Olá e bem-vindos a mais uma semana de muito Wrestling! O artigo de hoje será sobre o grupo ao qual Daniel Bryan pertenceu por curto período de tempo, liderado por Bray Wyatt e consistindo da sua família de seguidores Harper e Eric Rowan.

A sua estreia no elenco principal está a uma semana do primeiro aniversário, daí achar razoável dar uma vista de olhos pelo seu ano inaugural e criar expectativas para o que virá a seguir.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

A caracterização de Bray Wyatt debutou no território de desenvolvimento Florida Championship Wrestling, em Abril de 2012, sendo retratado como o líder duma misteriosa stable, um culto maléfico que acredita na monstruosidade humana e que usa discursos complexos, jogos psicológicos e força bruta para intimidar os oponentes e vencer os combates.

Em Julho, sofreu a rotura do músculo peitoral e recorreu a cirurgia, fundando a facção em Novembro, tendo o seu combate após lesão acontecido a 21 de Fevereiro, vencendo Yoshi Tatsu.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

A 2 de Maio, enquanto era derrotado por Chris Jericho, Harper e Rowan venciam uma Triple Threat Elimination Tag Team Match para garantir uma “Title Shot”, vencendo os Tag Team Championships da NXT uma semana depois. A 17 de Julho, perderiam para Corey Graves e Adrien Neville.

A promoção da sua estreia começou a 27 de Maio, mostrando as suas origens pouco civilizacionais, atacando Kane ao debutar no início de Julho.

Não foi surpresa alguma ter sido o Devil’s Favourite Demon o eleito para a demonstração inicial de objectivos. Esta “carta de apresentação” era esperada não só pelo estatuto que representa ter a Big Red Machine como adversário como pela personagem que este sustém.

Sendo altamente competente a elevar jovens, o Big Red Monster seria o elo de ligação para se perceber o que são estes indivíduos barbudos dos bosques – uma continuação dele próprio no que se refere a “abraçar o ódio”.

Ora, Glen Jacobs deu-nos alguns dos maiores momentos de maldade e crueldade do desporto de entretenimento mas não conseguiu suportar essa tese durante estes quase 20 anos de carreira.

O que a família quis exibir naquele ataque foi que não se contasse com danças ao lado do cómico italiano Santino ou a descobertas de humanidade e sentimentos que alterasse ou inibisse o rumo da história criada originalmente.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

Foi pretendido também fazer a distinção entre a escuridão da era de Kane e seu irmão para esta, na qual a repulsa pela dor provocada noutros é mais real e baseada no ambiente cinematográfico.

Max Candy (do suspense dirigido por Martin Scorcese “O Cabo do Medo”), Jason Vorhees (Sexta-Feira 13), Michael Myers (Halloween) e séries de drama ou terror como “Quinta Dimensão” e até “Arrepios” formaram o molde de algo que, para os americanos, é o problema do exílio urbano e da solidão do Interior daquele país.

O estereótipo de saloio ou campónio é, nos EUA, usado para rotular pejorativamente os sulistas conservadores, analfabetos…

Os adereços de entrada e a sua música “Live in Fear” transportam-nos a uma cabana rústica no meio do nada, um buraco pantanoso cheio de crocodilos e outros animais selvagens, onde a candeia apagada por Bray no entrance vídeo e a cadeira de baloiço onde se senta salienta a falta de evolução de alguns meios rurais.

Se a tareia a Kane teve quota parte de percentagem na exposição da sua personalidade, os vídeos de propaganda, as promos gravadas e os segmentos implicaram mais atenção sobre a cisão com o sobrenatural e a aproximação a algo tradicionalmente americano.

Aí, as localidades densas e protegidas pelo arvoredo dos seus vídeos tiveram papel fundamental, trazendo à baila todo o medo que o desconhecido desperta e mais filmes como “O Projecto Blair Witch”.

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Os ataques continuaram sobre lutadores como R-Truth, Justin Gabriel e 3MB, método usual para convencer a plateia da brutalidade infligida ao antigo “Hell No”.

Apesar deste abrandamento, mensagens seriam enviadas ao destinatário, de onde se retiraria a frase-feita “Follow the Buzzards”. No SummerSlam, uma luta Ring of Fire foi aceite, tendo obtido a vitória por interferência dos discípulos, atacando-o e carregando-o para fora da arena no final do combate.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

Não sei se pela estipulação incluir fogo se pelo nervosismo, este não foi o desafio que eu esperava ver da sua parte. Se era sabido que “The Army Tank with a Ferrari Engine” dos Nexus não dava nada no ringue, pensava-se que a nova gimnick não vivesse só da sua enorme prestação ao microfone.

O certo é que a primeira disputa trouxe domínio do adversário e aplicação de vários finishers que num One on One chegava e sobrava para a sua derrota.

Eis que o conjunto ganha pontos ao não temer as chamas e a interferir a favor do chefe, contribuindo para o resultado favorável. Estava feita a declaração de que a família nada receava e que coisa alguma era obstáculo suficiente para os fazer recuar nas suas empreitadas.

O final trazia a sensação de incerteza acerca da vítima: o que seria feito de Kane? Seria lembrado como inspiração e voltaria a ser heel, comandaria os desígnios do grupo ou seria submetido a lavagem cerebral para se tornar num deles?

A conclusão intrigante do angle libertou dúvidas, sendo uma brilhante jogada de controlo intelectual.

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O ímpeto recebido teria continuidade numa vitória contra Kofi Kingston, até começar a próxima feud contra Daniel Bryan e CM Punk, em Outubro.

Este envolvimento com os main eventers foi idealizado para lhes dar mais credibilidade e iniciá-los nas histórias relevantes.

No Survivor Series, a Tag Team “Best and the Beard” bateu Harper e Rowan, contudo, a família derrotou o “Yes Man” numa Handicap no TLC, tentando recrutá-lo para a equipa.

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Frustrado com a direcção imposta pela Autoridade, desistiu de os contrariar e juntou-se aos inimigos. Por coincidência, desde a sua entrada, o colectivo nunca mais teria sucesso.

Até o mais ingénuo entendia o truque, pois não se acreditava na mudança para vilão do face mais inflamado do plantel e a sua união a quem o castigava a cada programa.

A simulação duraria poucas semanas, pois a libertação sucederia pela metade de Janeiro, através dum ataque aos outros membros. Tidos como parvos, lá recuperaram a valorização no Royal Rumble, onde Bray derrotaria o impostor.

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Nesse evento, custaram o WWE World Heavyweight Championship a John Cena. A 27 de Janeiro, durante uma luta de qualificação para a Elimination Chamber, os Shield saíram prejudicados e quiseram vingança.

Então, uma Six Man Tag Team Match foi posta em prática para o evento, saindo vencedores, causando ainda a eliminação do Cena.

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Esta “lista de recados” podia ter sido demasiada areia para a camioneta deles, mas foi tratada com total consideração, não esquecendo a “Big Picture” enquanto resolviam atritos de última hora.

Incrível como conseguiram elevar e ser elevados, reforçando Daniel Bryan de ânimo para a busca do título e denotando as quebras que o Escudo ia tendo.

Se a ligação com o Goat foi quase restrita ao pêlo facial, o embate com os Hounds of Justice era o sonho de se saber qual o bando mais dominante.

Se pouco interessava qual iria adoptar a postura mais heróica e a mais vilã, isto abriu a evidência de que a rebeldia de Dean, Seth e Roman se coordenava lindamente com os anseios duma audiência privada do “Voice of the Voiceless”, tomando o seu lugar daí para a frente como os novos faces revolucionários.

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A atenção ficou inteiramente virada para a feud contra o “Marine”, querendo provar que os seus actos de bom samaritano eram uma “facada nesta era de mentiras”, tentando torná-lo num “monstro”.

A derrota de Bray na WrestleMania veio salvaguardada por uma boa prestação do seu oponente na narração desta história de terror, na qual a teatralidade se impôs como determinante.

É verdade que Cena começou isto tudo como de costume: piadas, risos, escárnio e descredibilização. Cedo os oficiais perceberam que não era esse o caminho, não desta vez.

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Se tudo se repetia e não é de agora que se tenta mudar as características de Cena, ele não podia ignorar o impacto deste ultimato, não como fizera das outras vezes.

A postura assustada, na minha opinião, tapa o descalabro inicial, até porque está no seguimento dum guião de filmes de horror: ninguém acredita na tal criatura assassina até a vir ou perceber como ela é ou a sua intenção.

Cena até deu mais veracidade à situação quando prestou sentido nos intuitos da família depois de os ter gozado.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

A feud continuou baseada na captura do público alvo da Cenation, exemplificada pelo coro infantil disfarçado com as máscaras de ovelha.

Esta era uma revelação de poderio: as crianças não quereriam saber de “Não me consegues ver” ou das camisolas coloridas substituíveis todos os anos, agora seria a altura de cobrir a cara e deixar-se controlar e manipular por algo maior.

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No Extreme Rules, Cena foi derrotado devido à interferência duma “criança demoníaca” e da restante família, numa Steel Cage.

Uma luta de jaula fechada a cadeado costuma ser local proibido a terceiros, mas o aço foi incapaz de impedir os seus ajudantes de entrar.

A nova manobra de distracção na figura do miúdo possuído foi mais um dos joguetes que Bray será possibilitado de utilizar daqui adiante.

Isto só peca pela incapacidade dele deter o oponente sozinho, precisando até agora do auxílio dos outros. Sabendo que se trata do Cena e duma stable com comportamentos heel, tende-se a aceitar.

A feud continuou numa Last Man Standing, na qual Cena saiu vencedor. Aqui a interferência exterior podia ser recíproca, daí ter envolvido os Usos na ajuda ao face.

Isto complicou a eficiência do ataque de toda a família que, sonhando alto, podia ter adormecido Cena por 10 segundos no tapete e adquirido a vitória.

Como é normal, o Mister “Hustle, Loyalty, Respect” achou maneira de se ver livre das adversidades e acabou por triunfar… A terminar aqui a feud e sendo correcto, entendo que mais uma vitória por interferência não o beneficiaria ou catapultaria, só fazendo sentido se saísse por cima sozinho.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

Bray derrotaria Dean Ambrose para se ver qualificado ao combate de escadote Money in the Bank, enquanto os seus aliados se envolveram com os Usos e devem seguir o trilho do Tag Team Championship.

Seguindo a tradição das stables, não demorará até todos se apresentarem com o ouro à cintura. Bray é hipótese pelo título unificado através da mala, apesar de ter Cesaro e Lesnar à sua frente.

A decisão da desunificação e de quantos contratos estarão “on the line” no PPV decidirá as chances que terá. Seria mais fácil com os títulos separados, não fazendo sentido o angle de ter os dois cintos pendurados e a valer por um e, caindo, duas superstars apanharem cada um deles.

Aí seria necessária a mesma conversa para ver qual seria o campeão indisputado, ou seja, para prevenir isto e seguir o objectivo do título único, só um cinto estaria colocado sob o ringue.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

Aos 27 anos, 1,91 metros e 129 quilos, Bray tem o mundo nas suas mãos. Os versos “He’s got the whole world in his hands, he’s got the whole wide world in his hands” é duma canção tradicional e espiritual americana de 1927, tocada por cantores Gospel e músicos Pop.

Começou a cantá-la durante a sua feud contra John Cena, acentuando a religiosidade da sua gimnick e com o inimigo a reconhecer que fica no ouvido.

A receptividade foi tanta que se teve receio de ganhar simpatia dos espectadores que a cantam com ele. Quando tiver de mudar, está aqui um factor com o qual contar.

Outra vertente que se vislumbrou logo foi a espontaneidade de encarnação de aspectos teatrais, como a cena assustadora retirada do filme “Exorcista” – “Spider Walk” – a “Sister Abigail” (Reverse STO) e a capacidade facial de expressão, como quando se ri da desorientação dos adversários, confiante por saber que entrou na cabeça deles e que tirará partido disso.

The People's Elbow #60 - The World Is Yours

O “Eater of Worlds” passou de Wrestler mais odiado do ano 2010 como parte dos Nexus (pelos quais teve a feud de 2010 contra a Team WWE) pela Pro Wrestling Illustrated para ter a Best Gimnick do ano passado pela Wrestling Observer.

Ele é a sequência natural do retirado “Phenom” e do seu “Brother of Destruction” que não tardará a fazer-lhe companhia. Quem diz estes diz também outros alucinados como Vader, Foley e Sid Vicious.

Ele é um autêntico trabalhador nato, sendo ele o autor das suas promos estilística e textualmente elaboradas, com vocabulário aperfeiçoado e uma narrativa de alto calibre.

Não é nada fácil compor aquele género de prosa e ele fá-lo. Interpretá-lo então será de fugir… e ele fá-lo. Efectuar performances no ringue após ser o “barril com pernas” do esquadrão de Wade Barrett seria condená-lo e hoje as dúvidas estão dissipadas…

Ele tem muita margem de manobra para fazer o que quiser, tendo ao lado Harper que lá vai pronunciando os seus “Yeah, Yeah, Yeah” e rebolando-se como um crocodilo antes de aplicar a sua Discus Clothesline e Eric Rowan a quem falta carisma naquele visual de “duende verde” e que lá se vai mantendo com o seu Splash e Sitout Side Slam.

Esta semana é tudo, deixem a vossa apreciação e aguardem pelo próximo artigo.

3 Comentários

  1. Rodrigo Neves10 anos

    Isto deve ser o melhor artigo deste site que eu já li! Miguel, mesmo sendo um artigo razoavelmente grande tu conseguiste mante-lo interessante. Parabéns. Sinceramente acho que este PPV podia ser o dos Wyatt, ou seja, o Harper e o Rowan ganhavam os tag titles e o Bray ganhava o WWEWHC, mas mesmo assim eles vão conseguir atingir essas metas e aí sim, vão se tornar a stable mais poderosa de todos os tempos!

  2. Felipe Mello10 anos

    Me preucupa o futuro deles

  3. Se tem uma stable que não me preocupa na WWE, essa com certeza é a Wyatt family, estou muito contente com o modo como eles vem desenvolvendo o seu trabalho e arriscaria dizer que eles tem a grande responsabilidade de prosseguir com o legado de Taker e Kane de manter uma parte da WWE nas trevas.