1 – Andy Kaufman vs O mundo
Sim, tem que ser um antiguinho para os tempos de kayfabe vivo para se buscar o maior exemplo. Porque envolve uma personalidade única que fez vida e fama à custa disto. Onde acabava Andy Kaufman o homem e onde começava Andy Kaufman o personagem provocador, cujo principal acto era chatear pessoas? Um indiscutível mas tardio Hall of Famer, foi um dos protagonistas de um segmento histórico e inesquecível.
Andy Kaufman fez-se conhecido em palcos pelo seu país fora e por aparições no Saturday Night Live pelo seu genial estilo de anti-comédia disparatada que, mesmo visto como um gosto adquirido, também era visto como genial. Mesmo os seus momentos mais provocadores como ter um espectáculo seu a ler um livro na íntegra para chatear quem tinha pago para ver a imitação do Elvis são fenomenais. E algo o fascinou. Assistindo a wrestling, adorou a ideia do Heel estar ali a provocar e a fazer de tudo para ser vaiado e a divertir-se com isso. Caramba, isso era tão Kaufman! Lá se envolveu na indústria, tão provocador como sempre, desafiando maioritariamente mulheres. E a meter-se com alguns nomes notórios. Entre o outro protagonista do grande momento: Jerry Lawler.
Os dois tinham uma rivalidade azeda e partilharam sofá no histórico talk show nocturno de David Letterman. No meio da irritação, Lawler não aguentou mais e aplicou-lhe ali um chapadão daqueles. Em TV, assim. O estalo ouvido pelo mundo inteiro, pode dizer-se. Nem deu muito para se questionar a veracidade da coisa, era só um lutador de cabeça quente e agredir um tipo que adorava ser irritante. Eram os fãs de Kaufman que viam ali uma stunt que parecia mesmo ser das suas. Tiveram todos que esperar mais de uma década pelo filme “Man on the Moon,” fita biográfica com Jim Carrey a interpretar Kaufman e Jerry Lawler a interpretar-se a si próprio, para verem a cena em que confirmam que tinha sido tudo combinado pelos dois. E ambos acharam um piadão. Também nós. E uma destas não volta a acontecer. “If you believe they put a man on the moon” cantaram os R.E.M. no seu êxito de 1992 dedicado a Kaufman. Também nós temos direito a acreditar que alguns momentos surreais como este foram autênticos.
Como este, os outros todos da lista e mais alguns. Até se torna algo agradável, se não fosse por ser preocupante por vezes, voltar a acreditar nalguma coisa. Lembra-nos a inocência de tempos em que não questionávamos a veracidade daquilo, não tínhamos uma internet a dizer-nos o que vai acontecer e simplesmente aceitávamos que um programa com várias lutas supostamente espontâneas acabava sempre a horinhas certas. Haja algo que nos faça duvidar da nossa própria esperteza e chico-espertismo.
Quem pode ser chico-esperto, ou não, e ser apenas um participante normal como tenho gosto de dizer que são a maioria quase total, são vocês. Comentando, como a vontade parece ter voltado a acordar. Afinal são temas que acho que puxam a conversa e este também é um deles. Comentem os momentos e confessem, sem medos, que aqui é um lugar seguro: momentos em que foram suficientemente inocentes para acreditar que o que estavam a ver era real e não fazia parte dos habituais guiões de uma indústria tão estranha de desporto pré-meditado. Força nisso que na próxima semana há mais um e é curioso porque, para quem gosta tanto de nos surpreender, por vezes até acabam a falhar redondamente. Umas vezes é chato e outras vezes é cómico. Mas vamos a ver se dá para reunir dez momentos em que nos estragaram a surpresa, intencionalmente ou não. Não vou estragar eu a surpresa: pode ser um ranking difícil de completar, não prometo nada!
Mas venham cá ver, agasalhados, com um Inverno a fazer-se sentir e agora sim estamos na época natalícia para desfrutarem das luzinhas da vossa rua. Mas espero bem que já tenham feito as vossas compras e não deixem tudo para a última! Boa azáfama a todos, que já sei como é a coisa! Até à próxima e fiquem bem!
2 Comentários
Que excelente artigo! Ja me prendeu com a excelente introdução. Me identifiquei com a parte “bons tempos de infância sem internet…bom recuperar ingenuidade” acho que o autor resume o sentimento de muita gente ao ver wrestling quando criança/miudo e o contraste de agora, com internet a disposição e ter a noção do que se passa realmente nos bastidores… muito bom
Não sei qual tiraria, mas colocaria aqui sem dúvida a promo do Paul Heyman direccionada ao Vince McMahon no último SmackDown antes do Survivor Series de 2001. Algo que me diz que o “I hate you” do Rollins ao Punk também foi inspirado por essa promo do Heyman.