Existem incontáveis obras literárias sobre wrestling. Uns são biografias, outros são sobre histórias da estrada, bastidores, carreiras, etc. Existem livros bons, existem livros maus e existem aqueles que se isolam no topo das obras literáriras e que se destacam dos demais. E depois existe a auto-biografia de Darren Kenneth Matthews, mais conhecido por todos nós como William Regal. Ao longo de 283 páginas, William conta-nos a história da sua vida. Mas este livro é muito mais que uma simples que as tipicas auto-biografias onde tudo é rosas, arco-iris e outras tretas. Este livro é uma verdadeira lição de vida de um homem que nos relata como alcançou o sucesso e os sacrificios que teve de fazer para o alcançar. Além disso, Regal aborda os capitulos mais negros da sua vida, sejam eles drogas, álcool ou problemas de bastidores. Uma obra verdadeiramente completa que alguém que sabe o que diz.

Ao longo das próximas semanas, dependendo da aceitação que este inicio tenha, vou trazer-vos a tradução do livro William Regal: Walking a Golden Mile. O livro é bastante longo, mas com a tradução, muita “palha” perde-se, fazendo com que vos traga apenas o essencial do que o Regal quer transmitir. Vamos então dar a palavra ao Mestre.

Prólogo

Sentado na sarjeta, a comportar-me como uma estrela

Eu sempre quis ser um wrestler profissional. Não me perguntem porquê. Eu lembro-me de ter 4 ou 5 anos, sentar-me em frente á televisão ás 4 da tarde de todos os Sábados e ver wrestling no ITV’s World of Sport. Eu sabia que era aquilo que eu queria ser.

E na profissão que eu escolhi, consegui ir muito mais longe do que eu alguma vez imaginara. Eu iria aparecer diante daquele publico Inglês naqueles mesmo shows de Sábado, ao lado de icones como Big Daddy e Giant Haystacks. Eu lutei em todo o mundo. Sou dos poucos que atravessaram o Atlântico e tiveram sucesso no chamativo mundo do wrestling Americano.

Era Dezembro de 1998. Apenas alguns meses antes, eu assinei um contrato lucrativo com a World Wrestling Federation – a maior e mais bem sucedida empresa de wrestling que o mundo já viu. Eu já tinha sido uma estrela dos seus maiores rivais, a World Championship Wrestling. Mas o meu novo contrato iria colocar-me de volta no mapa.

Eu estava de volta a Inglaterra para o Natal com a minha mulher e os meus filhos, pronto para me divertir. Era uma oportunidade de voltar a ver a familia, rever amigos e celebrar a minha boa sorte. As festas começaram da melhor maneira quando conseguir encontrar-me com um velho amigo que me forneceu 3 das minhas drogas favoritas: Ele deu-me 500 Valium, algum Hypnoval (que consegue colocar uma pessoa inconsciente) e uma dose de Nubain, que é um ópio.

Nas duas semanas que se seguiram, eu tomei Valium todos os dias – o suficiente para meter uma dúzia de burros a dormir. Durante o dia, injectava Nubain e durante a noite, injectava Hypnoval. Desmaiava durante algumas horas e injectava mais sempre que acordava durante a noite até me fartar. Eu nem sequer pensava em sair da cama de manhã sem tomar 10 Valium.

Toda a gente estava a agir de uma maneira estranha durante aquele Natal. A minha mulher não me falava. Ninguém da familia dela – com quem iamos ficar – falava comigo. Os meus amigos de Blackpool pareciam também algo distantes. Eu disse ao meu amigo Glen para não se preocupar pois eu iria para a reabilitação quando voltasse aos Estados Unidos. Eu não sabia, até mais tarde, o quão preocupado ele estava.

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E era desgastante, arrastar-me por Blackpool a tentar encontrar alguns dos meus velhos amigos. Comprar comprimidos de Speed – uma anfetamina – parecia ser a única maneira de continuar.

Era noite de Natal. Eu era uma Superstar da World Wrestling Federation e ia celebrar isso. Havia uma loja aberta – uma loja de bebidas – ao fundo da rua. Entrei e comprei o máximo de garrafas que consegui carregar. Tinham todas nomes parvos – Hooch, Two Dogs – mas eu não queria saber. Eu só as queria para empurrar os Valium. Tomei 10 comprimidos e sentei-me na sarjeta para beber todas as garrafas que tinha. Os cães olhavam para mim sempre que passavam á minha frente.

Na manhã desse dia, tive de telefonar ao meu pai e confessar que tinha um problema com drogas. Eu nunca queria que ele soubesse. Ele educou-me sozinho depois da minha mãe desaparecer e significava mais para mim do que qualquer pessoa no mundo. Mas eu tinha de lhe dizer. Era a única maneira de explicar o porquê da minha mulher e dos meus filhos não irem comigo vê-lo durante o Boxing Day. A minha mulher não aguentava sequer estar na mesma divisão da casa que eu.

Passei vários dias na casa do meu pai. O filho do meu padrinho veio para tentar meter-me algum juizo na cabeça. Ele era mais velho que eu mas fomos sempre cúmplices. Eu disse-lhe o que dizia a toda a gente: nada daquilo era culpa minha. Toda a gente estava contra mim. Ninguém entendia a dor que eu sentia. Eu tinha de trabalhar lesionado. Ninguém sabia o quão duro o meu trabalho era. Eu inventei desculpas de todas as formas e feitios. E todas elas eram totalmente falsas.

O meu primo Graham não teve melhor sorte. Crescemos juntos e eramos como irmão, mas eu também nunca o ouvi.

Era noite de passagem de ano em Blackpool. Á porta do bar Heaven and Hell estava o meu amigo Stuart com outro amigo. Perguntei-lhes onde andava o Glen, mas nenhum deles me falava. Mesmo drogado, eu sentia que eles estavam desconfortaveis com a minha presença. Eles eram meus amigos mas não me queriam ali, nem sequer perto deles.

No dia 2 de Janeira voamos de volta para a America. Procurei nos meus bolsos por algum Valium que me ajudasse a suportar a viagem longa. Tinha apenas 3 comprimidos e meio. Nem que eu estivesse bebedo aquilo seria suficiente para me apagar. Entrei escondido na parte de trás do avião onde as hospedeiras têm o carrinho das bebibas e roubei quantas garrafas de Gin consegui. Nunca tinha bebido Gin na vida, mas naquela viagem eu bebi garrafas e garrafas de Gin.

Isto aconteceu dois dias antes de eu ter de me apresentar no centro de reabilitação. Eu tinha apenas 14 semanas para salvar a minha própria vida.

Como é que eu deixei que a minha vida se tornasse neste grande pesadelo e nesta imensa confusão?

É uma longa história….

Deixem então o vosso feedback nos comentários sobre o livro e se acham que vale a pena traduzir a obra.

See you next week, here on WPT

15 Comentários

  1. the9plus110 anos

    Umaa história de vida, de como sair do fundo até ser um dos mais respeitados no mundo do Wrestling…. Sim. Creio que vale a pena traduzir, nem que seja para ensinar aos mais novos que a vida de Wrestler não é fácil…

  2. Piparoo10 anos

    traduzam sim , creio que é uma obra de respeito e nós , fãs do wrestling saberemos como a vida de um wrestler não é nada fácil . por mim podem traduzir 😉

  3. Muito bom, agradeço-te pelo esforço que vais fazer ao dar-nos a conhecer esta obra que relata a vida de Mr. Regal.

    Estou ansioso para mais.

  4. Rúben Branco10 anos

    Sem dúvida um dos MELHORES lutadores de sempre e uma grande inspiração para mim.
    Obrigado pelo esforço de dar a conhecer o fabuloso trabalho desta lenda 😉

  5. Bill Rods10 anos

    RicardinhoO, obrigado por teres tomado iniciativa de traduzires esta obra.
    Não fazia ideia que o Regal tinha tido esse tipo de problemas na sua vida, o que deixou logo “bichinho” para saber mais.
    Por mim, segue em frente e vai traduzindo o resto da obra. Vale a pena! Eu agradeço!

  6. Joao Filipe10 anos

    Continua que me deixaste curioso.

  7. nao costumo comentar mas desta vez peço-te que continuas a traduzir que vale a pena muito interesante boa sorte

  8. Adorava que pudesses continuar a traduzir, até porque parece que é uma lição de vida! Obrigado desde já!

  9. Continua Ricardo, muito bom!

  10. será que algum dia o veremos no Hall of Fame?

  11. Continue, tomei interesse pela história, esta é a unica tradução para PT??, queria este livro

  12. Muito bom, Continua!

  13. Traduzam sff, terei todo o gosto em ler esta longa história. Excelente “rúbrica” RicardinhoO. 🙂

  14. wallace10 anos

    sim pode traduzir pois na minha opinião foi o mestre em torções e submissões