Nem sempre terão visto reconhecida a real importância que têm na história do Wrestling – principalmente no que ás “tag teams” diz respeito – no entanto, não será exagero dizer que esta teria sido diferente sem eles: será inegável afirmar que os irmãos Matt e Jeff, os Hardy Boyz, foram revolucionários naquilo que foi uma nova forma de fazer combates de equipas.

No caminho que trilharam nem tudo foram, é certo, rosas.

Se antes muitos já tinham sido os indícios, de 2009 a 2014, os Hardys viveram um “período negro”, que viu ambos serem dispensados pela WWE e os fez cair numa espiral de desgraça, a nível pessoal, familiar e profissional, que poderia até ter acabado com as suas vidas.

Drogas, bebida e comprimidos, foram estes os ingredientes de um “cocktail” explosivo, que fez com que dois dos mais promissores wrestlers a nível Mundial acabassem numa clínica de recuperação – Matt – e na prisão – Jeff.

Daí á redenção, terá sido um tortuoso caminho…

Este tema é o foco do recém lançado documentário “The Hardys: Woken”, que o WWE Network disponibiliza desde 17 de Junho.

Aqui no Espaço do Fontes, vamos analisá-lo e perceber de forma mais aprofundada que período foi este, percorrendo cronologicamente estes 60 minutos facultados pela maior Promotora de Wrestling do planeta.

O documento começa no “Hardy Compound”: os irmãos conversam e ficamos a saber que “estavam esgotados física e mentalmente”. Nada de novo, aqui…

Somos levados á sua infância: apesar dos pais não nadarem em dinheiro, os Hardys tinham algo que faltava a muitos outros miúdos daquela idade, um espaço de terra de enormes dimensões, onde podiam exercer toda a sua criatividade.

O primeiro “talking head” a aparecer é Christian, que diz que “sempre que passavam a cortina, os Hardys tinham como que uma espécie de euforia, eram fãs de Wrestling a viver o seu sonho”.

Big Show acrescenta que “conseguiam conectar-se com a juventude da altura, representavam o “cool” , “ser cool” era ser como os Hardys”.

Os Grandes Momentos

Somos levados a 17 de Outubro de 1999, ao No Mercy e ao primeiro “Tag Team Ladder Match” de sempre.

Edge refere que durante o combate “começaram a perceber que a audiência estava a reagir” ao que Christian conclui “todos tínhamos o mesmo objetivo… roubar o show!”

Para Edge, “eramos todos muito, muito … estúpidos”, referindo-se aos perigosos “stunts” desse “match”.

E na verdade, só quando vemos de seguida e de forma encadeada, todos os incríveis “spots” em que estes dois irmãos participaram – com claro destaque para Jeff – é que percebemos de forma clara, o nível de sacrifício a que sujeitaram os seus corpos.

Imagens de Wrestlemania 16, 17 e 23 e Royal Rumble 2000, Unforgiven 2005, Summerslam 2009 e inúmeros outros “ladder” e “steel cage” matches, todos eles com momentos verdadeiramente incríveis, são prova final disso mesmo.

Edge tem uma frase determinante: “nós percebemos o perigo naquilo que fazemos, mas se fazemos algo realmente bom… se calhar queremos repeti-lo todas as noites!”

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“Burn Out”

A imagem passa para Jeff Hardy. E é aqui que verdadeiramente esta história começa.

“O trabalho, o calendário… estava a perder-me, a chegar á loucura”

Big Show afirma que “Jeff estava esgotado em 2009. Estávamos no “bus” e perguntei-lhe se estava a Oxy ( um analgésico fortíssimo e proibido). Respondeu-me que sim”.

O mais novo dos Hardy’s confessa: “estava a abusar de analgésicos, mas não culpo o Wrestling… culpo-me a mim”.

Para Matt, a história não foi diferente: “quando Jeff saiu, acabei por viver um período de lesões, o braço, a anca… o que me fazia viver em dor diariamente”.

Prova de que por esta altura – estávamos em 2010 – os irmãos passavam já por graves problemas, é um curioso segmento disponibilizado pela WWE: enquanto gravavam uma entrevista e esquecendo que tinham o microfone de lapela, ouvimos Matt e Jeff a trocar impressões. O “Brother Nero “diz para o irmão “ainda bem que tomei alguns, obrigado por me teres safado, depois pago-te”. É a namorada de Jeff quem se apercebe da situação e lhes sussurra, para que terminem aquela conversa…

Christian volta a opinar: “eles eram meus amigos, mas a verdade é que os adictos mentem… e eu estava a começar a ficar farto disso!”

De seguida, novo segmento onde percebemos a real dimensão do problema: em 2009, durante a gravação de uma entrevista e claramente sob efeito de comprimidos, Matt adormece em direto e “on camera”.

O próprio entrevistador não consegue disfarçar o seu embaraço….

Matt admite: “tomava Somas e a verdade é que cheguei a ser apanhado a dormir no catering…”

Christian volta á carga, “ele dizia-me que os tomava porque se sentia cansado, porque isto, porque aquilo, mas eu disse-lhe: Matt, só há um fim possível para isto… e tu morres nele!”

Em Outubro de 2010, a WWE dispensava Matt Hardy.

Voltamos a Jeff e á rusga que determinou um dos mais negros momentos da sua existência, a prisão. Nesse mandato são apreendidos em sua casa, 262 Vicodins, 180 Somas, 555 milímetros de esteroides anabolizantes e um montante residual de cocaína.

O “Enigma” admite: “tomava tantos que os tinha de obter ilegalmente” e conta que o fato da Polícia lhe ter arrombado a porta, com ele e a sua mulher no chão, algemados, foi a pior experiência da sua vida, quase como que um “bad dream”.

“Pensei sinceramente que iria cumprir uma sentença de vários anos e que por isso, a minha vida tinha acabado ali”.

Afinal… a TNA!

Mesmo com todos estes problemas e acusações pendentes… a TNA resolve contratá-lo em 2010.

AJ Styles e Eric Bishoff têm declarações similares: “o seu grande problema era… desaparecer! Quando davas por ela… onde é que está o Jeff? Ninguém sabia onde se tinha metido… “refere o atual Campeão da WWE.

Bishoff reforça: “muitas vezes, uma hora antes do show, ninguém sabia dele. Esta situação para alguém como eu, um produtor, é complicadíssima…”.

Hardy admite, “nesta altura era uma pessoa egoísta, pensava: eles precisam de mim, que se lixe!”.

Para que compreendamos na plenitude até onde chegava esta situação para ambos, são-nos disponibilizados dois segmentos.

No primeiro, vemos o vídeo que Jeff gravou, completamente sedado, onde diminui o estilo de vida de CM Punk, chegando ao ponto de afirmar que, se fosse como ele, “preferiria ir viver para Plutão”.

No outro, declarações de Shanne Helms. E de uma noite, em que foi convidado para jantar com Matt em casa deste: “o jantar foi por ele passado a beber garrafas e garrafas de álcool … e a tomar comprimidos. Perguntei-lhe espantado: o que é isto, Matt? Só aqui estamos os dois, não há nenhuma festa…”.

E chegamos ao incidente no Victory Road, talvez o momento mais impressionante de todo o documentário.

Jeff Hardy iria lutar contra Sting, no “main event” do pay per view , um combate aparentemente de sonho, mas que rapidamente se tornou o maior dos pesadelos.

Eric Bishoff conta que “quando tocou a sua música e vi que Jeff não estava na entrada, olhei para o meu lado esquerdo e vi o “staff” a ampará-lo. Estava completamente sedado. Deixei-o passar por mim e ir até ao ringue, mas logo que interiorizei a condição em que estava, desci a rampa e não deixei o combate começar”.

Jeff mal se aguenta em pé. Ouvimos Bishoff a segredar a Sting: “é fazer um Stinger Splash, um Scorpion Death Drop e 1,2,3… acabou”.

Em menos de 10 segundos, o combate estava terminado.

Com Jeff no chão, o olhar fulminante de Sting quase nos arranca uma lagrima: como pode um lutador descer tão baixo?

Matt Hardy não estava melhor. Somos levados até á nota de suicídio que escreveu e ao fato de Reby, a sua esposa de uma vida, o ter denunciado á Polícia: “foi a única forma que arranjei de o salvar”, afirma.

Matt é encaminhado para uma clínica de reabilitação.

Voltamos a Jeff e á sentença pelo crime que cometeu: 10 dias de prisão e multa.

São mostrados os desenhos que fez no tempo em que esteve encarcerado.

Não há como negar: é um artista.

Matt sai, entretanto, da clínica. As melhorias são mais do que visíveis.

A alegria de Reby é genuína: “neste momento ele é uma boa pessoa e um bom pai!”.

Para Jeff, o mesmo. Depois dos tempos passados na prisão, parece ter refletido e as melhoras são evidentes.

Vemos imagens deste com as filhas e um depoimento dos irmãos sobre a mãe, já falecida e que tanto amavam: foi a melhor influencia que ambos tiveram em toda a sua vida.

Espaço do Fontes #9 – The Hardys: Woken

“Broken Matt Hardy” e a Wrestlemania 33

Depois da tempestade, a bonança… ou neste caso a redenção.

Matt volta á TNA e cria a personagem mais marcante e popular da sua carreira, aproveitando todas as vivencias deste período negro na sua construção.

Somos levados ao “Final Deletion” e á explicação de que todo o segmento foi filmado numa noite – cerca de 15 horas – e que logo no dia seguinte, se começaram a aperceber do fato de se estar a tornar viral, através do “feed” do Twitter.

Algum tempo depois, o telefonema da WWE. É Michael C. Hayes quem o faz: “rapazes, nunca pensei voltar a fazer esta chamada, mas o Vince esteve a falar comigo… e estamos interessados em vocês!”

“Fast forward” para o dia 2 de Abril de 2017: Wrestlemania 33.

Existiam rumores de que os Hardy’s poderiam voltar, mas nada de concreto se sabia.

Jeff faz uma confidencia:  “dissemos propositadamente que não iriamos voltar á WWE porque queríamos que fosse uma surpresa total!”.

O mistério foi mantido até á hora de entrarem em ringue. Momentos antes são levados de autocarro até uma porta lateral no estádio. Os capuzes enterrados nas suas cabeças não deixam descortinar que se trata dos Hardy’s.

Colocam a “gear” e antes de entrar, recebem o abraço e cumprimento efusivo de Shawn Michaels, Ric Flair, John Cena e Vince “himself”.

Vão ser colocados no “Tag Team Ladder Match” pelos Títulos.

Segundos antes de entrarem, já na “Gorilla Position”, Jeff grita: “ah,ah, estamos de volta!”.

Logo que os New Day terminam a sua intervenção e os primeiros acordes da música dos Hardy’s começam a soar… o Citrus Bowl e os seus mais de 65.000 espectadores vão á loucura!

Um dos maiores “pops” da história da Wrestlemania e um momento verdadeiramente arrepiante – acreditem, só estes segundos, valeriam o  excelente documentário –  os Hardys estão de volta!

Passam imagens do combate: Matt sobe ao escadote, tira os cintos … e os irmãos são Campeões pela 7ª vez!

Mas nem tudo são rosas: Monday Night Raw, 18 de Setembro de 2017, Jeff lesiona-se e tem de ser operado.

Com o irmão no hospital, somos levados por Matt ao “Final Deletion 2”: o Hardy mais velho explica que era exatamente aquilo, o que queria fazer desde que voltou á WWE.

Depois de ter alta, Jeff volta a passar a linha: é apanhado a conduzir embriagado. Matt refere que “não falei com ele durante mais de 48 horas, fiquei louco com o que fez! Na verdade, por vezes o Jeff ainda me preocupa, sei que em relação a drogas e comprimidos está tudo bem, mas por vezes ele não consegue desligar-se da sua própria mente…”.

Vemos de seguida imagens da Wrestlemania 34 e da vitória de Matt, na Andre The Giant Memorial Battle Royal com a ajuda de Bray Wyatt.

No dia seguinte, no Raw, o regresso de Jeff Hardy.

Aos 40 anos, está de novo a viver o sonho.

O documentário termina com imagens de toda a carreira dos Hardys: desde a infância no “Hardy Coumpound”, ao “backyard wrestling” e aos seus grandes momentos e Títulos.

Meus senhores, dois wrestlers inesquecíveis, Matt e Jeff Hardy… acordaram e estão para ficar!

E vocês ?

  • Já assistiram ao “The Hardys – Woken”?
  • Qual a vossa opinião sobre os irmãos?
  • O que acham que o futuro lhes reserva?

O Espaço do Fontes volta para a semana, até lá… e que o Wrestling esteja convosco!

3 Comentários

  1. duzonraven6 anos

    Os Hardy Boyz foram talvez os mais responsáveis por eu gostar de wrestling desde criança.. via jeff se jogando de escadas, algo espetacular. Contudo foi deprimente vê-lo naquela luta contra o sting completamente chapado e sem condições… acredito que o estilo de seus wrestling tenham favorecido seus vícios em alcool e remédios… é bom ver que ambos conseguiram se reinventar com a gimmick “broken”, que por sinal caiu perfeitamente para ambos, velhos e broken de tanto se acabar em escadas e mesas, já não possuem a mesma agilidade mas ainda possuem talento e carisma!!

    • @duzonraven, obrigado por teres comentado, amigo. Tenho exatamente a mesma opinião do que tu em todos os pontos que tocas: também para mim os Hardys foram das mais – se não a mais – carismática ” tag team” de sempre e foi responsável por momentos que até hoje não mais esqueci. O combate frente ao Sting foi, em termos de Wrestling, o ponto mais baixo a que o Jeff desceu: mete pena vê-lo completamente sem condições para poder disputar aquele ” match”… Um abraço!

  2. Nickson5 anos

    Assisti esse documentário um tempinho atrás e é incrível e emocionante, The Hardy Boyz tem uma grande história de superação, e principalmente Jeff que é meu lutador favorito. Ótimo artigo 🙂