que o possa colocar no topo da credibilidade dentro da empresa, enquanto a jovem estrela vai procurar reinventar-se um pouco, ir a outras paragens, etc., fazê-lo começar do zero até que eventualmente ele se volte a encontrar o seu adversário principal? Duvido que alguma história deste género não agrade a algum fã, é sem dúvida o mais simples e o melhor a fazer.

Melhor do que isso, dessa forma temos o Jun Akiyama a poder enfrentar outros lutadores do roster e a valorizá-los também a eles, com todos a mostrar-lhe a sua individualidade e o seu caráter. O Tetsuya Endo mostrou que o seu estilo rápido e frenético podia ombrear com o estilo mais clássico do Akiyama, o Higuchi, um misto de powerhouse com uma exatidão técnica duvidou de que o Jun Akiyama fosse a melhor opção para representar a DDT e o seu dojo, mas no combate o Jun mostrou-lhe que sim, ao mesmo tempo que o Higuchi mostrou na cara do Akiyama uma dúvida em si mesmo que mais ninguém na DDT conseguiu até hoje, o Danshuko Dieno mostrou ao Jun uma parte da DDT, da comédia, que o mesmo via com desconfiança, mas que o Dieno lhe mostrou que é uma parte da individualidade da DDT e até que constituiu a maior parte da sua fundação e origem. O próximo adversário é o Ace da última década da DDT, o HARASHIMA, que é claramente o maior teste a este já histórico reinado do Jun Akiyama com o KO-D title. Todos, à sua maneira, saíram valorizados do seu combate com o Jun e mesmo este saiu ainda mais over com o público da DDT depois desses combates. Este é um booking excelente e inteligente, simples, mas bem pensado, e que, tal como já referi, só se consegue que resulte, porque o roster também o permite.

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E um outro ponto positivo é que eu não consigo pensar num único lutador do roster que tenha a sua personagem estabilizada ou que tenha parado de evoluir, e se por acaso isso acontece, é porque normalmente há uma razão para tal. Em todos os lutadores há uma personalidade que se vai formando e modificando com o tempo. Vou aqui dar o exemplo do Yusuke Okada, um ex-lutador da AJPW que se juntou à DDT no início deste ano, sendo que desde aí tem tido uma história de se provar 100x mais do que os restantes membros do roster, por decisão da DDT para provar que é uma boa aposta sua e também quase que como imposição pessoal do próprio lutador, que vai ficando cada vez mais over com o público da DDT. Ora, ele não é o mesmo lutador em todos os shows, porque combate a combate ele evolui enquanto personagem. Começou por ser um lutador muito intenso e sério que tinha um grande peso nos ombros porque tinha que se provar, mas com o tempo foi relaxando mais, ganhando mais confiança, e se é certo que esta história da sua prova pessoal ainda está para durar, nos vários combates ele dando sempre um bocadinho mais de si, mesmo que perca, ou mesmo que esteja completamente num nível diferente do seu adversário. Vários lutadores da DDT estão em processos semelhantes, de mudança de estados de espírito, de atitude, de preocupações. Lutadores não são robots que agem sempre da mesma forma, têm sentimentos diferentes em dias diferentes e em fases diferentes da sua carreira. Cabe ao booking procurar explorar esse seu aspeto, e o booking da DDT joga essa carta sempre que possível.

Por fim, dizer que atualmente com a mais que evidente parceria com a AEW, com o Kenny Omega a ser o seu elo de ligação, a atenção e os novos fãs que a DDT pode atrair é muito boa para se divulgar e ser divulgada nos EUA. Mesmo com as limitações de conhecimento que a AEW ainda tem, comparativamente com a WWE, há ainda muitos fãs mais hardcore que ainda não estão familiarizado com esta promotora, mas que podem vir a gostar e a acompanhar, isto porque, apesar de muito do seu conteúdo claramente não ser para todo o tipo de fãs de wrestling, é claramente algo diferente que muitos fãs tendem a tendência a procurar, por ser algo novo e refrescante. Não deixo nada para além de elogios àquele que para mim é o melhor produto do wrestling em 2021, que é o da DDT Pro-Wrestling.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

6 Comentários

  1. Douglas Baungratz3 anos

    Onde que posso acompanhar os shows?

    • A DDT tem o seu serviço de streaming que também inclui shows da Ganbare, TJPW e até da NOAH. A DDT também disponibiliza vários combates, do presente e passado no seu canal de YouTube.
      Online encontras em várias plataformas, watchprowrestling, watchwresting, dx.tv, youkou e bilibili, etc.

  2. Sandrojr3 anos

    Muito bom vc ter escrito um novo artigo sobre a DDT, concordo muito com oque falaste é uma promotora muito fácil de se assistir, eu também tinha esse preconceito sobre comedy wrestling, mas com a pandemia sobrou tempo para eu acompanhar várias promotoras, e a primeira ao qual me interessei em Assistir foi a DDT e não me arrependo foi uma ótima escola, ótimo artigo, e aliás o maior de Portugal levou a taça, vamo Sporting o melhor clube de Portugal disparado!!!

    • Obrigado pelo comentário.
      Ahahahaha, não sou do Sporting, mas este ano mereceram, que continuem assim e tragam mais competitividade para o campeonato português ao nível do 1º lugar, porque bem precisamos.

  3. Et Billu3 anos

    Bom artigo.