Boas a todos nesta grande casa que é o Wrestling PT!

Esta semana, foi noticiado, inclusive aqui no Wrestling PT, que os oficiais da WWE não estavam muito confiantes no trabalho de Braun Strowman. Acreditam que, neste momento, ele não é a melhor solução para segurar o título Universal, nem ser a cara do SmackDown. Como todos sabemos, seria Roman Reigns o escolhido para vencer Goldberg na WrestleMania e Braun Strowman só surgiu na altura, como ainda surge hoje, como a melhor solução possível de momento, e não a melhor solução e ponto final.

Para muitos de vós, esta notícia não terá trazido alguma surpresa sequer, mas para mim, ela é um apanágio do que foi a carreira de Braun Strowman na WWE. Ela foi feita de apostas precipitadas, pushs demasiado intensos, desistências e desilusões. Vejamos, até ele aparecer este ano como adversário-surpresa do Goldberg na Mania, alguém estaria a ver o Braun Strowman nessa posição antes disso acontecer?

Não tenho dúvidas que nos sentimos dessa forma, pois o tratamento dado ao Braun desde que se estreou em 2015 é o mesmo que é dado a qualquer outro lutador do roster. Já aqui falamos do booking 50/50 e da facilidade com a WWE consegue matar a aura especial de qualquer lutador do seu plantel, por isso, quando alguém vence o título máximo pela primeira vez depois desse processo, os fãs estranham, pois acontece tudo no vazio, sem qualquer construção, sem os fãs terem alguém em quem se investir.

Contudo, no caso do Braun e, diferentemente do que sucede com muitos lutadores que a WWE tem hoje em dia, esta sensação sentida, não só por nós, mas como também pelos oficiais da WWE, não existiria. É sobre esta questão que o artigo de hoje trata, pois, pessoalmente, acredito que se não tivesse a WWE matado o quão Braun chegou a estar over no passado, o seu primeiro reinado como campeão mundial podia estar a ser sentido de forma bem diferente, mais intensa e cativante. Para tal, irei socorrer-me do que foi um pouco da história deste lutador na WWE.

Brain Buster #64 - Uma indefinição dos diabos

Braun estreou-se em 2015 para se juntar à Wyatt Family, coisa que atualmente na sua feud com Bray Wyatt estão a recuperar. Foi apresentado como monstro demolidor de toda e qualquer ameaça e do grande trunfo do líder Bray Wyatt para vencer as suas batalhas. À altura, foram várias as críticas a este lutador. De facto, a forma como se estreou no main-roster de forma tão prematura notou-se consideravelmente na sua prestação no ringue. Bastante limitado nas manobras, velocidade e num bom selling, era, sem dúvida, um lutador que muita gente não queria ver a ter tanto destaque. E diga-se, com razão.

Já em meados de 2016 seguiu o seu rumo sozinho, sem haver qualquer explicação de ter saído da Wyatt Family, o que explica o facto de a WWE hoje em dia ter que relembrar a toda a hora, através de Bray Wyatt, que o Braun fez parte da sua stable, porque acredito que muita gente não tivesse grande memória desses tempos. Dessa forma, a construção de Braun como lutador desinteressante, simples monstro que destruía tudo e todos continuou e, com ela, os pedidos dos fãs para lhe retirarem o destaque que ele tinha.

As coisas só começaram a mudar no final de 2016 com a sua feud com Sami Zayn, devido a uma grande prestação deste último. O Strowman finalmente teve um rival que tirasse dele algum interesse, que o fizesse construir uma rivalidade interesse à volta do underdog que não temia o monstro, mas foi já em 2017 que a sua excelente (e não tenho medo de usar esta palavra para a descrever) feud com Roman Reigns o estabeleceu aos olhos dos fãs. Os combates entre ambos eram intensos, muitos até muito, muito duros fisicamente. Não só o Braun ganhou uma personalidade (coisa que até aí não existia), como o próprio Reigns beneficiou de segmentos e combates em que teve de ir ao inferno e vir. É mesmo caso para dizer que quando saiu desta rivalidade, o Braun estava over como tudo, bem mais do que o próprio Reigns e tinha tudo para singrar como main-eventer na WWE. Isto se a WWE quisesse…

A seguir a essa rivalidade teve um combate com Brock Lesnar em que não teve ofensiva quase nenhuma. Continuou a seguir o seu caminho no up-midcard e, como tinha muito apoio dos fãs, virou face, pelo que quando chegasse a WrestleMania, seria de esperar que um lutador com aquele tamanho e estatuto já adquirido no roster no último ano tivesse grande combate no maior evento do ano, certo? Não, ganhou os títulos de Tag Team com um miúdo de 8 anos. Este tipo de coisas humanizou o Braun, que não deixando de ser uma ameaça séria ao roster, mostra que ele não é tão ameaçador como se poderia pensar.

Brain Buster #64 - Uma indefinição dos diabos

Após isso, venceu o Money in the Bank, um contrato que dá quase como garantido um título mundial ao seu vencedor, mas que, no caso do Braun, não bastando ele não ter vencido o título, como foi um dos piores possuidores daquela mala. E não foi por falta de destaque. Vejamos, a WWE tem no Braun um dos maiores babyfaces da empresa nos últimos 5 anos, e aquilo que faz quando ele está prestes a vencer o título é torna-lo heel? Sem que houvesse uma razão para isso, sem que a sua personagem necessitasse de um refresh. Não, nada era preciso fazer, para além de o fazer ganhar o título como face. Para além disso, ainda se aliou a Drew McIntyre e Dolph Ziggler numa stable de poucas semanas, como se fosse um lutador que, pelo seu tamanho e capacidade no ringue e fora dele precisasse de coisas do género. Acabou por fazer o cash-in no único Hell in a Cell da história que terminou num empate porque ambos os lutadores foram atacados. Ainda dá para defender a WWE assim?

Uns 2 meses depois, voltou a virar face, porque a WWE entendeu o erro que tinha feito, mas como seria natural, não voltou a estar over como antes, assim como voltou a lutar com Brock Lesnar no final de 2018, mais uma vez, num combate sem qualquer ofensiva e que só serviu para marcar o início da sua rivalidade com King Corbin, lembram-se? Aquela feud incrível? Ah, pois, erro meu. Definitivamente não o foi.

Durante 2019 andou perdido em feuds no midcard, ganhou a Battle Royal na WrestleMania (mais uma vez esteve num combate interessantíssimo no maior evento do ano), chegando ainda a lutar pelo título Universal contra Seth Rollins e a perder. Teve também aquele combate com Tyson Fury, que para além de ter tido uma péssima performance, o facto de Braun não vencer também não contribuiu para que a sua aura voltasse a ser especial. Ganhou o título Intercontinental no início de 2020, mas nunca lhe foi dada qualquer oportunidade para ter um reinado que significasse alguma coisa. Como disse no início, foi colocado aleatoriamente no combate pelo título Universal de Goldberg na Mania e só ganhou porque o part-timer não queria lutar mais a partir da WrestleMania.

Vistas as coisas desta perspectiva, porque eu ou qualquer de nós e até os oficiais da WWE deviam ver Braun como outros olhos? Talvez estes últimos porque foram responsáveis pelo seu booking, mas de resto, os fãs não se vão investir num lutador com este booking. Depois desta pequena jornada na história chego a duas conclusões: a primeira é que a WWE o pushou até à lua quando os fãs não queriam e desistiu dele quando os fãs só o queriam a ter sucesso; a segunda é que a certa altura ele passou a ser visto como mero midcarder que fosse ao main-event quando era preciso, pelo que, agora, há uma sensação de estranheza em vê-lo no topo. Desta forma, a carreira dele sempre esteve numa grande indefinição. A WWE nunca levou um push seu ao fim, nem nunca desistiu dele completamente. Está naquela típica situação evitável que a WWE se gosta de colocar em que não sabe o que há de fazer com ele.

Brain Buster #64 - Uma indefinição dos diabos

Pessoalmente, gosto bastante do Braun. Foi um lutador que não olhou às críticas e fez o seu caminho para melhorar nos vários aspetos até que nós o começamos a adorar. Aproveitou da melhor forma a subida muito prematura ao main-roster e sobreviveu. Foi dos poucos monstros apresentados nos últimos anos a conseguir manter alguma credibilidade. Não é um wrestler de 5-star matches, nem precisa de ser. É capaz de dar combates brutais e muito duros, bem como mais violentos quando a rivalidade ou a estipulação do match o exige. Para além disso, tem uma estrutura física que hoje se vê pouco no pro-wrestling e que é do agrado da WWE, ao mesmo tempo que satisfaz os fãs mais exigentes no ringue e fora dele. Perante isto, eu pergunto: qual é o problema? O Braun tem tudo, mas tudo, para ser das principais caras da WWE. É de tremenda estupefacção que ainda não tenha sido colocado nesse posto, nem que assim seja visto dentro da WWE.

Mesmo olhando agora para o seu reinado como campeão Universal, está muito longe de ser perfeito, mas não tem sido nada aborrecido. Pessoalmente, tenho gostado desta feud com Bray Wyatt e a forma como a WWE os fez contar uma história interessante no Money in the Bank surpreendeu-me pela positiva. Tendo em conta também as circunstâncias de não haver público que carregue o campeão nos seus combates, acho que seria difícil termos mais que isto, fosse com que campeão face fosse.

Claro que não deixou de ser colocado em situações muito pouco interessantes como o Handicap match no Backlash, mas mesmo aí, tanto o Strowman, como os seus adversários (o Miz e o John Morrison) fizeram o que podiam para tentar dar alguma graça à rivalidade e história que estavam a contar. Repare-se que não foi o Braun que se colocou em situações difíceis como esta, foi a WWE que o colocou a ele, por isso, se este lutador ainda assim consegue dar o máximo que pode com o que lhe dão, será a culpa dele?

Sinceramente, se o Braun perder o título para o Bray Wyatt proximamente deve fazê-lo porque a história assim o conta, e não porque é necessário trocar de campeão, pois o Strowman foi incompetente no trabalho que teve desde a WrestleMania porque na minha opinião não foi, assim como deve continuar a ser uma aposta de futuro da WWE, um dos principais jovens e novos nomes que a WWE deveria e deve colocar no main-event e considerar como uma das suas principais caras. Como sabem, não sou fã de cinematchs, mas se o que aparentemente vier aí entre os dois servir para continuar esta boa história, que venha. Que sirva também para abrir os olhos de quem toma decisões na WWE acerca da sua capacidade e qualidade.

Hoje ficamos por aqui.

Até para a semana e obrigado pela leitura.

15 Comentários

  1. “GET THESE HANDS”

  2. Bea Ospreay4 anos

    Quem ve pensa que a carreira dele até aqui foi fraquissima… bom, vem sendo mesmo, até quando ganha algo, não é do jeito correto.

  3. 13cm4 anos

    Lembro também da feud que ele teve com o Kevin Owens, onde Braun era para ser o face da história, mas a maneira que a história foi contada, deixava o Braun como um Bully, e o Kevin como uma vítima.

  4. Leleco4 anos

    Umq coisa que eu não gosto no booking que WWE da ao Braun, é quando eles exageram no fato dele ser um besta imparável.

    Ele já squashou a divisão Tag Team e sobreviveu a uns 6 finishers de lutadores diferentes na Elimination Chamber.

    Sendo que ele já havia perdido combates limpos para apenas 1 finisher antes disso.

  5. Sandrojr4 anos

    Não só o booking do Strowman é assim, como também o de 80% do roster da WWE, booking levado as coxas. Ótimo artigo.

  6. Alguém que concorda com a potência do Braun!
    BUAHAHAHAHAHAHAHA
    “GET THESE HANDS”